Quem serão os homens novos a salvar o mundo?
Felipe Seitenfus – Há exatamente um ano, o filme “Vingadores: Ultimato” tornava-se um fenômeno de alcance público. Sua estreia ocupou 80% das salas de cinema do Brasil e, apenas no primeiro fim de semana, faturou US$ 1,2 bilhão mundo afora. Seu impacto ultrapassou as barreiras de idade e sexo e muitos chegaram a virar a madrugada para assistir ao filme. No meu círculo de amigos, praticamente não se falava em outra coisa por semanas!
Particularmente, não sou um grande fã de super-heróis. Sempre preferi obras em que os protagonistas têm personalidade dúbia, seu psicológico é complexo, seu passado é problemático, apanham, sofrem horrores e, mesmo com tudo isso, conseguem chegar lá. Mas, há algo que une o meu gosto e o gosto de quem foi assistir “Vingadores”: A procura por heróis. Não apenas no sentido “super” da coisa, mas no sentido de referência, um espelho. E por quê?
É uma tendência humana procurar âncoras desde sempre. No início da vida, as pessoas ‘dotadas de superpoderes’, que nos protegem e impulsionam ao heroísmo, são nossos pais e familiares mais próximos. Ao longo do tempo, vamos encontrando novas referências, novos rostos e ideais. Numa atmosfera muitas vezes sufocante, que isola o ser humano no meio da multidão, a procura por espelhos, por heróis, algo que sirva de socorro para as angústias aumentou consideravelmente. Podemos notar isso ao ver as convenções de games, animes e afins tomados por Cosplayers, cujo número de participantes cresce ano a ano (como, por exemplo, na Comic Con São Paulo, a maior do mundo). Também não é de se admirar que a maioria dos filmes e séries de sucesso hoje em dia tenham um pé no realismo fantástico, nos super-heróis.
Tudo isso, nos casos mais variados, pode ser sintoma de fuga, negação, de um escape. Mas, será que é só isso? Não. Também revela o natural anseio humano de encontrar referências heroicas. O número de expectadores nos cinemas, ou diante das series de televisão que vão nessa linha, indica, de certo modo, a procura por exemplos morais que, pelas suas virtudes, transformam o lugar em que vivem, ou mesmo o mundo.
Em busca de novos herois
Diante da carência de personalidades que nos inspirem, Schoenstatt nos apresenta uma galeria de super-heróis que se tornaram modelos. José Engling, Ir. M. Emilie Engel, Mário Hiriart, Bárbara Kast, João Pozzobon, o próprio Pe. José Kentenich. Todos eles (e vários outros) são considerados “heróis” pelos mesmos motivos que os Vingadores – são um exemplo, uma âncora, pessoas a serem espelhos e referências para nós. A diferença é que os heróis da Marvel são resultado da ficção, enquanto que nossos modelos schoenstattianos foram pessoas de carne e osso, com virtudes e falhas; eles, por meio da autoeducação contínua e da fiel Aliança com a Mãe Admirável, tornaram-se exemplos de fé, de coragem e testemunho, enfrentando todo desafio possível pela obra da Igreja, pela Obra de Schoenstatt.
E nós, cristãos católicos, hoje? Sabemos de todos os problemas que nos cercam, que nossas individualidades são cerceadas, que nosso espírito tende a se sentir perdido na bagunça que se tornou a mentalidade moderna. Como os demais, procuramos heróis. Mas com atenção especial, heróis que, por meio de seu exemplo, contribuíram com o plano divino, que foram peça-chave no crescimento daqueles ao seu redor, que, com seus ideais, conseguiram ligar Deus ao mundo e o mundo a Deus, como nós devemos também fazer.
Assim como eles, hoje somos nós que precisamos buscar essa vida heroica, que é modelo para os demais. E para isso, segundo nosso Pai e Fundador, “somente um grande amor a Deus pode gerar esta força motriz e determinar a intensidade desta luta e aspiração heroica da vida cotidiana”. Pois o amor apresenta “a tendência ao heroísmo. Vive de uma elevada aspiração e de ações heroicas. Em sua tarefa cotidiana vive de anelos heroicos e de ações heroicas” [1].
Nós, pessoas comuns, não carregamos um escudo, um martelo ou uma armadura de alta tecnologia. Entretanto, temos o elemento mais precioso que nos nutre e fortalece: o genuíno “herói”, que lutou, deu a vida por nós e assim se fez carne. Ele é a verdadeira âncora, o espelho que devemos ter em nossa frente. Segundo o Pe. Kentenich, “herói é quem consagra sua vida a algo grande” e, ao “recebermos Jesus na sagrada comunhão, ele cuidará que se torne plenamente realidade o que hoje esperamos e prometemos” [2].
[1] NAILIS, Dra. M. A. Santidade de Todos os Dias – Espiritualidade Laical de Schoenstatt, vol 1.
[2] KENTENICH, Pe. José. Eu saúdo os Lírios. Col Jufem Brasil, vol 1. 18/01/1949
Foto: Pat Loika