Palavras do Pe. José Kentenich em ‘Estudo sobre a Santidade do dia-a-dia’, de 1937:
Pela habitação de Deus, nossa alma tomou-se um templo do Espírito Santo. Sim, está consagrada a toda a Santíssima Trindade. Por isso também perpassa em nosso corpo uma santa consagração. “O templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3,17). Como devemos nos sentir nobres ao pensar: Somos Igrejas peregrinas da Santíssima Trindade! (…)
Se o Deus três vezes santo mora em nós, é claro que sua presença só pode ser santificante. E ele é nosso santificador, ou seja, ele nos faz santos. (…)
Se perguntarmos o que é santidade, devemos dizer, no sentido do santo do dia a dia: é a resposta singela do filho ao amor do Pai, a resposta do amigo ao Amigo que bate à porta.
Santidade não é conhecimento morto, mas vida, e vida na Santíssima Trindade. O santo do dia a dia mostra sempre essa vida exuberante por meio de atos de adoração silenciosos, de um amor contrito, íntimo e magnânimo e através da imitação de Deus. O amor impele não só à união, mas também a assemelhar-se, a igualar-se ao Amado.
É algo grande ter a convicção: Deus mora em nós.
Esta pequena frase encerra todo um mundo de mistérios, cujos portadores somos nós. Tudo o que vimos e dissemos da filialidade, à luz da fé, é uma fraca tentativa de iluminar um pouco este grande mistério. Isso despertou em nós o desejo de afastar o véu ainda mais um pouco.
Outrora a voz que vinha da sarça ardente dizia a Moisés: “Tira as sandálias, porque o lugar em que pisas é terra santa” (Ex 3, 5). Realmente, também nós estamos em terra santa e aqui só podemos, com respeito temeroso e medo respeitoso, como que tateando, dar alguns pequenos passos para frente. Nossa razão humana, embora iluminada pela fé, é simplesmente muito pequena para captar o grande mistério da habitação de Deus em nossa alma.
A Santíssima Trindade habita em mim, ou seja, ela está em mim e me atrai de modo misterioso para a torrente da vida interior divina.[…] A Santíssima Trindade concedeu-me, pela graça, ser uma manifestação real, divina e própria entre as criaturas, de sua vida inter-trinitária.
Isso se verificou pela primeira vez no santo Batismo, que é um novo nascimento da alma. Pelo primeiro nascimento recebi a vida natural, corpo e alma. No novo nascimento é dado novamente à alma o que fora dado ao homem antes do pecado no paraíso e que todos deveriam ter, mas que foi perdido pelo pecado original.
O divino Salvador fala com Nicodemos a esse respeito e assegura: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer de novo, não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3,3). Com isso ele quer dizer: se queres ir para o céu, deves aceitar que se faça algo em ti, deves nascer de novo. Esse nascimento não é um nascimento da vontade do homem, mas da água e do Espírito Santo. E um nascimento verdadeiro, real, espiritual. Por meio dele a alma é purificada e enriquecida, recebe uma nova qualidade de ser: a vida divina ou graça santificante. Quem não tem essa qualidade não pode ir para o céu.
Fonte: Em aliança com a Santíssima Trindade – Textos escolhidos para o Ano da Graça 2000. Pe. José Kentenich. Editora Pallotti, Santa Maria/RS, 2000.