Há 100 anos em sintonia com a Igreja missionária
Geni Maria Hoss – O apostolado em todos os campos possíveis é um legado fundamental do Congresso de Hoerde. Para estar à altura deste propósito, os jovens estabeleceram como meta da União Apostólica de Schoenstatt “a educação de apóstolos leigos no espírito da Igreja”. [1]
Um dos grandes líderes do Congresso de Hoerde, Fritz Ernst, diz a respeito da missão: “Com a coragem de um Paulo no Areópago devemos engajar-nos por bens mais elevados, devemos tornar-nos fermento na massa, uma coluna de fogo [sagrado], que ilumina o caminho que atravessa a moderna superficialidade e escuridão.”[2]
O fermento faz a massa crescer silenciosamente e, a partir do interior, a luz irradia e atrai a atenção de fora. A vida interior é muito importante, mas a dimensão exterior, o sair para o mundo para conquistar as pessoas para a luz divina é igualmente uma dimensão relevante da missão. Fritz Ernst completa: “O caminho da nossa missão começa com o apostolado em nós mesmos para a concretização das palavras do Apóstolo: Fieri volo alter Christus” [eu quero ser um outro Cristo]. [3] O apostolado é mais do que um conjunto de palavras eloquentes, bem articuladas, ele é, sobretudo, expressão do encontro pessoal com Cristo.
“Posso fazê-lo pela palavra, mas o apostolado do ser é o mais importante”
Numa palestra em Roma, o Pe. José Kentenich diz que o apostolado “não consiste, em primeiro lugar, em pregação por palavras. Nós devemos representar uma corrente de vida, precisamos irradiar atmosfera santificada e religiosa. Isso é algo discreto, mas é extraordinariamente eficaz, ou melhor, é o apostolado mais eficaz possível”. Ele continua: “É o interior que transborda, é o transbordamento da plenitude interior cristã, a plenitude da vida divina. […] Eu transmito a vida. Posso fazê-lo pela palavra, mas o apostolado do ser é o mais importante.” [4] Na Encíclica Deus caritas est, o Papa Bento XVI chama a atenção para aquilo que é essencial para o autêntico apóstolo: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” [5] Neste sentido, o Papa Francisco afirma: “Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não só com palavras, mas, sobretudo, com uma vida transfigurada pela presença de Deus.” [6]
O apostolado deve nascer da experiência interior do encontro com Deus, se expressar em ações concretas, sempre alinhadas ao espírito da Igreja.
João Paulo II motivou os cristãos a se lançarem mar adentro: “Duc in altum!” (Lk 5,4). Isso requer coragem para ir ao encontro de todos que se encontram em condições desafiadoras. Ali é lugar da missão da Igreja, de sua presença transformadora. “Caritas Christi urget nos!” (2 Cor 5,14). A caridade de Cristo nos impulsiona para, com a Igreja e para a Igreja, sermos apóstolos em saída. O Papa Francisco nos conclama para nos colocarmos em movimento rumo às periferias existenciais. Ele diz: “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.” [7] Ele continua: “Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’, em todas as regiões da terra.” [8]
O apelo do Magistério nas últimas décadas reflete a imagem da Igreja do Concílio Vaticano II. Igreja que o Pe. José Kentenich descreve assim: “A Igreja que temos diante de nós hoje é uma Igreja peregrina […], é um barco que é enviado ao alto mar. Em relação ao passado, trata-se de uma Igreja extraordinariamente dinâmica.” Mais tarde, ele continua nesta linha de pensamentos: “A Igreja [é] o barco em alto mar, no meio da tempestade, e este barco atravessa todo o oceano, todo o mundo para acolher as pessoas em todos os lugares.” [9]
Perspectivas atuais de um Congresso centenário
Voltando a Hoerde, as reflexões e decisões dos jovens se deram na perspectiva da concepção de Igreja a ser confirmada no Concílio Vaticano II: de um lado, profundamente arraigada em seu fundamento último, Cristo, de outro, sempre em saída, em “estado permanente de missão”, uma Igreja em movimento, Igreja peregrina, para alcançar os recônditos mais distantes onde se encontram pessoas que necessitam de testemunho e ação dos cristãos, sinais do Reino no meio do mundo.
Todas as realidades humanas são objeto de cuidado e lugar de missão da Igreja [10]. Por isso, urge que o espírito de Hoerde se renove e afirme com vigor nos novos areópagos de missão hoje. É urgente a promoção de uma cultura da vida, numa sociedade na qual se apresentam muitos sinais de morte. É necessário criar e difundir uma cultura de encontro, de aliança, onde há muitos desencontros e divisões. É preciso promover uma rede global da comunicação solidária e de respeito à dignidade humana. É necessário um olhar e agir humanitários no campo do trabalho para que esta atividade humana contribua sempre para a realização, felicidade e vida digna dos trabalhadores e suas famílias. É imprescindível que os cristãos sejam protagonistas no cuidado da casa comum, da criação. Todos esses âmbitos e outros tantos constituem a doutrina social da Igreja (DSI). Ao mesmo tempo, na forma própria de seu tempo, encontramos relevantes pontos desse tema abordados na Santidade de Todos os Dias. Apostolado pressupõe a contínua aspiração ao mais elevado grau de santidade e o esforço para alcançar a santidade no cotidiano se expressa por meio de ações apostólicas edificantes.
“A Igreja cresce, não por proselitismo, mas por atração, isto é, por testemunho!” [11]
Referências:
[1] Hörder Dokumente. 1919 Hörde-Schoenstatt 1969. (Manuskript), 1969, p.78.
[2] Hörder Dokumente. 1919 Hörde-Schoenstatt 1969. (Manuskript), 1969, p. 76.
[3] Hörder Dokumente. 1919 Hörde-Schoenstatt 1969. (Manuskript), 1969, p. 77.
[4] Josef Kentenich. Romvorträge III: Vortrag 08. 12. 1965. (Publicação: 2018, CD)
[5] Bento XVI. Deus Caritas Est, 2005, n. 1.
[6] Papa Francisco. Evangelii Gaudium, 2013, n. 259.
[7] Papa Francisco. Evangelii Gaudium, 2013, n. 8.
[8] Papa Francisco. Evangelii Gaudium, 2013, n. 25.
[9] Josef Kentenich. Eine dynamische Kirche: Erster Vortrag vom 10. Februar 1968. Disponível em: https://www.j-k-i.de/gwdk201011-7-14-eine-dynamische-kirche/?pdf=6734.
[10] Cf. Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 1965, n. 1.
[11] Bento XVI. Abertura da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano. Aparecida, 2007.
Foto: Schoenstatt International Communication Office 2014