A maternidade como fruto da filialidade
Ir. Neiva Maria Pavlak – “Sou uma mãe única. Porque mais ninguém neste mundo viveu o que eu vivi. Mais ninguém neste mundo tem a minha vida, a minha bagagem emocional, as minhas experiências. Acima de tudo, mais ninguém conhece os meus filhos como eu. Mas, há uma parte de mim, uma parte importante, que eu devo aos meus pais. Porque, antes de ser mãe, eu fui e sou uma filha. Porque antes de ser mãe, eu vi ser mãe. E eu deixo que isso me guie, porque eu sei o que é sentir segurança, apoio incondicional”. [*]
O testemunho acima vem de uma mãe/filha que conta sua experiência de maternidade apoiada na filialidade.
Em seu sistema pedagógico, Pe. José Kentenich dá especial destaque ao cultivo da filialidade. Ele a considera o fundamento essencial da nossa espiritualidade mariana. Ele também vê, em Maria, a filha singela e autêntica do Pai eterno. Porque se fez filha, Maria foi capaz de dar um ‘sim’ ousado e fiel ao chamado de Deus. Ela é modelo para todas as mulheres, tanto para aquelas que vivem a maternidade biológica, pelo sacramento do Matrimônio, como para as que são chamadas à vida consagrada e, assim, podem exercer a maternidade espiritual.
O testemunho acima e as palavras do Pe. Kentenich conduzem a uma reflexão central: torna-se muito difícil para uma mulher viver a maternidade em sua plenitude se não tiver, por base, a experiência de uma filialidade profunda, vivenciada tanto no plano natural como no espiritual.
Uma árvore que produz flores e frutos
Nosso tempo vive, segundo o Pe. Kentenich, uma espantosa falta de abrigo, o que significa afirmar: vive-se hoje uma espantosa falta de verdadeira filialidade. E qual seria o remédio para essa “doença”? Ele orienta que o tratamento mais eficaz e específico é o cultivo da ‘ousadia da filialidade’ ou, em outras palavras, viver a Filialidade Heroica.
Comparando o ser da mulher com uma árvore, Pe. Kentenich diz que a raiz é a grandeza feminina, é a filialidade; o tronco é a doação serviçal e magnânima; e a sua copa, plena de frutos, é a maternidade desprendida de si mesma, que se doa em amor fiel.
No entanto, a raiz de uma planta não tem sentido se a árvore não produzir frutos. Assim, a filialidade não tem sentido se dela não surgir a maternidade, o espírito de serviço generoso aos demais. Daí se deduz que a filialidade é um dom que deve ser cultivado, desenvolvido de forma consciente e corajosa.
Temos, em Schoenstatt, exemplos de homens e mulheres que chegaram ao cume da filialidade pela vivência do lema: “Nada sem vós, nada sem nós!” José Engling, Ir. M. Emilie Engel, Gertraud von Bullion e tantos outros viveram a filialidade em grau heroico e produziram frutos de santidade.
O ‘sim’ filial de Maria e dos santos é fruto de sua atitude filial diante de Deus. No entanto, não se trata de um ‘sim’ passivo, de escravo, diz o Pe. Kentenich, mas é fruto de uma livre decisão pessoal, é um ‘sim’ ativo e empreendedor.
O ‘sim’ filial dá segurança e força. Segurança num plano superior, em Deus. Estar seguros e abrigados em Deus para superar as inseguranças no plano natural, pois essas inseguranças e provações virão com certeza.
Como filhos de Schoenstatt devemos sempre beber da fonte de graças que é o nosso Santuário. Ali, nossa Mãe e Rainha quer educar filhos heroicos para serem testemunhas do Filho Heroico do Pai, Jesus Cristo.
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