Fraternidade e vida: dom e compromisso
Karen Bueno – Sim, hoje vamos falar sobre a Campanha da Fraternidade, mas, antes, uma historinha:
Quando o Pe. José Kentenich era um jovem diretor espiritual no seminário, em Schoenstatt, encontrou-se um dia no corredor com um tímido aluno do primeiro ano, que sentia muita saudade da mãe. O pequeno tinha um furúnculo numa mão e, por isso, a tinha enfaixado provisoriamente com um trapo. Pe. Kentenich parou-o e perguntou o que acontecera com a sua mão. O menino explicou. Com isso, o Fundador disse-lhe para tirar o trapo e examinou atentamente a mão doente, procurando ajudá-lo. Naquele momento, a saudade do menino foi desaparecendo, afinal, ele encontrou atenção e abrigo no coração do seu diretor espiritual. O rapaz tímido, mais tarde, recordou muitas vezes essa história tão simples, mas que marcou profundamente sua vida. [1]
O tema da Campanha, proposto para a Quaresma de 2020, é “Fraternidade e vida: dom e compromisso”. O texto de referência é a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37), com o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Vendo esse lema, nem é preciso falar muito, basta olhar a história singela recordada acima. Um exemplo tão prático, tão cotidiano, tão simples.
A Campanha deste ano certamente quer – e precisa – causar impacto social sobre o cuidado da vida. Mas ela também começa nas pequenas coisas do dia a dia, como um sorriso de motivação para aquele que está triste, a proximidade partilhada nas horas de dificuldade e aquela palavra que é tão querida para os schoenstattianos: vinculação.
Vinculação – que neste caso vemos também como sinônimo de “empatia” – leva a dedicar-se ao outro, a ver, sentir compaixão e cuidar. E, para quem gosta de desafio, a Campanha da Fraternidade é ousada. Ela coloca no centro a postura do samaritano diante de uma pessoa que ele não conhece e com quem não tem vínculo. O samaritano simplesmente estava passando pela estrada e se deparou com um homem todo machucado: quem é ele? De onde vem? O que ele pensa? Para qual time torce? Qual seu partido político? Nada disso importou, essas perguntas ficaram em segundo plano, porque em primeiro lugar veio a compaixão. Ou seja, para Jesus, o “próximo” não é apenas alguém com quem possuímos vínculos e afinidades, mas todo aquele de quem nos aproximamos.
Fácil é falar, difícil é viver…
Sem dúvida! Por isso existem alguns suportes, no Movimento Apostólico de Schoenstatt, que ajudam muito a viver com determinação o tema desta Campanha da Fraternidade.
O primeiro passo no caminho é deixar-se educar por Maria, pois ela é quem sabe moldar Cristo em cada um. Mas há também alguns exercícios que podem ajudar:
– Olhar atento, pela Aliança de Amor
Ver e sentir compaixão não é apenas cuidar e enfaixar o ferido largado na beira da estrada; é também, por exemplo, ver a lixeira repleta até a boca e sentir compaixão do meu esposo(a), ou dos meus pais, e esvaziar o lixo para eles. Ou mesmo ligar para a avó e o avô, ou um tio idoso que vive sozinho e não tem atenção. São os pequenos gestos de misericórdia que fazem grande diferença. É ser como a Mãe de Deus, que discretamente era capaz de enxergar as necessidades dos demais e agir.
– O Ideal pessoal ou comunitário indica a direção
Para tornar ainda mais interessante o desafio da Campanha da Fraternidade, poderia se ligar o tema dela com o meu ideal pessoal ou ideal de ramo/comunidade (saiba mais). Ou seja, responder o chamado da Igreja a partir do meu ideal. Por exemplo: sou do Jumas e meu ideal de ramo é “Vinculados por Maria, Fogo do Cristo Tabor” – unido à Mãe, quero ser fogo de Cristo no mundo e, para isso, preciso ver, parar e cuidar de quem está ao meu lado. Outro exemplo: a Liga de Famílias quer ser “Santuário Vivo de Schoenstatt, um novo Nazaré, Tabor para o mundo” – como posso agir igual ao samaritano dentro do meu lar (Nazaré) e para o mundo (Tabor)?
– Exame particular, autoconhecimento e autoeducação
Conhecer bem a si próprio ajuda a saber quais pontos são necessários melhorar. O exame particular, junto com o exame de consciência (saiba mais), podem dar um norte para o crescimento pessoal. “O que me faz parar? O que me tem feito parar? O que é capaz de interromper a minha rotina? O que desperta o meu coração, a minha vida para cuidar daquilo que está à beira do caminho?”, essas perguntas, para reflexão pessoal, são sugeridas pelo Pe. Patriky Samuel Batista, secretário executivo de Campanhas da CNBB [2].
– Horário Espiritual e a Campanha da Fraternidade
O Horário Espiritual (saiba mais) necessita receber ainda mais atenção na Quaresma. Como sugestão, poderia entrar nele algum propósito ligado à Campanha da Fraternidade, por exemplo: dar uma palavrada de conforto ou estímulo a alguém; ouvir com atenção o que meu filho tem a dizer, ou brincar com ele; economizar água (a palavra “vida”, no tema da Campanha, abrange todos os tipos de vida); ajudar nos cuidados com um idoso ou enfermo que conheço; estar atento e ajudar alguém que precisa de algo no dia a dia…
Foi dada a largada…
A cinza recebida nesta quarta-feira indica que o desafio começou. Com entusiasmo e criatividade, inicia o tempo especial de dar tudo pela missão, seguindo as pegadas do Cristo Tabor, da cruz à ressurreição.
[1] Ir. M. Anette Nailis. Padre José Kentenich – Como nós o conhecemos. Sociedade Mãe e Rainha, Santa Maria/RS
[2] https://www.cnbb.org.br/cf-2020-agir-como-o-bom-samaritano/