Ela pode significar restrição, ou podemos transformá-la em um presente e uma oportunidade
Pe. Antonio Bracht – Nestes dias nós vivemos a liberdade de duas maneiras diferentes. Para muitas pessoas, trata-se da restrição à sua liberdade de não poder fazer isto ou aquilo, de não poder ir à praia, não poder sair, não poder reunir-se com os amigos, não poder trabalhar…
Para outros, é uma possibilidade que não tinham antes: agora finalmente eu posso arrumar coisas que ficaram guardadas; posso falar com pessoas que não falo há muito tempo, posso telefonar, posso ler, posso rezar…
A liberdade sempre tem esses dois lados e nós gostamos de representá-la com a figura de um pássaro que voa, no horizonte. Mas, é preciso ter duas asas, se não, ele não consegue voar.
A liberdade, logo, precisa de duas coisas que expressamos com palavrinhas bem pequenas: liberdade de ir e para quê.
Liberdade para – fala do sentido do “para que sou livre”, para quê uso a liberdade? Mostra que na liberdade existe uma dinâmica de crescimento, nós precisamos alcançar esse “para quê”, nos movermos nessa direção, nos deixarmos educar na nossa linguagem da fé; é a liberdade dos filhos de Deus que queremos alcançar. Assim como os filhos se sentem livres porque os pais cuidam deles – eles brincam e sentem que tudo está resolvido – da mesma forma Deus gostaria que vivêssemos diante dele, na total confiança.
Pe. Kentenich ensina a caminhar para a liberdade
O Pe. José Kentenich, no começo do Movimento Apostólico de Schoenstatt, no tempo da fundação, estava no internato e sentia que os meninos [jovens seminaristas] estavam numa situação de insatisfação e revolta. Eles queriam liberdade! Tudo era muito marcado por regras, tudo era muito determinado, não havia espaço para se desenvolverem; então Pe. Kentenich lhes disse: “Vamos caminhar para a liberdade” – na formulação original que ele usou na época, disse: vamos nos “formar como personalidades firmes, livres e sacerdotais (ou apostólicas)”.
Os meninos disseram: “Oba! finalmente alguém entendeu o nosso anseio”. Mas o Pe. Kentenich disse: “Vamos devagar”, para chegar nesta liberdade, temos que deixar-nos educar na liberdade, se não, não seremos totalmente livres.
Pe. Kentenich percebeu também que esse tema da liberdade era fundamental num tempo de transição de uma época histórica para outra. Percebeu que neste pequeno espaço do internato, precisava dar uma resposta aos desafios da época, educar para a liberdade. Por isso, quando depois foi preso e levado ao campo de concentração, ele viveu todo esse tempo nessa mesma atitude. Era uma coerência nele conquistar uma liberdade interior mais profunda, todos juntos como família.
Viver em liberdade e confiança
Para poder viver a liberdade precisamos de algumas coisas: uma das mais muito importantes é a confiança. A confiança possibilita a liberdade!
Existe uma relação entre liberdade e confiança e podemos expressá-la negativamente, dizendo: quem desconfia dos outros é alguém que está preso no seu próprio mundo interior; nessa disposição de não confiar, é um prisioneiro desta realidade interior.
Positivamente, quem confia pode soltar, dar o lugar que lhes cabe, reconhecer a dignidade pois eles também têm a posse de si. Ele pode estabelecer vínculos, estabelecer relações e assim ser ele mesmo, deixar que eles sejam eles mesmos e contribuir com sua parte, permitindo que os outros contribuam com sua parte.
Viver em liberdade, vivendo vínculos, isso é a confiança que nos possibilita. É preciso poder confiar para crescer na liberdade.
A Mãe e Rainha, a grande educadora, nos dá a confiança, nos leva ao Senhor.
Todos nós, nesta quarentena, estamos passando por uma escola da liberdade. Sim, estamos num curso intensivo de como viver a liberdade. E nada melhor, numa escola, do que ter alguém que orienta bem, ter um bom professor, um bom mestre. Nós temos uma boa mestra: que é a nossa Mãe e Rainha; ela quer, à partir do Santuário, educar-nos; quer ser educadora da nossa liberdade. Ela é totalmente livre para Deus, totalmente entregue, confiada e quer nos ensinar essas atitudes. Se confiarmos filialmente em nossa Mãe, ela nos levará ao Senhor da nossa liberdade, a quem podemos entregar-nos totalmente.
Homilia do Pe. Antonio Bracht – Vallendar, Schoenstatt, 21 de março de 2020
Fonte: urheiligtum.de
Transcrição: Sueli Vilarinho, via santuariosiaojaragua.com.br
Lembrei da novena do Pé. Kentenich. “Livre em Algemas”. Lembrando do campo de Dachau.