“Vai e não tornes a pecar” (Jo 8, 1-11)
Pe. Francisco José Lemes – Aproxima-se a Festa da Páscoa e a temática deste domingo é a misericórdia, diante da dureza da lei e mais, da dureza dos corações que olham a aparência sem olhar para o interior das pessoas.
Nessa bela página do evangelista São João, Jesus é tentado pelos seus interlocutores que o põe a prova diante da lei e de seu jeito misericordioso e amável para com os pecadores. Trazem diante dele uma mulher flagrada em adultério, lançada à frente dele na mais profunda humilhação. No centro dos olhares duros e dos corações em fúria, ficam Jesus e a mulher. Ele se agacha, com o dedo faz rabiscos ao chão… A mulher, à espera das pedradas, geme interiormente, mas, ao mesmo tempo, sente que está diante de um homem que não quer seus serviços sexuais, um homem diferente de todos que já passaram por sua vida. Serenamente ele se levanta, lança um olhar para todos e dá a sentença, “quem não tiver pecado atire a primeira pedra” – começando pelos mais velhos, um a um vai deixando aquele recinto.
Jesus se vê a sós com a mulher. Um silêncio que a faz rever toda a sua vida, diante daquele que a despediria com uma absolvição que a libertaria da vida que até então levava: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar” (Jo 8, 1-11). Jesus nos dá a lição da misericórdia, que não está para “passar a mão na cabeça”, mas levar a uma mudança de vida. “Vá e não tornes mais a pecar”, eis o desafio dela e de todos os que experimentam a misericórdia de Deus, principalmente no sacramento da Confissão. Tomar a atitude séria de não mais pecar e nem, tampouco, procurar outros pecados. O desafio é “não pecar mais”. Papa Francisco já nos fala que o confessionário não é “lavanderia de pecados”, ou lugar de se ter medo; mas, esse espaço onde eu e a misericórdia nos encontramos, e de onde saímos com um desejo de ser santo como nosso “Deus é santo”.
(Foto: Kathleen Peterson, via pinterest.com)
Antes de julgar alguém, ou de lhe atirar uma pedra, olhemos para nossa vida, examinemos nossa consciência e nossas atitudes. Desse modo nossas pedras cairão e aí teremos compaixão daqueles que julgamos, desejando a paz que reconcilia, ao dar continuidade na vida com relações mais sadias e envolvidas no amor misericordioso de Jesus – que não nos condena, mas quer uma mudança sincera e reta de nossa vida.
Pe. José Kentenich, diante das dificuldades que lhe foram colocadas para a fundação de uma Congregação Mariana no Seminário Palotino – que mais tarde levaria à fundação de Schoenstatt – não desanimou diante dos que não viam com bons olhos seu novo modo de pedagogia aplicado aos jovens seminaristas. Queriam “atirar-lhe pedras”, mas ele sempre foi fiel à sua “ideia predileta”. Diante dos que o julgavam e o colocavam à prova, sempre acreditou nos planos de Deus e na sua Divina Providência e Misericórdia.
Como Jesus, não condenou aqueles que o queriam condenar, mas amou – como mostra Jesus nesta página do evangelho deste domingo. Nem sempre é fácil amar quem nos quer condenar ou atirar pedras, mas, quando mergulhamos no coração misericordioso de Jesus, somos misericordiosos!