APOSTOLADO: entre o barulho e o silêncio
Guilherme e Ana Paula Paiva – A CNBB acaba de lançar as Novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023), enfatizando o retorno ao sentimento de acolhida, aconchego, de experiência de casa na ação evangelizadora e se inspirando, para isso, nas comunidades primitivas (Atos dos Apóstolos) e em 4 pilares: a Palavra (catequese), o Pão (Eucaristia e espiritualidade), Caridade (serviço à vida plena) e Missão (estado permanente de missão). Hoje trataremos do quarto pilar: o estado permanente de missão.
Falar de missão em Schoenstatt é quase como ser repetitivo: em Schoenstatt não fazemos missão, somos missão. A nossa dimensão missionária está intrinsicamente ligada à concretização de nosso carisma em meio ao mundo. Podemos dizer que viver um estado permanente de missão é atentar-se a viver, a todo momento, nossa Aliança de Amor e nos comprometer, seriamente, a construir uma nova ordem social, a partir do homem novo inserido em uma nova comunidade e que luta por uma nova cultura: a da aliança. É isso o que queremos fazer sob a proteção de Maria, levando o aconchego de Mãe que sentimos a todos que nos rodeiam, dando também uma experiência de lar a partir de nós, nos educando a nós mesmos como personalidades livres, firmes e sacerdotais, já enunciada por nosso Fundador na ata de Pré-fundação de 1912. Não é pouco!
É comum nos depararmos com desafios em vivermos nossos ideais no dia a dia. Seja nas grandes corporações ou nas universidades, seja nos círculos de amigos ou mesmo de nossa família natural, não é raro encontrarmos obstáculos que questionam nossas crenças. De outro modo, a humanidade parece estar pedindo socorro. Temos assistido, quase cotidianamente, o estabelecimento de padrões morais e éticos bastante questionáveis em todas as áreas (as causas desse desequilíbrio, no entender de nosso Fundador, são “a insegurança, o desarraigamento, a falta de lar e a desvinculação do ninho”) e continuamos a ser chamados por nossa Mãe, a partir do Santuário e de nossa Aliança de Amor, a sermos instrumentos dóceis em Suas mãos. Penhor e seguro que comprovam que é possível ser e fazer diferente. Somos chamados a estar permanentemente empenhados em viver nossa missão: ser católicos, sobrenaturalmente vinculados a Deus e inseridos em meio às exigências de transformação social. A santidade é um convite de amor e está aqui, posto à nossa frente.
Eu? Um missionário?
Todos nós temos algo a dar. Independentemente da nossa vocação, personalidade ou temperamento, ainda que nosso tempo disponível seja curto ou que tenhamos desafios familiares a enfrentar: mesmo que nossos filhos sejam pequenos ou que o Santuário esteja longe de nossa casa: é certo que todos nós temos algo a dar.
Pode ser que sejamos mais calados, ou ainda que falemos muito, por vezes até sem pensar direito. Pode ser também que não saibamos bem como começar, ou ainda que não tenhamos atenção suficiente nas necessidades ali estampadas. Certo é que Deus conhece nosso coração e tudo aquilo que trazemos; que nos ama e nos capacita; que nos dá coragem e motiva a agir. Afinal, não somos iguais, e nosso apostolado também não precisa ser. Como nos lembra nosso Papa Emérito Bento XVI: “Quem descobriu Cristo deve levar os outros para Ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo”. [1]
Dentro de nossa Obra, temos muitas demandas e iniciativas florescendo a cada dia; e Schoenstatt tem sido pioneiro em frentes necessárias e até pouco exploradas na Igreja. Nosso carisma segue sendo uma resposta muito clara à uma nova expressão de evangelização e nossa rica e fecunda experiência de vínculos, de casa e de educação, nos impele à realização de tarefas de extrema importância, dentro e fora da Obra. Ser tudo para Schoenstatt é ser Schoenstatt para a Igreja!
A mensagem de nosso Fundador manifesta uma atualidade impressionante. “Agora tendes a melhor ocasião para demonstrá-lo”, diz nosso Documento de Fundação (1914). “Herói hoje, não amanhã”, nos lembra João Pozzobon. Não quando tivermos mais tempo. Não quando nossos filhos crescerem. Não quando tenhamos lido todos os livros sobre Schoenstatt. Não quando aprendermos a falar em público. Não quando terminarmos a faculdade. Não quando tivermos mais tempo de Aliança de Amor. Agora, exatamente na situação em que vivo. Com toda a minha força e em todos os lugares em que vivo, começando por, e com especial ênfase, em minha própria família. A amar, se aprende amando; a caminhar, caminhando…
Nada disso é possível, contudo, sem vida interior. Pe. José Kentenich nos diz que “(…) a fecundidade da atuação exterior depende, em primeiro lugar, do grau e da amplitude da vida interior e quer ser assegurada pelo poder da oração” [2]. E ele nos diz, ainda, que “o homem moderno se tornou um homem-filme, (…) entregue às impressões exteriores, e suas atividades não possuem mais relação orgânica mútua, parece que os seus diversos atos não estão mais arraigados no cerne da personalidade” [3]. Não, para fora com o homem-filme! Nosso apostolado e nossa evangelização devem ser orgânicos, vitais e profundamente vinculados!
Em Schoenstatt, nosso estado permanente de missão não se trata, em absoluto, da quantidade de iniciativas, mas da expressão de nossa vida interior e nossa espiritualidade, que se concretiza no mundo da vida, onde o Deus da Vida nos espera em cada um que encontramos. E, assim, ainda que devamos reconhecer, organicamente, que há momentos em que o apostolado externo não pode ser realizado, o nosso exemplo silencioso deve ser capaz de arrastar multidões.
Temos um lar. Somos missão. Essa nossa grande alegria, que nos motiva e nos leva para mais perto de Deus pelas mãos de Maria, não deve ficar guardada e escondida. Pelo contrário, devemos estampá-la em nosso rosto e em todas as nossas ações. Schoenstatt responde ao pedido da Igreja: aqui estamos, com fidelidade à nossa Aliança de Amor, prontos para uma nova evangelização!
Referências:
[1] Homilia, Papa Bento XVI, Colônia/Alemanha, Esplanada de Marienfeld. Domingo, 21 de agosto de 2005, XX Jornada Mundial da Juventude. Disponível em: w2.vatican.va
[2] KENTENICH, Pe. José. Linhas Fundamentais de uma Pedagogia Moderna para o Educador Católico. Conferências do Curso Pedagógico – 1950. Primeira conferência: A união com Deus, como potência educativa.
[3] KENTENICH, Pe. José. Linhas Fundamentais de uma Pedagogia Moderna para o Educador Católico. Conferências do Curso Pedagógico – 1950. Segunda conferência: Preocupação e caos na situação pedagógica atual.