Um convite para refletirmos sobre os Pedagogos e o Pe. Kentenich.
Rosana de Sousa Pereira Lopes – No dia 20 de maio comemoramos duas datas, a volta do Pe. José Kentenich do campo de concentração de Dachau, depois de três anos e meio, e o Dia do Pedagogo. Para início da nossa reflexão, retomo o Hino de Gratidão, no qual afirmou: “Para que surjam homens novos, livres e fortes aqui na terra
que, nas alegrias e dificuldades, procedam como Cristo”. (Kentenich, 1945)
Pe. Kentenich demonstra, por sua atitude e amor incondicional àqueles por quem era responsável, que os sacrifícios vividos em Dachau não são motivo de lamentações. Em seu retorno, fortalecido pelos sacrifícios, comemora a continuidade da sua missão, pelo ideal maior “educar homens novos, livres e fortes”.
E como o fez? Ao longo de sua vida, Kentenich, direta ou indiretamente, indicou as características do processo educativo, que construiu por meio de seus pronunciamentos ou atitudes.
Kentenich, consciente de que não se educa quem não quer ser educado, convida seus educandos para a construção de um processo educativo coletivo. Dos adolescentes, em (1912), até a constituição de todos os ramos da Obra de Schoenstatt, Kentenich convidou, construiu junto, acreditou, serviu, confiou, estabeleceu vínculos, contou com as suas capacidades de transformação e, acima de tudo, amou as pessoas no mundo, objetivando conduzi-las a Deus.
Ensinar, para Kentenich, é um processo que envolve o respeito ao educando.
Não se constitui em uma ação isolada: daquele que sabe para o que não sabe. Ao contrário, a ação de ensinar, para Kentenich, pressupõe respeito ao educando, crença em suas capacidades. O Documento de Pré-Fundação (1912) indica explicitamente esse entendimento: “Não eu, mas, nós queremos”. Ressalta-se que, no início do século XX, tal postura não era a prática nos ambientes escolares. No entanto, em meio aos desafios de educar adolescentes ditos “rebeldes”, Kentenich convida a construção de um processo coletivo, coloca-se a serviço e confia.
Aprender, para Kentenich, é também um processo vital e personalizado.
É iniciativa dos educandos, que devem querer aprender a “autoeducação para o autoconhecimento”. A saber: “Queremos aprender a autoeducar-nos para sermos personalidades” (1912). A aprendizagem é um processo coletivo em que as bases iniciais são a confiança e a vinculação entre educando e educadores.
O saber, para Kentenich, envolve os conhecimentos das ciências, da vida social, o autoconhecimento e o cultivo da vida espiritual. Kentenich compreende que as transformações e as conquistas humanas são benefícios que fortalecem o conhecimento e domínio do mundo interior – o que denomina de “microcosmos” – e alimentam o conhecimento e desenvolvimento do mundo exterior, o que denomina de “macrocosmos”. Ciência, vida social, autoconhecimento favorecem e fortalecem a Vida Espiritual. Reconhece a interdependência que há entre estes mundos e não os concebe como mundos independentes ou isolados.
O educador para Kentenich é uma autoridade,
uma pessoa autorizada a conduzir a vida de seus educandos. No entanto, essa não é a conjugação do verbo “mandar”, e sim do verbo “servir”. Kentenich, por suas atitudes, ao longo da vida, como educador e pedagogo, evitou o mando, indicou a postura de servo, a exemplo de Maria: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38). Serviu a Obra de Schoenstatt e a Igreja. A sua autoridade decorre do servir para ser respeitado.
Educar é servir
As estratégias metodológicas demonstram claramente a atitude do serviço. Para Kentenich o processo educativo é construído por meio de cincos estratégias, chamadas de estrelas da pedagogia de Schoenstatt. São elas:
Movimento – indica o reconhecimento a constante transformação dos educandos, do conhecimento, do contexto social e de si mesmo como educador. A vida está em constante transformação.
Confiança – indicação de que não há processo educativo sem relação de confiança entre professor e estudante.
Vinculação – o professor precisa sentir-se corresponsável pelo desenvolvimento do estudante e, por conseguinte, o estudante também responsável. O sentimento de pertencimento é essencial para o processo educativo.
Ideal – por meio do processo de autoconhecimento e autoeducação, estudantes e professores coletivamente almejam a plenitude de seu desenvolvimento, nas dimensões espirituais, psicossociais e científico-culturais. Como decorrência desses processos;
Aliança – Pe. Kentenich aponta para um processo educativo que devem orientar os educandos para Maria e para Deus. Já que somos seus filhos.
A nós pedagogos, cientistas da educação, retomando a etimologia da palavra, “aqueles que conduzem e/ou, guiam”, podemos apender com Kentenich que aquele que guia é o responsável pelos que conduz. No contexto educacional brasileiro, constantemente, vivemos “pequenos dachaus” cotidianos. O que nos cabe? Acreditar na nossa missão. Ainda que os desafios e sofrimentos possam parecer maiores do que podemos enfrentar, Kentenich nos indica que somos capazes, que nosso objetivo não pode ser perdido. E qual é o objetivo? Favorecer o desenvolvimento de homens novos, livres e fortes… por meio do processo de autoeducação, a favor da vida, que ao fim, é a favor de Deus. Essas precisam ser nossas convicções.
Prof. Dra. Rosana de Sousa Pereira Lopes, Chefe do Departamento de Educação, Comunicação e Artes na Universidade Estadual de Londrina/PR