A pureza interior e física forma uma nova terra mariana
Felipe Seitenfus – Certa vez, um colega de trabalho chegou desesperado. O motivo de seu pânico era simples: havia conhecido uma garota em uma festa, papo vai, papo vem, os dois fizeram sexo e ele estava apavorado com a possibilidade de uma gravidez. Para piorar, ele não tinha o contato da moçoila.
É um retrato dos tempos atuais. Sejamos francos: as pessoas, especialmente na faixa dos vinte e tantos, tratam as relações sexuais com a banalidade das compras da semana no mercado. O sexo tornou-se um gesto comum em produções midiáticas (vide o recente Sex Education, na Netflix) e, sinceramente, acho um milagre que a universidade em que estudo não esteja lotada de bebês. Mas, isso é algo para nos assustar, ou para diminuir nosso empenho pela missão? Não! Pelo contrário, deve dar-nos força para lutar pelo que é nobre e genuíno.
A literatura católica, em se tratando de castidade e sexualidade, é ampla e variada. Dentro de Schoenstatt, o Pe. José Kentenich fez várias palestras a respeito do tema e muitas delas estão disponíveis no livro Sexualidad, don y desafío (Ed. Patris, Argentina, 2010, sem tradução ao português), organizado pelo Pe. Jonathan Niehaus. É daí que foram tiradas todas as citações presentes neste texto. Em uma delas, o Pai e Fundador faz o seguinte questionamento:
“A cultura de hoje está saturada de sexualismo, ao ponto que se torna excepcionalmente difícil preservar a pureza conforme seu estado (…). A castidade é algo atual hoje em dia? Aqui está a pergunta que nossos filhos costumam fazer, especialmente adolescentes. A castidade é algo antiquado? Toda a atmosfera não está saturada de sexualidade, a ponto de ambos os sexos serem tratados, desde a infância, de uma maneira que parece não reconhecer modéstia?” (Pg. 41)
Geralmente, quando se fala em sexualismo, nós citamos como exemplos os programas de auditório de domingo e os comerciais de cerveja, a exaustão. Mas estamos em 2019, não em 2005: os comerciais de cerveja diminuíram bastante esse tipo de apelo e os programas de auditório com conteúdo sensual hoje se concentram em menos emissoras. Em vez da sensualidade, a marca maior dele hoje é o desleixo. Predomina uma atitude de desrespeito, o culto ao corpo descontruído, roubado de seu sexo. Especialmente nas universidades, há uma necessidade quase patológica de regredir a humanidade ao seu lado mais animalesco, especialmente no trato ao sexo.
Mas, e nós?
Se você está lendo esse texto, provavelmente acha a situação atual no mínimo infeliz. Contudo, existem pessoas no Ensino Médio e Superior que decidiram ser castos, mesmo com tanto estímulo para não o ser. Por quê?
“‘Por que eu quero ser casto? Isso parece insignificante, frio, distante, rígido. Eu não quero ser rotulado como quadrado’. Observe se esta não é realmente a maneira de pensar em nossa juventude hoje. Os jovens sabem que precisam ser castos, mas têm medo de serem rotulados como desatualizados. No passado era de bom tom, mas hoje não é mais moderno” (Pg. 166)
No passado a castidade era bem vista, elogiada. Hoje, quem decide ser casto vira a chacota da turma, o saco de pancada: defender uma vida casta é tido como defender uma causa perdida. Mas isso pode ser um diferencial muito importante, que valoriza o ser humano, segundo nos diz o Pai e Fundador:
“O que estamos dizendo quando pronunciamos a palavra ‘casto’? A palavra significa ‘ser puro’. Se bebermos vinho, queremos beber vinho puro. Pense nisso no contexto da bebida: o que se sentiria se o vinho ou o leite fosse aguado? Se você quer vinho ou leite, tem que ser algo de boa qualidade e puro. Caso contrário, será algo adulterado” (Pg. 166-167)
Homens e mulheres heroicos
Lembro-me que, no Fórum Nacional do Jumas em 2017, um dos grupos de estudo – curiosamente, o que eu estava – tratou da coerência e do modo de ser de cada um de nós, como Juventude Masculina. E vários dos questionamentos giraram em torno da questão da castidade: Como devemos nos relacionar com pessoas dos outros ramos? Como devemos nos portar quando estamos conversando, por exemplo, com alguma menina da Jufem? Sobre esses questionamentos, o Pai e Fundador nos diz:
“Por exemplo, estou apaixonadamente apegado a uma penitente [a uma jovem]. Eu observo que os instintos que estão sendo despertados me empurram para baixo. Se eu, então, me esforçar para dar a Deus todo o meu amor, não posso esperar, com o tempo, gerar certa reserva para aquela penitente? Devemos expulsar todas as tentações da alma o quanto antes a atenção delas para essas coisas” (Pg. 101-102)
O exemplo é válido tanto para os meninos quanto para as meninas. Infelizmente, criou-se o hábito de pensar que castidade é uma preocupação feminina, apenas. Isso é um equívoco grave. A castidade, a pureza de alma e coração devem urgentemente tornar-se preocupação masculina também. Nós gostamos de dizer “Sê corajoso, porta-te como homem”, não? Pois a pureza e a castidade também entram na conta.
“Deixe-me dizer-lhe que muitos homens também são afetados pelo ‘amor livre’, que muitos homens são mais idealistas e sensíveis do que parecem. Um menino pode rir porque você é esquiva, mas internamente ele vai te admirar mais. Acontece que parte da natureza humana é desejar o que você não pode ter. Muitas vezes o jovem esconde sua timidez por trás de um comportamento arrogante. Quase todos os homens têm a capacidade de se distanciar internamente do que fazem” (Pg. 170)
A castidade aprofunda o amor e a alegria
Em conclusão, fica a nossa tarefa de levarmos nossa castidade, como católicos, como schoenstattianos, ainda que sejamos apenas nós lá fora. Não nos deixemos abater por isso. Acima do que os outros podem pensar, é algo que pertence a cada um de nós.
“Ser casto não significa ser inacessível, nem rejeitar o amor e a união corporal em sua vida, mas, exatamente o contrário. A castidade aprofunda o amor e a alegria na consumação do amor. Que alegria e consumação nos referimos aqui? Para a consumação do amor através da plena união corporal no tempo e da maneira conveniente. Preserva o frescor e a sensação de não estar desgastado até a hora certa” (Pg. 172-173)
* Este artigo foi resumido pelo editor, para ler o texto completo clique aqui.
Foto: Cristiane Dominico Lacerda
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