Desafios e oportunidades do nosso tempo
Melanie e Ulrich Grauert – Nós gostaríamos, com vocês, de dar uma olhada para o tempo atual. Deus atua no tempo e quer nos comunicar algo por meio dele. Recentemente escutamos uma palestra sobre a “Economização da sociedade”. A economia social de mercado está terminando e a economia livre de mercado chegou. A consequência: estresse, agitação, cansaço, tudo vai mais rápido.
Isso abre uma brecha sempre maior entre ‘trabalho e família’. Essa busca pelo equilíbrio é um grande fator de estresse. Muitas vezes a sensação de não ser capaz de satisfazer as próprias necessidades aumenta a pressão.
Em sua carta Amoris Laetitia (sobre o amor na família), o Papa Francisco também fala da pressão que existe sobre as nossas famílias. Ele chama a atenção para o perigo de que os laços familiares se dissolvam cada vez mais, de que todos os membros da família levem, muitas vezes, uma existência ilhada e que as estruturas familiares se percam.
Francisco assinala que hoje em dia as famílias recebem pouco apoio da estrutura social (sociedade, política, economia) e se pergunta: Como podemos reagir a tudo isso?
Princípio da tensão
É de conhecimento de todos que a pressão aumenta a tensão. Vemos isso na natureza: a pressão ou a fricção criam tensão e a tensão pode descarregar-se em forma de tormentas. Esse tipo de energia realmente não é produtiva e, inclusive, pode ser perigosa e destrutiva.
Mas, pelo contrário, se os polos com cargas diferentes (polo – e polo +) entram em contato entre si, produz-se um fluxo de corrente elétrica que pode, por exemplo, acender uma lâmpada.
A voltagem é a causa da corrente elétrica. O símbolo da tensão é “U” – derivada do latim “urgere”, quer dizer, pressionar, empurrar; há algo de produtivo e poderoso nisso.
O Pe. José Kentenich fala do “princípio da tensão”, que se estende por toda a criação, e reconhece nele um princípio divino. Na Áustria é comum chamar o Pe. Kentenich de “Pai com E”, porque ele não dizia “ISTO OU AQUILO”, mas colocava conscientemente as coisas numa relação entre si, em situações de tensão por meio de um “E”.
Pe. Kentenich estava convencido de que Deus havia criado o princípio da tensão nas pessoas e na comunidade e que, por meio desse princípio, queria despertar a cooperação do homem livre. É importante não evitar as tensões interpessoais, mas torná-las fecundas. Isso cria dinamismo.
Olhar juntos para a realidade
[…] Muitas vezes observamos claras divisões entre a vida familiar e a vida profissional. As coisas comuns muitas vezes se limitam só ao tempo em que passamos juntos como família. O trabalho da mulher e do homem muitas vezes são considerados como algo fora ou algo paralelo à vida familiar.
Trabalho E família – para nós é um processo no qual o termo “família” é mais amplo. Não somente o tempo que passamos juntos como marido / esposa / filhos é “família”, mas também a vida profissional da esposa e do marido são parte da família. Dessa forma usamos um “E” para unir conscientemente ambos os termos. […]
Quando mulheres e homens se encontram hoje no mundo do trabalho, geralmente há pouco tempo para refletir ‘realmente’. Muitas coisas são urgentes e devem ser resolvidas rapidamente. Mas, onde está o tempo e a pessoa com quem posso trocar ideias e refletir? Quem dá uma visão objetiva da situação? Quem realmente me complementa? […]
Quando o pensamento masculino e feminino se complementam, tudo se torna qualitativamente melhor e mais global. O nosso campo de visão se alarga. Há mais certeza de ter uma situação concreta sob controle.
O Pe. Kentenich fala da chamada visão “federativa”. Isto significa que duas personalidades independentes se unem e olham juntas para uma situação concreta. A consequência da visão federativa é que olhamos além de nosso próprio cercado – obtemos um sentido para a singularidade dos outros e nos alegramos com a diversidade. Isso nos capacita.
Um amigo que atua na vida profissional relata:
“Para mim, falar com a minha esposa significa desacelerar. Dessa maneira, eu desacelero conscientemente e isso significa mais qualidade. Puxa-se um freio! Quando surge algo urgente [no trabalho], então escrevo um e-mail e deixo nos RASCUNHOS, onde o tema fica pendente. À noite falo com minha esposa sobre o assunto e na manhã seguinte, com novos pensamentos, o e-mail continua sua viagem. A situação muda, melhora. Isso faço com certa frequência!”
Outro casal partilha:
Certa vez a nossa agenda estava lotada e estivemos fora por vários finais de semana; tivemos tantos compromissos que restou muito pouco tempo para nós como casal. No final do ano, pegamos a agenda e bloqueamos um final de semana por mês, durante o ano, para assegurar um tempo para nós.
Tomar decisões de forma consciente e planejar em comum, a fim de que não desperdicemos a nossa energia.
* Essas são algumas reflexões do casal Melanie e Ulrich Grauert, da Suíça, durante a celebração do centenário de Hoerde em Schoenstatt. O texto foi editado e resumido. A versão completa e original está disponível para download: clique.
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