Unidos à Igreja, por uma nova ordem social
Pe. Vitor Possetti – “Fraternidade e Políticas Públicas” é o tema da Campanha da Fraternidade de 2019, com o objetivo de “estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade” (Texto Base, CF -2019, n.12).
Mas, o que são políticas públicas? São ações e programas desenvolvidos pelo Estado, em diálogo ou não com outros atores sociais, para garantir e colocar em prática os direitos (CF -2019, n. 14 – 21). Também nós podemos participar desse processo com nosso voto, escolhendo representantes e em diferentes mecanismos, como audiências públicas, conselhos (Ex. Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Mulher, da Saúde, do Idoso, da Cultura…), conferências; fóruns, reuniões, organizações, movimentos, associações, projetos, serviços, etc. (CF -2019, n. 94-100).
Em Aliança, pela nova comunidade
O Pe. José Kentenich afirma que, desde o início, a Aliança de Amor incorpora o anseio de formar homens novos na nova comunidade, mostrando uma séria preocupação em também renovar a sociedade (1;2). Chega afirmar que “se não nos introduzimos com força e vigor, como Movimento, nas engrenagens da época quando temos oportunidade de fazê-lo, teremos somente sonhado um sonho bonito de renovação do mundo” (3).
Para o Fundador, com o tempo “a comunidade de laços interiores foi sendo substituída pela comunidade de interesses” (4), sendo urgente buscar uma nova comunidade. Um no outro, um para o outro e com o outro, impulsionados pelo laço do amor (6;7), não sendo suficiente que apenas rezemos uns pelos outros, senão que, em todas circunstâncias, nos sintamos responsáveis mutuamente (8).
Políticas públicas por uma nova terra mariana
Nesse sentido, a participação no ciclo das políticas públicas (que identifica um problema; formula uma solução; toma decisões; aplica a ação e avalia os resultados) (CF-2019, n. 72) deveria estar movida pela lógica do amor, da gratuidade (Bento XVI, CV n. 34), mais além da lógica dos interesses, incluindo a dimensão da justiça (9), fundando a interação dos diferentes grupos e pessoas envolvidas nesse processo numa cultura do diálogo (CF-2019, n. 237), fazendo da diversidade uma riqueza ao conformar uma tensão criadora” (15), unindo as diferentes perspectivas e todos os esforços na defesa da dignidade de cada pessoa e na busca do bem comum.
Para isso é fundamental uma Igreja em saída, numa cultura do encontro, que “não experimenta as coisas só intelectualmente”, senão que, em contato com as pessoas e a realidade do entorno, partilha interiormente suas necessidades, sendo movida a cuidar e buscar as melhores soluções (10; 11).
Nesse sentido, o Fundador destaca a importância de “santos que respondam as questões sociais, que, estando bem unidos interiormente a Deus (dimensão fundamental), também têm animo para transformar o mundo em Aliança com Deus” (12). Somos chamados a ser “cidadãos ativo-solidários”, lutando pelos próprios direitos e pelos de todos (CF-2019, n. 177).
Compromisso para a Família de Schoenstatt
É um desafio para nossas comunidades encontrar formas de melhor acolher e acompanhar as pessoas (CF-2019, 220) que peregrinam aos nossos Santuários e se sentem chamadas à participação nas politicas públicas, em suas diferentes formas e segundo a própria vocação (CF-2019, n 178) (João Paulo II, CL, n.42)´´
Além disso, são várias as entidades animadas pela espiritualidade e pedagogia schoenstattiana em nosso país (hospitais, centros educacionais, culturais e de saúde, serviços de acolhimento e de acompanhamento, etc.) que trabalham em rede com as diversas políticas públicas municipais, estaduais e federais. Essas entidades são chamadas a ser uma espécie de “caso preclaro” (13), como fermento na massa, evitando o medo de colocar-se em contato com o mundo, conforme palavras do Fundador (14). Participando na discussão, decisão, execução e avaliação das políticas públicas e no cotidiano de suas redes, percebemos que, humildemente, temos muito a aprender e também a contribuir.
Neste ano, podemos aproximar-nos mais dessas entidades e serviços de inspiração schoenstattiana. Também considerar a possibilidade de que nossos projetos e iniciativas sociais mais pontuais (dos diversos grupos, comunidades, etc.) possam dialogar com as políticas públicas ou serviços mais consolidados, buscando somar forças em vista da garantia de direitos e da promoção da dignidade das pessoas de modo mais consistente.
Tal participação, guiada pela lei da porta aberta e pela Fé Prática na Divina Providência, busca “ver até o fundo os acontecimentos concretos para descobrir as forças criadoras e destrutoras do acontecer, intervindo assim criadoramente na historia” (16), iluminados pela Palavra de Deus e o magistério da Igreja, especialmente sua Doutrina Social. Nesse sentido, no interior desse processo, são muito importantes os momentos de meditação, oração, estudo, discernimento pessoal e comunitário. Uma atuação no espaço público, sem discernimento na fé e vida de oração, corre sério risco de converter-se num ativismo meramente materialista ou em autopromoção.
A participação ativa na sociedade pode expressar um modo concreto de amar a Deus e ao próximo (17) e uma dimensão importante da cultura da Aliança. A Campanha da Fraternidade deste ano põe no centro da discussão o tema das políticas públicas. Será essa uma voz de Deus para nosso tempo? Qual pode ser nossa resposta?
Referências:
Campanha da fraternidade 2019 – Texto Base
Bento XVI ,Caritas in Veritate
João Paulo II, Cristifidelis laici
Francisco. Vaticano, 11 de fevereiro de 2019 (ref. 17)
Padre José Kentenich,. Desafío Social, Editorial Schoenstatt, 1996. (ref. 3;4;5;9;12;14)
Kentenich En libertad ser plenamente hombres, Herbert King, ed. Nueva Patris, Chile, 2011 (ref. 2), Milwaukee Terziat (1963), versión en español / digital, Schoenstatt, 2005, (ref. 1;6)
Kentenich Rumo ao Céu (ref. 7)
Kentenich Mi filosofía de la educación, Editorial Schoenstatt, Chile, 1985 (ref. 7; 15)
Kentenich, Principios generales del movimiento Apostólico de Schoenstatt, 1927., Instituto Secular de Schoenstatt Hermanas de María, Edición 1995, (ref. 8)
Kentenich. Retiro sobre la lucha por la verdadera libertad, 1946, in Aproximación en el PK a la opción preferencial por los pobres, P. Pablo Catoggio, 1987 (ref. 10;11)
Kentenich Idea directriz y fuerzas Propulsoras de la Familia de Schoenstatt, P. José Kentenich (1952); Hermanas de María, Bellavista 1979 (ref. 13)
Kentenich en Dios Presente, Nueva Patris, Santiago-Chile (ref.16)
Fotos: Neivaldo Moraes
Artigo excelente! Só informação de qualidade, meus parabéns ao autor (a), é esse tipo de informação que me leva a ler todos os dias temas como este.