É como se a esperança estivesse entrando por nossa porta e deixando tudo novo
Paulo e Isa de Carvalho – Hoje, Dia dos Avós, celebramos São Joaquim e Sant’Ana, os avós de Jesus. Como aconteceu com eles, os netos chegam em nossas vidas, quase sempre, depois que os filhos saem de casa. Fica sempre um vazio quando um filho deixa o nosso lar e vai formar sua própria família. Isso dói no coração dos pais e os faz sentir que o tempo passou depressa demais. Assim, quando os netos chegam, a gente sente como se aquele filho estivesse voltando, criança, e trazendo novamente as alegrias de um tempo que passou.
Netos são presentes muito especiais na nossa vida! … É como se a esperança estivesse entrando por nossa porta e deixando tudo novo, de novo!
Vínculos para a vida
Nessa fase, os avós são como os pais, porém, cheios de experiências que os fazem mais seguros, tranquilos e preparados para enfrentar o choro, as doencinhas, as traquinagens, curiosidade e as incansáveis brincadeiras das crianças. E mais, eles têm todo o tempo disponível para dar a atenção e o carinho que muitas vezes os pais não podem dar. Isso porque, enquanto os filhos crescem, os pais têm que se desdobrar entre o trabalho e a educação deles. Era isso que comentava o Pe. José Kentenich certa vez:
“Na ocasião de que falei há pouco, em Berlim, enquanto discutiam sobre a imagem de pai, também surgiu a proposta de recordar frequentemente a imagem do avô. Motivo para tal é o excessivo nervosismo da maioria dos pais modernos, que não transmitem serenidade, tranquilidade como os avós. Estes fatos são tirados da vida, não são inventados.
Eu conheço uma jovem em plena adolescência, é uma adolescente especial. Quando chega em casa e terminou os trabalhos escolares, vai ter com a avó e ajoelha-se espontaneamente junto dela. A avó começa a contar histórias e a menina não se sacia de escutar. A situação é difícil, porque todos em casa trabalham para ganhar: o pai trabalha fora, a mãe precisa trabalhar fora e ninguém tem tempo para uma jovem daquela idade. Os irmãos mais velhos (também) trabalham fora”. [1]
Por isso se diz que avós são “pais com açúcar”; e eu diria que netos são “filhos com mel”!
Os avós vivem da fé
Também o Pe. Kentenich experimentou isso. Nos primeiros anos ele viveu na casa de seus avós Matias e Ana Maria Kentenich, onde era cuidado por eles e pela mãe. Talvez isso tenha feito dele essa pessoa alegre e descontraída! “José Kentenich passou os primeiros anos de sua vida em Gymnich […] na casa dos avós, sob os cuidados de sua mãe. […] Durante aqueles anos, a personalidade dele recebe uma marca decisiva, não por último na convivência com os seus familiares mais próximos, conhecidos e parentes”. [2]
Num encontro com famílias do Movimento, nosso Pai e Fundador certa vez comenta: “Eu creio, e muitas vezes encontramos isto, que nossos avós não eram tão formados como nós na vida religiosa, mas de maneira esplêndida viveram da fé”. [3]
Transmissores da fé
Às vezes penso quão bem-aventurados foram São Joaquim e Sant’Ana por terem sido os avós de Jesus! Muita benção de Deus! É deles, também, que vêm muito da riqueza e da espiritualidade de nossa Mãe, Maria. “São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que transmitiu o amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé!”, disse o Papa Francisco. [4]
O Pe. Kentenich afirma que, “se nossos pais e nossos avós deixaram, minimamente, que o sangue católico fluísse nas suas veias, certamente implantaram, de alguma forma, um cálido amor à Mãe de Deus no nosso coração” [5]. Esse amor, a espiritualidade que carregamos, vêm do berço, em especial pela dedicação dos avós. Como disse o Papa Francisco, “aos avós, que receberam a bênção de ver os filhos dos filhos (cf. Sal 128/127, 6), está confiada uma grande tarefa: transmitir a experiência da vida, a história duma família, duma comunidade, dum povo; partilhar, com simplicidade, uma sabedoria e a própria fé, que é a herança mais preciosa!” [6]
Neste dia de São Joaquim e Sant’Ana, desejamos que eles abençoem a todos os avós, intercedendo para que contribuam com os pais na educação dos netos.
Referências
[1] KENTENICH, Pe. José. Às segundas-feiras ao anoitecer – Diálogos com famílias. Volume 21, Nossa vida à luz da fé. Sociedade Mãe e Rainha, 2008, 1ª edição. Conferência de 26 de junho de 1961.
[2] SCHLICKMANN, Dorthea M. Os anos ocultos – Padre José Kentenich Infância e Juventude (1885-1910). Sociedade Mãe e Rainha, 2008, 1ª edição.
[3] KENTENICH, Pe. José. Cartas e palestras à sua União das Famílias, compiladas, trabalhadas e apresentadas pelo Pe. José Maria Klein, para o dia 16 de julho de 1992 (Alocução para o Curso Custos Sanctuarii, Liebfrauenhöhe, 31 de maio de 1966)
[4] PAPA FRANCISCO, alocução na hora da Ave Maria/Angelus, Balcão do Arcebispado do Rio de Janeiro/RJ, 26.07.2013, durante a Jornada Mundial da Juventude. Disponível em: w2.vatican.va
[5] KENTENICH, Pe. José. Às segundas-feiras ao anoitecer – Diálogos com famílias. Volume 21, Nossa vida à luz da fé. Sociedade Mãe e Rainha, 2008, 1ª edição. Conferência de 20 de maio de 1961.
[6] Encontro do Papa Francisco com idosos e avós, setembro de 2014, Praça de São Pedro, Vaticano