Acima de tudo, ele buscou e amou o Deus da vida e da história
Pe. Angel Lorenzo Strada – A experiência de Deus é pessoal, íntima. Mas a experiência de Deus de um fundador é geradora de vida em outros. Não temos um diário íntimo do Pe. José Kentenich. Ele não escreveu “Confissões”, como Santo Agostinho, ou “O livro da vida”, como Teresa de Ávila, ou “História de uma Alma”, como Santa Teresinha. O que temos são vestígios deixados em cartas, escritos, conferências…
São João Paulo II disse:
“Vós fostes chamados a participar da graça que recebeu vosso Fundador e a pô-la à disposição de toda a Igreja. Porque o carisma dos fundadores se revela como uma experiência do Espírito, que é transmitida aos próprios discípulos para que eles a vivenciem, guardem-na, aprofundem-na e desenvolvam-na constantemente em comunhão e para o bem de toda a Igreja, a qual vive e cresce em virtude da sempre renovada fidelidade ao seu Divino Fundador”.
(João Paulo II, Audiência com a Família de Schoenstatt, Roma, 20 de setembro 1985)
Surge a grande questão:
Essa experiência de Deus terá continuidade em nós? Vamos conservar a riqueza, a profundidade dessa experiência? Quantos santos surgirão no seguimento, em identificação com essa experiência de Deus que experimentou o Pe. Kentenich?
Temos que manter o “mens fundatoris“, os princípios dele, mas o decisivo não é isso; o decisivo é preservar a vitalidade do seu encontro com Deus
Que Deus o Pe. Kentenich experimentou?
Ele buscou e amou o Deus dos altares, assim como o Deus das Sagradas Escrituras. Mas, acima de tudo, ele buscou e amou o Deus da vida e da história
Pe. Kentenich rejeitou com veemência as imagens falsas de Deus, resultado de uma catequese ruim e de uma péssima Teologia. Ele afirmou que existe um “movimento de fuga de Deus” muito justificado:
“Essa falsa imagem de Deus é a que muitos de nós arrastamos desde a juventude. É uma imagem de Deus fabricada por nós, cortada à nossa medida. É a imagem do deus ditatorial, do deus amolecido, do deus unilateralmente humanizado.
É conceber o Deus vivo como um ditador, um inspetor de polícia, que só se preocupa com o cumprimento minucioso das leis por ele promulgadas, que fica feliz quando pode castigar alguém quando o descobre em falta (…)
Outra imagem que queremos destruir é a do deus brando, o deus idoso e débil, que tem medo de fazer exigências, que fica feliz se o colocam para descansar em uma poltrona…
Uma última imagem que devemos rejeitar: a do Deus exageradamente humanizado, que não pode se machucar, que não admite mistérios ou a cruz…” (Jornada de Outubro de 1967, 2a.edic., Buenos Aires 1982, págs. 65ss)
Como foi a experiência de Deus para o nosso Fundador? Aqui estão cinco pontos…
– Estar fundamentado em uma realidade fundadora: a Aliança de Amor com Maria
– A experiência cristã de Deus está marcada pelo seguinte incondicional a Jesus Cristo e em assemelhar-se à sua pessoa de filho escolhido e amado de Deus Pai. É Jesus Cristo quem produz o estabelecimento de Deus no coração do homem, o aproximar-se dele, o sentir-se atraído e fascinado por seu amor e sua glória.
– A experiência de Deus implica assumir a própria debilidade, oferece um olhar mais profundo à própria limitação. Biografia alguma está isenta de erros, faltas, fracassos, altos e baixos, dificuldades. A graça cura a natureza doente e a aperfeiçoa.
– A experiência de Deus não elimina a escuridão da fé, mas a fortalece. Porque é experiência do mistério de Deus, de ser totalmente outro, de ser absoluto. Em toda biografia a luz divina sempre está mesclada com a escuridão humana.
– A experiência de Deus não é algo exclusivo para a pessoa, sua propriedade privada. Sempre é difusiva, tem um dinamismo missionário, gera vida na pessoa e em outros, enriquece e se deixa enriquecer, é contagiosa. A experiência de Deus é dada no seio da Igreja e para a edificação da Igreja. Cria vínculos profundos.
* Este artigo é um resumo da palestra apresentada no ‘Congresso Teológico Pe. José Kentenich’, em Santiago/Chile. O texto completo está disponível para download em espanhol: texto / vídeo / áudio.
* Cada um dos cinco pontos apresentados acima está aprofundado e comprovado com palavras do Fundador no texto original |