Testemunho de Patrícia Mirelly, jornalista, repórter na Diocese de Crato/CE e devota da Mãe Peregrina de Schoenstatt, sobre o Dia da Aliança de Amor.
Dezoito de cada mês. No meu baú de lembranças, ao cair da tarde, a Comunidade de Santo Agostinho, em Porteiras/CE, reunida na capela para o “Encontro da Mãe Rainha”. Encontro, porque, neste dia, as duas imagens que peregrinavam pela vila eram organizadas uma ao lado da outra, numa mesa miúda, mas devidamente ornada com flores naturais e toalha de cetim, que minha tia fazia questão de usar.
Eu contava dez anos quando comecei a ajudar na Liturgia, embora minha participação se tenha dado ainda nos primeiros anos de vida. Para meus pais, o “Dia da Aliança” sempre fora preceito. Para a Comunidade, dia santo. E sempre sentávamos nas primeiras fileiras. Meu pai permanecia o tempo todo compenetrado, orante. Ali rezávamos o terço, celebrávamos a Palavra, renovávamos a Aliança e depois cantávamos, a plenos pulmões, o hino de “Mãe Peregrina”, como carinhosamente a chamávamos.
A mesma lembrança me vem quando da visita dela à “nossa casa, também santuário”. “Vivendo a aliança, teu santo convênio”, lá estávamos, nós quatro. Meu pai era o primeiro a recebê-la. Era fins de tarde, hora em que ele chegava da roça. Muito devoto, tirava o chapéu da cabeça, segurava-o junto ao peito, tocava a imagem e beijava-a, numa piedade de comover até o coração mais descrente. Depois, sentávamos em torno dela, na mesa da sala, “rezando e vivendo o santo rosário”.
Enquanto meu pai acendia a vela e minha mãe buscava o terço na cabeceira da cama, eu localizava, no livrinho azul marinho, a “Oração de Recepção”, que ainda hoje tenho em mente, palavra por palavra, assim como a “Oração de Despedida”. Meu irmão, embora mais reservado, rezava, piedosamente, todos os mistérios.
No outro dia, quando o sol era encoberto pela chapada, lá pelas cinco da tarde, eu acompanhava minha mãe, que ia “deixar a Mãe Rainha” e “tirar” o terço na casa de uma vizinha, que não sabia ler. A casa ficava no alto da vila. Era miúda e de poucas janelas. A dona se escorava numa “cadeira de macarrão” (espaguete, fio) e bocejava ainda no “Oferecimento”. Na primeira dezena, cochilava. Na terceira, roncava. Alto. Forte. Só acordava ao fim da oração, quando já cantávamos o Hino. E nunca acertava a estrofe: “A tua presença [em lugar de “visita”] aquece e ilumina…”. Ninguém na sala aguentava. Até ela ria. Mas era riso inocente.
Recordar o dia dezoito de cada mês, sempre me faz intuir o quanto uma infância, regada pela fé, é baluarte que ressignifica a vida e os valores que a iluminam, enquanto “rumamos ao tempo que se descortina”.
Feliz Dia da Aliança!
Fonte: diocesedecrato.org
Foto: Antonio Teixeira, Schoenstatt Portugal