“Senhor, torna-me madura como um grão de trigo, alimento para os famintos e desvalidos. Que toda minha vida seja uma oferenda, doação total, então, estarei vazia de mim mesma e madura para a eternidade” (Ir. M. Emilie Engel)
Ir. M. Claudete Rauen – Este ano estamos celebrando os cem anos da entrada das mulheres em Schoenstatt e, para tal, queremos voltar o nosso olhar àquelas que, ao longo da nossa história, nos marcaram por sua vivência de Aliança com a Mãe Três Vezes Admirável. Como também queremos conhecer um pouco sobre sua história de vida e sua personalidade singular.
E quando falamos em Ir. M. Emilie Engel, facilmente nos vêm à mente a sua vida sacrifical e a sua estreita relação com Deus Pai através da fé prática na Divina Providência. Esses, com certeza, são aspectos de sua vida aos quais devemos nos espelhar e motivar como schoenstattianos.
Ela era a quarta filha, de uma família de 11 irmãos, dos agricultores Arnold Engel e sua esposa Eva Katharina. Nasceu no dia 6 de fevereiro de 1893, no município de Husten, distrito de Olpe. Formou-se professora no ano de 1914 em Arnsberg e a partir daí exerceu esta tarefa com muita dedicação.
Em 1921 participa do primeiro congresso para mulheres em Schoenstatt/Vallendar, que se tornou o início de decisiva mudança no curso de sua vida. Incorpora-se à União Apostólica Feminina, selando, em 16 de abril de 1925, sua Aliança de Amor com a Mãe Três Vezes Admirável.
Dotada de grande espírito de doação, a sua vida foi marcada pelo serviço desprendido a Schoenstatt. “Cheguei a Schoenstatt para amar”, assim ela definia sua vocação principal. Seu amor, que ela presenteava silenciosamente no simples ajudar, doando-se desinteressada e despretensiosamente, amadureceu sempre mais e transformou-se em bondade.
Em 1926 coloca-se à disposição do Fundador, o Padre José Kentenich para iniciar o Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt.
A fragilidade do instrumento
O que caracterizou mais profundamente Ir. M. Emilie foi a sua fé na Divina Providência. Ela fez a profunda experiência de Deus, como o Deus da vida, que vem ao encontro dos seus filhos, que dialoga com eles, que lhes revela o seu plano de amor e que espera e deseja ver-nos como seus colaboradores. Quanto mais Ir. M. Emílie confiou sem reservas em Deus, tanto mais ricamente pôde experimentar o seu generoso auxílio.
Ainda muito jovem teve tuberculose, uma doença que no seu tempo era muito difícil de ser tratada. Teve que submeter-se a dolorosos e difíceis tratamentos que não tiveram o efeito desejado. Pouco a pouco ela foi entregando forças físicas, a capacidade de locomover-se, até chegar a ficar totalmente paralisada. Não perdeu, porém a sua alegria e no seu olhar podia-se encontrar o mistério mais profundo de Deus.
Apesar da sua fragilidade, dedicou-se totalmente a Schoenstatt e à missão que recebera do Fundador. Assumiu grandes responsabilidades na condução da Comunidade das Irmãs de Maria e tornou-se um vigoroso alicerce na edificação da jovem fundação. Precisou suportar muita aflição e experimentar toda a sua fraqueza, mas, ela rezou como uma criança confiante: “Estou certa que não me deixas cair. Desde toda a eternidade me abrigas em teu coração”. Ir. M. Emílie vivenciou que é possível despertar forças inimagináveis numa pessoa, se lhe presenteamos a nossa confiança. Do mesmo modo, nada honra tanto a Deus e atrai o seu auxílio, como a confiança de seus filhos.
A grandeza da entrega
Essa serenidade foi precedida por um doloroso processo de desprendimento. Ela gostava de contar uma história: quando estamos no entusiasmo de uma hora solene, no auge da nossa alegria, oferecemos a Deus todos os nossos dons e capacidades, como em uma ‘mala’, e entregamos tudo a ele. Deus se alegra e aceita a nossa oferta. Mas ele nos diz: ‘Podes levar de volta a tua mala. Depois, eu buscarei parte por parte, quando e como me agrada’. Quando jovem Irmã, Ir. M. Emílie ofereceu tudo a Deus pela santificação do mundo, até mesmo a prontidão para qualquer sofrimento imaginável. Primeiro, Deus lhe presenteou tudo de volta. Aos poucos, ele começou a escolher da “mala” as dádivas oferecidas. E, aos poucos, ela foi entregando uma coisa após outra. Ela desapegou-se até do desejo de ser curada. Pôde desprender-se de si mesma, porque sabia que Deus a amparava. Ela estava convicta: “Em Deus eu posso confiar, a ele eu posso me abandonar”. Com isso, ela permanecia livre e tranquila. A serenidade vive do estar abrigado em Deus.
Em tempos de pandemia
Quando celebramos os 100 anos das mulheres em Schoenstatt, a sua vida é para nós um modelo a seguir. Nós, mulheres de Schoenstatt, temos o diferencial de compreender, de forma tão única, como o bom Deus nos chama e conduz pela Aliança de Amor a sermos personalidades criadoras que deixam a sua marca no tempo. Justamente neste tempo de pandemia, em que, de uma hora para a outra nos vimos rodeados de insegurança, de medos e levados a uma situação de isolamento e assim privados da presença dos amigos, dos familiares, da participação na Eucaristia, da visita ao Santuário… a vida de Ir. M. Emílie nos é oferecida como exemplo. Na sua vida encontramos sinais concretos do ser e da vida de Maria, nossa querida Mãe. Tal como Maria, também Ir. M. Emílie sintonizou a sua vontade na vontade de Deus, confiando cegamente em seu amor.