Mário é coordenador diocesano da Mãe Peregrina
Testemunhos de quem viveu o amor da Mãe na solidão da infância
Karen Bueno – Certa vez uma mãe necessitada, com condição financeira precária, se vê obrigada a deixar o filho num abrigo social, criado para acolher crianças em situação vulnerável. O menino, já sem o amparo dessa mãe que ele tanto amava, encontra acolhida na Mãe de Deus e um caminho de vida todo especial por meio da Obra de Schoenstatt.
Até lembra… mas, não! Não estamos narrando a vida do Pe. José Kentenich. Essa história é muito semelhante, mas, na verdade, é sobre Mário Marques e sobre como a vida dele se cruzou com a espiritualidade do Pe. Kentenich. Mario atualmente tem 40 anos e é coordenador diocesano da Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt na Diocese de Campo Limpo, São Paulo/SP.
Na infância, Mario viveu em um abrigo e, orientado pela Família de Schoenstatt, descobriu que Deus é Pai, que Maria é Mãe e que estão sempre junto dele. A experiência vivida e ensinada pelo Pe. José Kentenich ecoou na vida desse menino.
“Já que não tinha a minha mãe por perto, me aproximei de Nossa Senhora”
Entre 1982 a 1993, as Irmãs de Maria de Schoenstatt de Atibaia/SP dirigiram o Preventório Imaculada Conceição, na cidade de Bragança Paulista/SP. A instituição acolhia crianças e adolescentes em situação vulnerável, afastadas da família por ordem judicial. “Minha mãe e meu pai não tinham condições de nos manter, por questões financeiras, então, por meio de uma senhora que era voluntária no Preventório, nós ficamos conhecendo esse lugar”.
Dentre os cinco filhos da família Marques, os três mais novos ficaram no Preventório, como ele recorda: “Todo mês nossa mãe ia nos visitar e no final do ano, nas férias, a gente ia para casa”. Assim como o Pe. Kentenich – e seguindo os passos do Fundador, segundo as Irmãs de Maria lhe mostravam – na infância Mario esbarrou-se com as dificuldades e fez delas um caminho para o alto: “No começo foi muito difícil, porque as refeições eram sempre junto com todos, não tínhamos, por exemplo, festa de aniversário em família e o carinho da mãe. Foi por isso que me aproximei de Nossa Senhora. Foi ela que me acolheu e me amparou, que cuidou de mim quando a minha mãe já não estava mais presente. Me apeguei muito com Nossa Senhora, já que não tinha a minha mãe mais por perto”.
Os frutos dessa experiência se desdobram hoje na Diocese de Campo Limpo: “Eu conheci pouco sobre a história do Pe. Kentenich, pois, como éramos crianças, as Irmãs não aprofundavam muito com a gente, mas guardo tudo o que nós aprendemos e hoje uso isso na formação dos missionários e coordenadores da minha Diocese. Hoje trabalho a parte de formação com eles, como o Congresso de Hoerde e a construção da nova terra mariana, quero passar tudo o que aprendi”.
“Trabalhar ali é tudo para mim”
A ‘Tia Bia’ também tem muito para contar sobre uma infância consagrada à Mãe de Deus. Ela foi a primeira menina que ingressou no Centro Educacional Catarina Kentenich, no bairro do Jaraguá, em São Paulo. No ano de 1996 os Padres de Schoenstatt abriram as portas dessa instituição que, entre outras atividades, acolhe crianças afastadas provisoriamente do convívio familiar por medida protetiva.
A Tia Bia, Patricia Borges, chegou ao Centro em 11 de abril de 1996. No dia seguinte – data da inauguração do lugar – vieram seus dois irmãos. Ela explica: “Minha mãe faleceu e nossa família não tinha condições de cuidar da gente. No início eu fiquei morando com algumas pessoas, mas não deu certo, então o Fórum nos mandou para lá. Deus foi encaminhando tudo até eu chegar a esse abrigo. Fui junto com meus dois irmãos. Eu cheguei no dia 11 e eles chegaram no dia 12 de abril, quando foi inaugurado, justamente no dia em que o Pe. Kentenich foi deixado no orfanato. Eu tinha 17 anos”.
Como aconteceu com o Pe. Kentenich na infância, ali ela também se deparou com o doce amor da Mãe de Deus: “Nossa Senhora me ajudou muito. Tantas vezes eu ajoelhei na capela e, na hora do desespero, pedia para ela cuidar de mim e dos meus irmãos – porque eu também tinha irmãos fora do abrigo. Também pedia que ela me ajudasse a conhecer uma pessoa boa, que cuidasse de mim no futuro, e hoje sou casada, tenho a minha família”.
Patricia sempre visita o Santuário Sião e guarda boas lembranças da formação que teve com a Família de Schoenstatt. É por isso que, até hoje, ela trabalha no Centro Catarina Kentenich, hoje transmitindo para as crianças tudo o que aprendeu um dia: “É uma troca de amor, de carinho, porque a gente acaba se envolvendo com outras histórias e você percebe que o que passou não é nem a metade do que as crianças estão passando. Trabalhar ali é tudo para mim”.
Herança do Pai para os filhos
As vidas de Mario e Patrícia mostram que a experiência vivida pelo Pe. José Kentenich continua dando frutos. Nas horas de solidão e abandono, o Fundador nos direciona a descobrir o doce olhar de Mãe que cuida pessoalmente de cada filho, como Educadora.
“Lançando um olhar ao passado, posso afirmar que não conheço ninguém que tenha exercido uma influência mais profunda sobre o meu desenvolvimento. Milhões de pessoas não resistiriam se ficassem reduzidas a si mesmas como eu o fiquei. Eu tive que crescer na total solidão interior, porque em mim devia nascer um mundo que mais tarde precisava ser levado adiante e comunicado a outros. Se minha alma tivesse entrado em contato com a cultura de então, hoje eu não poderia dizer com tanta certeza que minha educação foi exclusivamente obra da Mãe de Deus, sem qualquer outra influência humana mais profunda”. [1]
[1] Pe. José Kentenich. Chamado por Deus, consagrado a Deus, enviado por Deus – Textos escolhidos do Padre José Kentenich sobre o sacerdócio. A fecundidade do amor a Maria. Editor Peter Wolf. Sociedade Mãe e Rainha. Santa Maria: 2009.