“Como é, então, a jovem autêntica, a jovem de caráter (ou o jovem)? É quem sabe o que quer e quer o que sabe” [i]
Fernando Gabriel de Carvalho e Silva – Uma das histórias mais fascinantes e conhecidas da bíblia é a de Davi, o jovem pastor de ovelhas que desafiou o maior guerreiro dos filisteus na guerra contra Israel, o “gigante” Golias.
Antes, porém, da batalha, o rei Saul vestiu Davi com a sua própria túnica, armadura, capacete de bronze e espada. No entanto, Davi não era um guerreiro e sequer conseguia caminhar com as pesadas vestes de um soldado; por isso ele largou tudo e foi para a luta com um cajado, cinco pedras e a sua atiradeira.
De fato, o mundo tenta nos impor “vestes” que não nos servem e tenta nos transformar naquilo que não somos ou não desejamos ser, sob a alegação que é a melhor e mais legal maneira de viver, pensar, agir e enfrentar as batalhas da vida. Mas será que é mesmo?
Não somos apenas “mais um”
Assim como o rei Saul tentou transformar Davi em mais um no meio de tantos soldados, se analisarmos a sociedade atual facilmente percebemos que é praticamente imperativo seguirmos a moda, sob pena de recebermos olhares julgadores que nos relevam a, no mínimo, “estranhos” ou “caretas”. Entretanto, a imposição da sociedade não se reserva apenas ao modo de se vestir, mas vai além, alcançando o próprio pensamento, o modo de ser e agir, de forma que o individuo deixa de existir, sendo apenas mais um no meio da massa.
O individuo torna-se massificado, ou seja, abandona as suas características próprias, abandona a sua liberdade interior e é escravizado pela cultura reinante: compra somente o que está na moda; pensa somente o que os outros pensam; diz somente aquilo que o seu “ídolo” diz; faz somente aquilo que os demais fazem; acredita somente naquilo que o seu partido ou político favorito prega…
Assim, o homem dissolve a sua individualidade quando se entrega às massas sociais, perde a sua capacidade intelectual, tornando-se um bárbaro.
Autenticidade requer coragem
Pelo medo dos outros, amigos, familiares, namorado, etc., ou pelo medo de não ser integrado em um círculo social, podemos anular a nossa autenticidade, aquilo que caracteriza o que nós somos, para simplesmente nos adequarmos a um modelo que não corresponde à nossa identidade, simplesmente para atender a demanda da massa.
Portanto, de fato, a autenticidade requer coragem. É a coragem de ir contra a “onda do momento”; coragem de pensar por conta própria; coragem, sobretudo, de fazer escolhas e se comprometer com cada uma delas. Coragem de ir contra o que, muitas vezes, a maioria das pessoas dizem. Coragem de buscar a verdade, que só pode ser encontrada em Cristo Jesus. Coragem de lutar como Davi lutou, sem o peso imposto pelos outros.
É essa coragem que fez Maria dizer um Sim autêntico quando indagada pelo Anjo Gabriel, ainda que todos lhe pudessem virar o rosto, pois, como narra a bíblia, ela não conhecia homem algum. É essa coragem que fez nosso herói Franz Reinisch permanecer autêntico em relação aos seus princípios e negar o juramento à bandeira nazista, fato que lhe custou a vida. É essa coragem de ser autêntico que levou o Pe. José Kentenich a ser preso pela Gestapo durante o regime nazista, em Dachau, bem como exilado pela Igreja. Foi essa autenticidade que fez José Engling continuar a oferecer contribuições ao Capital de Graças e cumprir seu horário espiritual mesmo durante o horror da guerra. É a coragem de ser autêntico, de ser aquilo que é, que levou Davi a lutar sem armadura contra Golias.
A bíblia e a história dos heróis de Schoenstatt nos mostram que a autenticidade muitas vezes é retribuída com desprezo e injustiça, mas o oposto disso é a covardia de sermos inautênticos, escravos do coletivismo e levarmos uma vida que não preenche o nosso vazio interior.
O homem novo é o homem autêntico
O nosso Fundador, Pe. José Kentenich, atento sobre a questão e com olhos de Pai e Profeta, propõem no Documento de Pré-Fundação o seguinte programa: “Sob a proteção de Maria queremos aprender a educar-nos a nós próprios para sermos personalidades firmes, livres e sacerdotais”.
Esse texto se norteia pelo ideal do homem livre e de personalidade firme, ou seja, verdadeiramente autêntico, capaz de tomar iniciativas próprias, sem se render às massas. Assim, mesmo fazendo parte da multidão e bombardeado todos os dias por ideologias, modas, ídolos, etc., segura firmemente as rédeas da própria vida e da consciência em suas mãos.
O homem novo, autêntico, vive livremente o que se é, ou seja, vive como Deus o fez, assumindo integralmente a sua essência, pois conhece a si mesmo e cuida do seu microcosmo, do seu mundo interior.
O homem novo é autêntico pois é genuíno e verdadeiro; defende sempre o que pensa, independentemente dos olhares “tortos”; o homem novo é autêntico porque defende firmemente suas convicções e seus princípios. O homem novo é feliz, pois não há experiência de felicidade fora da autenticidade.
“Só Cristo leva à vida autêntica e plena” (Papa Bento XVI)
Ah, o que aconteceu com Davi? Bom, narra a bíblia que, sem qualquer armadura e espada que o mundo quis lhe impor, mas apenas com a seu cajado, pedras e a atiradeira, instrumentos típicos de um pastor, venceu o gigante Golias levando glória ao povo de Israel.
* Este artigo foi resumido pela edição, para ler o texto completo clique aqui.
[i] KENTENICH, Pe. José. Eu saúdo os Lírios – Palestras para a Juventude Feminina de Schoenstatt no Brasil, 1947 a 1949. Coleção Jufem Brasil, vol 1. Palestra em Santa Maria/RS, 15 de abril de 1948.