As Novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, para este quadriênio (2019 a 2023), propõem fazer da Igreja uma CASA, um LAR que acolhe.
Para isso, existem quatro pilares que sustentam essa CASA:
Pilar do Pão – Eucaristia, espiritualidade
Pilar da Palavra – catequese
Pilar da Caridade – serviço à vida plena
Pilar da missão – estado permanente da missão
Hoje vamos refletir sobre o PILAR DA CARIDADE
Juliana Gelatti Lovato – Entender a caridade como um dos pilares da vida da Igreja e dos cristãos, de forma particular, não é algo que se possa chamar de “novidade”. Pelo contrário. Está entre as verdades tão fundamentais do fazer parte do Corpo de Cristo que precisa ser sempre reafirmada. Por isso, a Caridade é colocada entre os quatro pilares da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, conforme a publicação recente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o quadriênio 2019-2023 ressaltam a imagem da Igreja como “casa”, como “construção de Deus”, ensinada pelo Apóstolo Paulo na 1ª Carta aos Coríntios, no capítulo 3: “Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus.” (ICor3,9). Na continuação do texto, Paulo explica que os apóstolos, como arquitetos e operários, constroem os fundamentos da obra, que é o próprio Cristo. Depois, diferentes construtores acrescentam pedras a este edifício, a esta casa. Embora em uma casa concreta dificilmente seja possível diferenciar os tijolos que a compõem, no edifício de Deus, “a obra de cada um aparecerá”.
Como realizamos a caridade?
De que forma queremos que a nossa obra apareça diante de Deus? Apenas pelos atos e trabalhos que realizamos? Ou pelo “como” realizamos? Ainda recorrendo às cartas de Paulo, quando ele fala em caridade, ou no amor, refere-se muito mais ao “como”: “Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!” (ICor13,3).
Creio que a mensagem é clara: a caridade, o dom desinteressado de si mesmo, é que deve ser a motivação de todos os atos, e não os resultados que se deseja alcançar. A Caridade como serviço à vida plena direciona, ainda, que devemos doar-nos para o bem comum, para que todos tenham vida, e vida em plenitude, como o Pai projetou para as suas criaturas prediletas.
Conforme o Catecismo da Igreja Católica (cf. 1822), “a caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e ao nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus”. Quer dizer: porque Deus nos ama, devemos amá-Lo, e por esse mesmo amor, amamos ao nosso próximo. A Caridade, é o “novo” mandamento de Jesus, por isso, é o traço característico dos Cristãos. Assim como na época dos apóstolos, em que os seguidores de Jesus tinham atitudes que não eram compreendidas pela sociedade – atitudes de caridade, de doação desinteressada de si mesmo – hoje também somos chamados a contrapor a lógica do nosso mundo com o amor, em todos os nossos atos e realizações.
Amor desinteressado
“Cristo morreu por nosso amor quando éramos ainda ‘inimigos’ (Rm 5,10). O Senhor exige que amemos, como Ele, mesmo os nossos inimigos, que nos tornemos o próximo do mais afastado, que amemos como Ele as crianças e os pobres” (CIC 1825). Na época de Cristo e hoje, não há nada mais incompreensível do que amar o inimigo, do que ir em busca do excluído, do que desejar a todos, sem distinção, a possibilidade da vida plena.
Ainda assim, podemos cair na tentação de, mais uma vez, buscar as realizações externas, que são valorizadas pelos demais: atos de solidariedade, justiça social, igualdade de direitos… Ou então, de buscar uma vida reta e que respeita todos os mandamentos, por vaidade, orgulho ou até mesmo medo de Deus. Mas nossa consciência e nosso coração devem sempre refletir: o que motiva é a caridade? Ou a valorização dos outros? Meu trabalho reflete a doação desinteressada de mim mesmo? Sem desejar nada em troca? Busco fazer a vontade de Deus por amor a Ele, e não por medo?
Embora não devamos desejar nada em troca, quando agimos por caridade, ela tem frutos: a alegria, a paz e a misericórdia. A caridade é a maior de todas as virtudes, a única que permanece, mesmo na Eternidade. Ensina Santo Agostinho: “a finalidade de todas as nossas obras é o amor. Este é o fim; é para alcançá-lo que corremos, é para ele que corremos; uma vez chegados, é nele que repousaremos”.