A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (28 de maio) indicou que a taxa de desemprego no país subiu para 12,6% no trimestre. O saldo negativo foi resultado de 598.596 admissões e 1.459.099 demissões ao longo do último mês [1]. Mesmo sem saber sobre esses dados, você provavelmente conhece alguém que recentemente foi demitido do emprego. É uma realidade presente em todo o país.
Vivemos um tempo de crise e de novos desafios. A vida de muitas famílias virou de “cabeça para baixo” de uma hora para a outra e diversas pessoas seguem em busca de se reinventar e se reconstruir nesta “escola da pandemia”, que é, na verdade, uma escola da Divina Providência.
Para muitas pessoas e famílias é difícil lidar com a situação de vulnerabilidade a que foram expostas. O desemprego, as dificuldades de relacionamento, a carência de bens materiais… O que fazer? Que atitude tomar? Abaixo a psicóloga Camila Moreira, da Juventude Feminina de Schoenstatt, de São Paulo/SP, traz algumas reflexões sobre isso:
“Pedir ajuda”, o que essa simples ideia me remete? É uma frase pequena, poucas palavras, mas que pode assustar muita gente. Essa frase pode simbolizar, para alguns, um sinônimo de fracasso, humilhação, incapacidade, entre tantos outros sentimentos ruins. Cada vez mais queremos ter e mostrar para o outro a nossa independência, autossuficiência, quereremos ter tudo no controle, mas nem sempre nossos planos saem como imaginávamos.
Ter um conhecimento sobre si e tentar entender o porquê existe aquele sentimento relacionado a pedir ajuda, é o primeiro passo para evoluir. Às vezes criamos ideais que não condizem com os nossos pensamentos, então muitas vezes é necessário desmistificar aquele sentimento. Pe. José Kentenich nos deixou o ensinamento da autoeducação, pela qual conseguimos identificar nossas forças e, a partir disso, entender que ninguém vai tirá-las de nós; mas, quando descobrimos nossos pontos fortes, percebemos que também temos nossas fraquezas e limitações e que são nesses casos que precisamos de ajuda.
A nossa vida como um espelho
Temos o costume de ver a atitude do outro como um espelho, pensamos que as pessoas reagem da mesma maneira que nós reagiríamos em determinadas situações. Mas, por outro lado, temos a tendência de ter um olhar mais delicado, mais fraternal com o outro e, muitas vezes, conosco mesmos o olhar é sempre mais duro e mais severo. Sobre o tema que estamos tratando, veja um exemplo de como esse olhar é incoerente:
1) Quando alguém te pede ajuda, o que você pensa sobre essa pessoa? Você pensa que ela fracassou, que está se humilhando? Provavelmente não! Vemos nisso um gesto de humildade e, até mesmo, de grandeza em muitos casos.
2) Por outro lado, o que você sente quando pensa em pedir ajuda a alguém?
– Quer saber o que a pessoa vai pensar sobre você? Basta retornar à primeira pergunta.Pedir ajuda para o outro é um ato de autocuidado, pois conseguimos entender qual é o nosso limite. Isso porque muitas vezes o fardo fica pesado demais para carregarmos sozinhos. Nas crises, conseguimos enxergar atitudes de compaixão vindas do outro, um fortalecimento das relações. Tudo bem demonstrar que precisamos ser acolhidos pelo outro. A partir do momento em que você consegue pedir ajuda, aceite-a de coração.
Qual pessoa você confiaria para te ajudar?
Em relação aos vínculos, podemos dizer que criar uma rede de apoio é importante em todos os sentidos. Importante saber em quem se pode confiar, saber a quem podemos pedir essa ajuda – e a recíproca também vai existir, já que você estará ali para ajudar quando puder. Se permita tentar pedir essa ajuda e não desanime caso a resposta seja um “não”; tente um outro momento, para outra pessoa – às vezes a mesma pessoa que disse um não está com dificuldades também. Aceitar e pedir ajuda é um ato muito bonito de humildade, com ele não queremos demonstrar nossas limitações, mas mostrar a nossa força, a confiança que existe em nós, pois permitimos que o outro cuide daquela parte que precisamos.
Como schoenstattianos, temos instrumentos que nos auxiliam nessa jornada, como, por exemplo, o horário espiritual. Quando temos autoconhecimento, colocamos propósitos em nossas vidas e tentamos, a cada dia, lutar para conseguirmos ser melhores. Podemos incluir alguns pontos concretos no horário espiritual que ajudam a cultivar essa consciência de pequenez e da necessidade de ajuda dos demais. E ainda temos a Mãe de Deus como nossa educadora, para que possamos nos inspirar e nos espelhar em suas virtudes; queremos sempre ser reflexo de Maria. Sabemos que se desprender do orgulho e praticar a humildade é um desafio, mas a filialidade heroica nos ensina a entender nossa pequenez diante Deus, a confiar cegamente em seus planos.
Quando aceitamos a ajuda de alguém, ao invés de nos sentirmos fracassados, humilhados e incapazes, nos sentimos amados, confiantes e amparados, pois a pessoa que ajuda está estimulada a fazer isso por um sentimento que a guia, o amor, e esse sentimento só pode nos trazer coisas boas. Pedir ajuda é tão enriquecedor quanto ajudar. Que possamos cada vez mais, inspirados na pequenez de Maria, viver a filialidade heroica e buscar a santidade.
[1] https://www.infomoney.com.br/economia/taxa-de-desemprego-sobe-para-126-em-abril-e-atinge-128-milhoes-aponta-ibge/