As Bem-Aventuranças indicam o caminho.
Pe. Carlos Padilla – Outro dia, ao pensar nas Bem-Aventuranças, pensava no desejo mais profundo do homem: o desejo de viver uma vida plena. Todos queremos ser felizes e fazer felizes aos que nos cercam. Queremos amar e ser amados de forma incondicional. Paz Vega (atriz espanhola) comentava: “A felicidade não é um estado de ânimo, mas um caminho. Eu decido ser feliz a cada manhã”. Não é um estado. É um caminho. Ao ler essa frase pensava que se assim o entendêssemos, muitas coisas seriam diferentes na vida. Não seríamos obcecados em sermos felizes sempre, sem desfrutar cada passo do caminho sem angústia.
Contudo, lia que “mais de 65% da população mundial define sua própria vida como uma carga pesada de infelicidade e que só uma, em cada dez pessoas, é real e totalmente feliz”. Em que grupo nos encontramos? E, o que é mais importante, em que grupo gostaríamos de estar? A resposta é clara: ninguém gosta de sofrer por sofrer, ou levar uma vida sem sentido. O Pe. José Kentenich dizia: “Quem não cultiva a alegria, arruína seu caráter até a medula. Uma pessoa sem alegria é uma pessoa enferma” [1]. E acrescenta: “Se não recebo alegria, se não tenho alegria tanto por meu crescimento interior em Deus, quanto pelo dos demais, que efeito haverá? Se a alegria é um instinto primordial, o homem buscará a alegria em outra parte, no mundo das alegrias sensíveis e do pecado” [2].
Somos chamados a cultivar a alegria em nossa vida, em nossa vida familiar. Se não temos alegria em nossas relações, em nosso trabalho, em nossa rotina, em nossas responsabilidades, buscaremos em outra parte a alegria que necessitamos para viver. Um lar triste nos afunda; um lar onde reina uma atmosfera de alegria sadia e autêntica, pelo contrário, nos faz aspirar ao mais alto.
Sempre a caminho, sempre buscando
Sabemos que muitas vezes nosso estado de ânimo determina nossa felicidade diária e faz nos arrastarmos pela vida sem levantar os olhos do chão. As emoções nos confundem com frequência. Nossos afetos desordenados nos desconcertam. Acreditamos que a felicidade é um estado de ânimo em que nos sentimos em paz conosco mesmos e com o mundo, em uma espécie de ausência de sofrimentos. Mas muitas vezes não alcançamos esse estado ideal de paz. Pode ser que muitos creiam que somos mais felizes quando satisfazemos os desejos que brotam do coração. Assim muitos buscam hoje saciar a sede de satisfação que sofre a alma.
O cineasta Wood Alen falava: “Dizem que o dinheiro não traz a felicidade. Mas produz uma sensação tão parecida que só uma pessoa experiente poderia apreciar a diferença”. Contudo, ainda que pareça muito com a felicidade verdadeira, os experientes sim a diferenciam. Não é a felicidade sonhada. A satisfação que nos dá o dinheiro não enche o nosso coração insatisfeito. A mera satisfação de nossos desejos nos deixa sempre insatisfeitos e tristes.
Às vezes acreditamos que se nossa vida for perfeita e plena, teremos a felicidade verdadeira e buscamos desesperadamente um sentido para tudo o que fazemos. Cremos que o êxito e o lucro de nossas metas nos farão mais felizes. No entanto, tampouco dessa forma encontramos necessariamente a felicidade desejada. Os lucros e metas alcançadas deixam caminho para novas metas e sonhos. Sempre a caminho, sempre buscando. Então, onde está a chave de nossa felicidade?
As Bem-Aventuranças
A resposta à nossa felicidade, a chave de bem-aventurança se encontra em compreender que a felicidade verdadeira não é um estado, mas um caminho. Trata-se de fazer-nos peritos na verdadeira felicidade, essa que chega quando somos sábios para conduzir nossa vida. Falamos da felicidade como esse grande anseio que vive no coração do homem, um anseio insaciável. Trata-se de uma felicidade que não consiste na mera satisfação dos desejos do coração, nem em alcançar todas as metas a que nos propomos. Buscamos a plenitude de uma vida vivida com paixão. Mas a felicidade procurada não se encontra ao alcance de nossas mãos, como às vezes pensamos. O coração fica inquieto até que descanse em Deus. Aquilo que é finito não sacia esse anseio de infinito que vive no mais profundo de nosso ser. Somente Deus, com sua graça infinita, pode acalmar a sede de amor que tem o homem. Só Deus pode dar-nos a paz que nossa própria vida não pode fabricar.
Temos que assumir uma constante em nossa vida: muitas vezes não somos felizes. E as razões de nossa falta de alegria interior são muitas. Jesus, ao mostrar-nos os ensinamentos das Bem-Aventuranças não pretende dar-nos um curso sobre a felicidade, ou um curso de autoajuda para ter mais paz. Só quer que coloquemos nosso coração ali onde deve descansar, em Deus.
Frente às bem-aventuranças que nos oferece o mundo, centrada no êxito e nos bens, Jesus nos mostra um caminho através de suas Bem-Aventuranças, um caminho de felicidade e plenitude. Em todas as Bem-Aventuranças, a felicidade está unida a uma graça de Deus, porque sozinhos nada podemos. Elas são como que sete degraus, unidos aos sete dons do Espírito Santo (Is 11). Pobres, unidos ao dom do temor; mansos, ao da piedade; aos que choram, o dom da ciência; os que têm fome e sede de justiça o dom da fortaleza; aos misericordiosos, o dom do conselho; os puros de coração, o entendimento; os que promovem a paz, a sabedoria. Cada passo desse caminho está unido com a presença do Espírito Santo em nossas vidas. Sem essa presença de Deus, não é possível percorrer o caminho de Deus.
*Trecho da homilia do Pe. Carlos Padilla, diretor nacional do Movimento Apostólico de Schoenstatt na Espanha. Clique para baixar a versão original, em espanhol.
[1] KENTENICH, José. Família, Reino de Maria, Retiro para a União de Famílias, 31.05.1950
[2] KENTENICH, José “Las fuentes de la alegría”, 83-84