A Carta do Padre Kentenich aos Dirigentes de Grupo da União Apostólica (1919)
Jorge e Márcia Audibert – Estamos chegando ao Centenário do Congresso de Hoerde. Um dos documentos mais fascinantes que temos daquela época é a Carta aos Dirigentes de Grupo da União Apostólica, produzida pelo Pe. José Kentenich em 6 de novembro de 1919, pouco menos de três meses após o Congresso. A Carta é fascinante por vários motivos, mas, principalmente, pela sua densidade profética, no sentido da semelhança com os dias atuais. Como poderia um homem interpretar o presente e o futuro não só da União, mas de toda a humanidade, com tanta clareza e em tão poucos parágrafos?
Pe. Kentenich, de forma muita humana, começa a Carta alertando os Dirigentes de Grupo sobre certa paralisia que ocorria com os jovens após o Congresso de Hoerde. Um dos motivos alegados seriam adaptações ao ambiente universitário, mas o fator principal seria a “insegurança acerca dos fundamentos de nossos esforços” (P.K.). O entendimento dos jovens ainda era incipiente diante da grandeza da missão em que estavam se envolvendo e se fazia necessário apressar a finalização dos estatutos produzidos no Congresso. Para motivar os jovens, Pe. Kentenich utiliza uma expressão de Dom Michael von Faulhaber e conhecida dos unionistas: “Despertai! Despertai! E despertai-vos mutuamente!”.
Em toda a Carta se faz referência à missão da União Apostólica, objetivando combater o mal que estava corroendo a cultura e o pensamento humano: a ausência de uma vida interior sadia, capaz de fazer frente à massificação avassaladora que acontece com o ser humano: “… a todo o nosso cristianismo atual falta interioridade” (P.K.). Em sua Carta, Pe. Kentenich faz citação de outro autor, Weiss, para esclarecer progressivamente a importância de um cultivo de vida interior: “O mal está no enfraquecimento, sim, no definhamento da vida interior. Um mal deste tipo não pode ser curado com ações exteriores, mas somente fazendo despertar de novo no mundo a vida espiritual”.
Continuando sua Carta, Pe. Kentenich cita novamente a importância da missão a ser assumida: “Sobreveio a guerra e a revolução. Uma e outra levaram ao extremo a superficialidade e a exterioridade. Sabemo-lo por nossa própria observação e experiência. Em meio a este caos, nós definimos um programa que equivale a uma solene opção pela vida interior”.
Estarão prontos a lançar-se ao fogo?
A Carta redigida para os Dirigentes da União Apostólica é tão rica e explicativa que sua leitura lança luz para nossos olhos anuviados pelos acontecimentos mundiais. Diante da importância da missão assumida por aqueles jovens, seria difícil não entregá-la também nas mãos da Mãe de Deus: “Uma serena avaliação do desenvolvimento até agora permite chegar à conclusão: nossa MTA quer utilizar-nos como instrumentos para a renovação do mundo”. Mas o autor da Carta deixa uma dúvida: “nossos dirigentes serão plenamente confiáveis, estarão prontos a lançar-se ao fogo pela União, como corresponde a uma causa tão elevada?”
A Carta é concluída tal como começou, ou seja, com um novo alerta sobre a necessidade de uma entrega absoluta para construção de uma nova comunidade a partir do cultivo da vida interior: “Por isso, mais uma vez: Despertai! Despertai! E despertai-vos mutuamente!”.
Cem anos mais tarde, podemos nos questionar: quanto nós avançamos no entendimento da missão e da necessidade de um cultivo de vida interior sadia para construção da Cultura da Aliança de Amor?
Foto: Jumas Brasil