O início de ano traz contas e despesas, mas isso pode ajudar a família a se unir num planejamento comum
João e Maria Inês Faro – Quando se trata de falar sobre a organização financeira que as pessoas e as famílias deveriam buscar, a fim de evitar desconfortos e apuros desnecessários, corremos o risco de nos apegarmos aos extremos, quando o ideal seria encontrarmos o equilíbrio e a harmonia interiores.
Primeiro extremo: preocupar-se o tempo todo com a questão financeira, buscar o lucro e o ganho de todas as formas, ter o “juntar bens” como norma de vida, como se isso fosse o mais importante, deixando muitas vezes de lado os verdadeiros valores que trazem felicidade: família, amigos, fé, comunidade…
Segundo extremo: não se preocupar com dinheiro e bens, contentar-se com o básico, não poupar e nem perder tempo com planejamentos, acreditar que alguém sempre vai aparecer para resolver os nossos problemas financeiros.
Alguém já disse: a paz é o equilíbrio no movimento, devemos fugir dos extremos!
O que Jesus nos fala a respeito?
“Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a riqueza… Não andeis, pois, preocupados, dizendo: Que haveremos de comer? Que haveremos de beber? Com que nos vestiremos? Os pagãos é que se ocupam de todas essas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que precisais de tudo isto. Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã trará, ele mesmo, sua preocupação. A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6, 24.31-34)
Aplicando a Palavra à nossa vida
Os conceitos bíblicos não falam diretamente de investimentos ou de previdência privada, mas que devemos acumular tesouros no céu e não na terra. Que não devemos amar o dinheiro, mas saber onde ele deve estar na nossa escala de valores. Que devemos ser prudentes, honestos e íntegros. Por isso, devemos administrar as finanças juntos – marido, mulher, filhos – porque o mais importante é o entrosamento familiar, que propicia a todos trabalharem unidos puxando as rédeas do controle financeiro familiar.
No livro do Gênesis está escrito: “Por isso deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, e já não são mais que uma só carne” (2, 24). Deixar pai e mãe não significa apenas um deixar físico, mas refere-se também a um deixar emocional. O casal deve ter consciência da responsabilidade que tem ao formar uma nova família. Passarão a ser uma vida única, uma conta única, uma só família, um ser que vai cuidar da vida do outro, juntos. Isso também envolve a vida financeira do casal, da família.
Um caminho: montar uma planilha
Se não queremos cair nos extremos que citamos no início desse artigo – não se preocupar com nada ou ficar maluco querendo juntar tesouros como um fim em si – é muito importante planejar seu orçamento, o que pode tirar você de eventuais apuros nessa área. Colocar em uma planilha todos os seus custos e receitas é um bom início, se você deseja equilibrar suas finanças. Pois, dessa forma, você verá o quanto está ganhando, o quanto está gastando e se há espaço para poupar, visando despesas imprevistas ou a realização de algum projeto. Esse princípio básico – montar uma planilha – pode ajudar a mudar algumas atitudes que desequilibram o seu orçamento. O primeiro passo é ter dedicação e disciplina para que você consiga realizar uma análise e entender a forma como o seu dinheiro está sendo gasto. Consultamos vários meios que dão dicas na questão de controle financeiro. No geral os conselhos são muito parecidos, por isso destacamos os pontos mais repetidos que podem nos ajudar.
Os 10 mandamentos para equilibrar o seu orçamento familiar
1) Planeje seus gastos, pois planejar é essencial! Crie uma planilha no excel, baixe um aplicativo no celular ou monte um bloco de anotações… qualquer método é valido para que você consiga anotar seus ganhos e despesas mensais. Com tudo organizado, você conseguirá realizar uma análise e verificar onde estão os “gargalos”, como fazer para se equilibrar e, inclusive, como começar a poupar um pouquinho todo mês de maneira previdente, para evitar problemas futuros. Essa planilha vai ajudar a identificar os gastos supérfluos e que podem ser cortados do orçamento.
2) Faça um mapa das suas dívidas: cheque especial, cartão de crédito, empréstimos… É importante saber o tamanho do problema. Depois, negocie suas dívidas! Geralmente quem possui gastos exagerados e sem controle contrai grandes dívidas, e para tapar um buraco vai abrindo outros. Busque alternativas para que você possa pagar o que deve com menores juros, mas sempre lembrando que você deve buscar uma possibilidade de acerto das dívidas que caiba no seu orçamento.
