O que significa “autoridade paterna”?
Sidônio e Claudia Lopes – Alguém já nasceu sabendo ser pai? O seio de uma família é o melhor lugar para se aprender. Cada pequena tarefa do dia a dia se torna uma grande oportunidade. O dia é repleto de pequenas lições que nos ensinam aos poucos e não podemos descartar nenhuma dessas lições. Se as pratico com a verdadeira “consciência de autoridade paterna”, tornam-se decisivas para a conquista, consolidação e manutenção da minha missão de pai.
Nos dias 18 de janeiro e 15 de fevereiro de 1953, no recolhimento com as famílias, em Milwaukee/EUA, o Pe. José Kentenich aborda com muita clareza o papel do pai na família, baseando-se no “Princípio de Pai”:
“Meus filhos devem aprender de mim, pai, a serem corajosos. A vida, mais tarde, exige coragem. Não deve ser brincadeira. Mas também uma vigorosa obediência e seguimento à minha autoridade e não a qualquer tipo de lei” [1]
Vejam bem! O perfeito entendimento do sentido da autoridade pode simplificar tudo! Daí nos vem a pergunta: “O que significa autoridade paterna?” e a resposta do Fundador: “O pai deve educar os filhos, não apenas gerá-los e alimentá-los. O pai deve ocupar o posto central no processo educativo”.
Para ocupar realmente o centro no processo educativo, preciso da seguinte convicção: “Estou aqui como pai, revestido da autoridade de Deus”. Isto não será fácil se eu, naturalmente, não viver de tal forma que o filho possa ver em mim um reflexo de Deus Pai.
Afinal, no que implica “viver de tal forma que o filho possa ver em mim um reflexo de Deus Pai”?
Implica na consciência de que devo educá-lo permanentemente e “não apenas gerá-lo e alimentá-lo”. Implica que a cada choro dos filhos, dor de barriga, febre ou fome no meio da noite – devo estar presente; entre o silêncio de cansaço e o silêncio de dor e desconforto; nas trocas de fraldas, nas tarefas escolares, nos passeios, nas tarefas comuns de uma casa – devo estar presente; nos castigos, nas broncas, nas conversas, na adolescência e na vida adulta dos filhos – devo estar presente; nos momentos de oração, de tristezas, de angústias, de alegrias e de sacrifícios – devo estar presente; e em tudo o que imaginarmos como tarefas de pai numa família, inclusive as tarefas de esposo, devo estar presente. No final do dia a única certeza que terei é de estar esgotado, sem as minhas forças e com a última gota de meu sangue… É este o grande mistério do amor de Cristo.
Pais protagonistas
Essas verdades são, hoje em dia, muito importantes para todos nós. Geralmente é a mãe quem ocupa acentuadamente o centro da educação dos filhos, quase como se o pai não existisse. O pai, como a “cabeça da família”, segundo a ordem objetiva do ser, não pode ser visto apenas como um provedor de pão dentro da família. “Em Nazaré não foi assim!”, dizia o Pe. Kentenich.
É evidente que a autoridade paterna pode ser deturpada. Assim, conscientes dos “Princípios do pai”, devemos atentar para não falharmos: pela rudeza (exagerada selvageria) ou pelo sentimentalismo (frouxidão).
Pedalando sem rodinhas
A experiência de quando aprendemos a andar de bicicleta talvez sirva como uma boa ilustração para colorir os “princípios de pai”. Segue o breve relato partilhado na internet por uma filha:
“… Não lembro quanto tempo se passou nessa fase das rodinhas, mas sei que quando decidi retirá-las meu pai estava lá mais uma vez, pegou a chave de fenda (lembro até do formato e tamanho que ela tinha) e depois de alguns minutos a bicicleta estava lá me esperando. Mesmo estando segura da minha decisão, fiquei com medo de cair, me machucar, dos meus amigos rirem de mim… Mas meu pai segurou firme na parte de trás do banco e disse que eu podia pedalar que ele estaria ali. Ele me ajudou a pegar o equilíbrio ideal e quando notou que podia me soltar, soltou. Quando me dei conta estava pedalando sozinha e sem rodinhas. Na hora eu não tinha noção da importância desse dia para mim, mas hoje eu sei e aproveito esse momento para agradecer ao meu pai pelo apoio que tive…” [2]
O que observamos neste relato é que a filha lembrará, por toda a vida, da presença marcante do pai naquele importante momento de sua vida, vinculando em seu coração uma superação do medo.
Contador de histórias
A essas alturas, minha esposa Claudia e eu resolvemos ler esse texto para nossas filhas e perguntamos se elas gostariam de testemunhar algum momento. Júlia, nossa filha mais nova, relatou:
“Lembro quando meu pai, todas as noites, lia uma história diferente para mim e para minha irmã. Se não eram história de livros, ele inventava na hora e contava com vontade, incorporava os personagens, mudava a voz, era talentoso. Acho que na época eu não valorizava tanto, mas hoje sinto saudades e só tenho a agradecer por esses momentos deliciosos com meu pai” (relato da Júlia)
Veio-me à lembrança: “Quantas dessas noites eu preferia já estar descansando…”. Não me arrependo! Se apesar dos meus afazeres e da fadiga, como pai, eu procurar estar presente na vida dos meus filhos, então hei de ver como todos seremos felizes em casa. Amaremos nossos filhos apaixonadamente.
A minha maior alegria será poder constatar meus filhos dispostos a enfrentar o mundo com ousadia e orientados pela obediência! Essa é minha grande tarefa como pai! Termino com a seguinte reflexão: O que já fiz nesse sentido em favor dos meus filhos?
*Contribuição da União Apostólica de Famílias de Schoenstatt
[1] KENTENICH, Pe. José. Família Serviço à Vida, vol 1. pág 50
[2] Fonte: blog.tricae.com.br