Para encontrar Aquele que nos busca
Pe. Carlos Padilla – O tempo da Quaresma, esses quarenta dias de deserto, são uma oportunidade para crescer. Paramos, olhamos nossas vidas e sonhamos em crescer, em ser mais, em pertencer por inteiro a Deus. Olhamos a esse Deus que nos salva e vem ao nosso encontro.
O tempo da Quaresma é um tempo para o sacrifício. Às vezes o uso dessa palavra nos assusta. Sacrificar, sacrificar-se, parece um verbo obsoleto. O mundo parece já não crer na importância do sacrifício. Hoje pedem-nos para nos sacrificarmos, renunciando a comida, deixando de comer carne às sextas-feiras, justo quando parece mais apetitosa. Convidam-nos a sacrificar nosso sonho para orar mais e ser mais generoso dando esmola. É como se o sacrifício fosse contra nosso desejo mais forte de sermos felizes. O significado real da palavra “sacrificar” é “fazer sagrado”. Passar as coisas ao terreno do sagrado e colocá-las sobre o homem.
Quando o sacrifício se torna fecundo
Quando nos sacrificamos, quando sacrificamos nossas vontades, fazemos sagrada essa entrega. Quando sacrificamos nosso tempo, dando-lhe aos que o necessitam, fazemos sagrada nossa generosidade. Sacrificar-se deixa de ter, então, um sentido meramente limitador, para ter um significado maior. Porque, desde o momento em que o entregamos a Deus, já não nos pertence. Quando nos sacrificamos no tempo da Quaresma, o fazemos por amor a Deus. Estamos buscando, desde nossa pequenez, que nossa vida seja mais santa, porque passa a ser propriedade de Deus. Ao fazer sacrifícios, de alguma forma, estamos nos consagrando a Deus e entregando-lhe tudo o que temos.
Por outro lado, o jejum que nos é pedido não somente se refere a deixar de comer e renunciar aos prazeres de cada dia. Não se trata apenas daquelas coisas que nos atam, de coisas que não são más em si mesmas. Quão importante é jejuar de outras coisas, como das críticas, do ciúme, da inveja e das comparações! Quanta felicidade damos a outros deixando de fazer aquilo que não edifica nem constrói. Hoje pede-se o jejum daquilo que envenena os outros, de nossos comentários fora de hora, de nossos maus pensamentos que nos afastam das pessoas. Convida-se ao jejum de tudo aquilo que não constrói, de atitudes que são negativas ante a vida, de ciúmes e apegos doentios.
A imagem que nos acompanha durante a Quaresma é a imagem do deserto. Necessitamos voltar sempre ao deserto para encontrar o Deus de nossa vida. […] É tempo para cultivar, em solidão, a amizade com quem nos busca, com esse Deus pessoal que nos quer e não nos deixa nunca. É um contato próximo e íntimo. Às vezes somos demasiado formais no contato com Deus. Pe. José Kentenich dizia: “Tem que falar com Deus de maneira original e autêntica, cada um com suas próprias palavras. Deveríamos aprender a dialogar com simplicidade. Falemos frequentemente com Deus, mas não com a boca, com o coração”. Nossa oração deve ser um descansar a cabeça no peito de Jesus. É aprender a confiar em seus planos sem medo, entregando-nos com paz.
Firmes na fé
Mas, o deserto também é o lugar das tentações. Ali Jesus foi tentado pelo demônio. O deserto, imagem dos extremos, é o lugar em que Deus e o demônio habitam. As tentações são mais fortes quanto mais queremos servir a Cristo e seguir seus passos. Quando buscamos a Deus no deserto, encontramos a tentação que nos convida a conformarmo-nos, a nos entregarmos por inteiro e nos quer fazer desistir de nossos grandes propósitos.
A tentação nos sugere seguir como estamos, sem mudanças. O demônio a semeia no coração. Mas nós, ante as tentações, nos sentimos seguros porque Deus vai conosco e porque já lhe entregamos tudo. Ante as tentações, entregamos o coração a Deus, nos colocamos totalmente em suas mãos e confiamos em seu amor.
*Texto retirado da homilia do dia 26 de fevereiro de 2012, disponível no site padrecarlospadilla.com