3) Crie uma reserva. Após a organização das suas contas, e após equacionar as dívidas, é importante separar uma porcentagem de seus rendimentos para construir um fundo de reserva. Você pode começar a poupar 5 ou 10% dos seus rendimentos e ir aumentando ao longo do tempo. Isso servirá para um futuro imprevisto ou para a realização de um projeto (troca de carro, viagem, pagamento do estudo dos filhos, etc.).
4) Tenha uma lista de objetivos. Coloque na ponta do lápis quanto cada objetivo compromete seu orçamento e realize reservas para que consiga atingi-lo. E o que não está na sua lista não deve entrar no seu orçamento.
5) Cuidado com o cartão de crédito, que é um dos maiores vilões dos orçamentos. Ele deve ser administrado com cautela, pois a possibilidade de parcelar em várias vezes pode comprometer o seu orçamento. Grandes limites também iludem o consumidor e possibilitam a compra de itens supérfluos por impulso. Por isso, tome cuidado!
6) Evite comprar a prazo, especialmente quando há estabilidade no mercado, pois você pode fazer muitas compras ao mesmo tempo e esquecer que as parcelas começarão a vencer todo mês. Não esqueça que nas parcelas geralmente estão embutidos juros e taxas. Poupe para comprar à vista e talvez garantir um bom desconto. A autoeducação e o autocontrole são fundamentais nesse processo.
7) Envolva sua família no planejamento financeiro. Faça uma reunião com eles e explique ações que, em conjunto, vocês podem tomar para poupar mais dinheiro e ficar livre de dívidas. Proponha objetivos que todos possam usufruir, como uma viagem, uma televisão nova ou a ida a um restaurante. Traçando o objetivo, todos podem participar do orçamento que resultará em benefícios a cada um. Isso também estimulará a ter mais disciplina dentro de casa.
8) Controle-se no supermercado. Quando for realizar as compras, sempre leve uma lista do que você realmente irá precisar. Caso encontre um produto que esteja fora dessa lista, pense se realmente é necessário.
9) Pesquise preços. Para garantir melhores preços, é necessária muita pesquisa na internet e nas lojas. Tente sempre garantir o melhor preço do mercado. Sempre é melhor fazer a compra à vista, mas, se isso não for possível, aposte em parcelas com menores ou nenhum juros.
10) E, por fim, nunca gaste mais do que você ganha. Essa é a regra básica que se precisa ter em mente.
Nosso Pai nos fala
Planejamento financeiro é essencial para que você tenha uma vida mais organizada e não precise ficar se preocupando com dinheiro o tempo todo. Os bens materiais são necessários à nossa vida nesta terra, mas sua posse não deve ser a meta única, e nem a principal, de nossa vida!
Nosso Pai e Fundador, o Pe. José Kentenich, ensina que Jesus nos deu o exemplo da perfeita desnecessidade, apontando-nos os caminhos que devemos seguir: primeiro, tornar-nos interiormente independentes das coisas, para desapegar-nos delas; depois, também exteriormente, conforme as circunstâncias… Se esse desapego for verdadeiro, ele se manifestará em ações concretas quando chegar a ocasião (Santidade de Todos os Dias, Ed. Pallotti, vol, I, pag.197/198).
Nesse mesmo livro, o Pe. Kentenich escreve que Jesus, com seus ensinamentos, mostra que não nos é difícil entender quão efêmeros são os bens terrenos, pois que a ferrugem e as traças os consomem. Além disso, apresentam o perigo de dividirmos nosso coração, subtraindo de Deus uma parte essencial da doação total de nós mesmos. Não podemos, ao mesmo tempo, servir a Deus e sermos escravos das riquezas. Por conseguinte nossa atitude deveria ser: um cuidado moderado pela existência econômica e bem-estar, unido à independência interna de apegos desmedidos e uma elevada confiança na bondade paternal de Deus. Onde houver esta confiança, Deus providente e bondoso estará disposto a operar milagres, antes que falte o necessário aos seus (Santidade de Todos os Dias, Ed. Pallotti, vol, I, pag.202/203).
Concluindo
A administração correta da economia doméstica deve ser o caminho que nos conduz a uma vida tranquila, sem apegos exagerados aos bens terrenos e que propicie – por meio do uso equilibrado desses bens – uma vida digna para nós e nossos familiares.
* João e Maria Inês Faro são do Instituto de Famílias de Schoenstatt de Mairiporã/SP
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