Nas épocas de grandes crises surgem santos
Ir. M. Ana Paula R. Hyppólito – As épocas de grandes crises no mundo foram, sem dúvida, impulso para o despertar de muito heroísmo na Igreja. Tempos de especial sofrimento e provações, como as guerras mundiais e tantos outros, fizeram surgir grandes santos que marcaram a história.
Vivemos novamente num tempo assim, a pandemia está sendo um divisor de águas. Se quisermos conhecer, de fato, uma pessoa, esse tempo é o mais propício, pois nele se vê quem aproveita tudo como um trampolim para sua autossantificação, para a solidariedade com os demais e para uma reflexão mais profunda sobre a essência da vida, levando-a à prática, ou se prende nas lamúrias e em seu próprio mundo, em seus próprios interesses, em seu próprio bem-estar.
A festa de Corpus Christi nos desinstala!
A festa de Corpus Christi, vivenciada neste tempo de pandemia, é um chamado para cada um de nós a buscarmos, como católicos, a essência da nossa vida: Cristo na Eucaristia, na Palavra e no próximo. Alguns já terão a oportunidade de participar da Santa Missa presencial; talvez a maioria apenas, ainda, pelos meios de comunicação. A saudade de comungar é grande em todos os fiéis! E nesta solenidade, a saudade aumenta, pois é a festa por excelência da Eucaristia!
Podemos aproveitar esta saudade para suplicarmos a graça de nos tornarmos pessoas eucarísticas, não apenas piedosas, mas que vivem do espírito de comunhão. A Eucaristia nos leva à comunhão com Deus, mas também com o próximo e isso é santidade, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Adorar e receber Jesus na Eucaristia é um ato, por si só, maravilhoso e digno, mas esse ato precisa nos levar a olhar para o nosso próximo como um outro Cristo, especialmente para quem convive conosco. E isso significa: fazer para ele o que eu gostaria que ele fizesse para mim, ouvi-lo, apoiar suas ideias, aceitar suas opiniões, seu modo de pensar, sua originalidade, até suas manias e aquilo que nos incomoda. Já começar o dia com a súplica: querida Mãe e Rainha, ajuda-me a saber o que falar, quando falar, como falar ou silenciar!
Neste tempo, precisamos redobrar nossa paciência. Estamos mais juntos, “esbarramos” mais uns nos outros em casa e, para isso, precisamos do auxílio do alto. Reconhecer que precisamos de ajuda para conseguir viver este tempo de pandemia como trampolim para nossa autossantificação já é um bom começo! Que não nos aconteça achar que “está tudo bem” e que o outro que me suporte! Precisamos da Eucaristia! Precisamos de Jesus!
O Pe. José Kentenich nos diz:
“Por isso não devemos ser apenas ‘filhos de Cristo’, mas devemos tornar-nos ‘filhos da Eucaristia’, amantes apaixonados da sagrada Eucaristia. Esta é a raiz. Quanto mais forte for a raiz, quanto mais procurarmos a união com Cristo, como ela se apresenta vivamente na liturgia, tanto mais poderemos e deveremos esperar que Cristo realmente as¬sumirá forma e vida em nós.
Que podemos fazer para tornar nossa vida mais eucarística? Quantas vezes me encontro diante do Tabernáculo? O Tabernáculo é meu lugarzinho predileto? Lembrando de como o grande educador, Dom Bosco, conseguiu transformar homens, num tempo que não mais tinha traços eucarísticos, quantas vezes nos deveríamos ajoelhar diante do Tabernáculo? No livro ‘A Santidade de Todos os Dias’ encontramos a bela expressão: não fazer muito espetáculo diante do público, mas ajoelhar-se em silenciosa meditação diante do Tabernáculo! Nossa vida deve decorrer diante do Tabernáculo. (…) Cristo é a raiz a partir da qual a árvore cresce. Cristo deve ser, cada dia mais, o centro de minha vida, para que eu me torne Cristo”. [1]
Mesmo que, no momento, não seja possível realizar este conselho na íntegra, podemos ser criativos e ficar mais tempo com Jesus, lendo sua Palavra na Sagrada Escritura e aproveitar a comunhão espiritual, mesmo em outros momentos durante o dia.
Sabemos que José Engling, nosso herói de Schoenstatt, nos horrores da guerra, conseguia se recolher para fazer a comunhão espiritual, pois lá ele também ficava muitas vezes sem a Santa Missa. Em sua biografia lemos:
“Enquanto caminhavam, José recolheu-se para a oração da manhã, que desta vez foi toda de ação de graças por ter sido salvo da morte. Renovou a reta intenção para aquele dia, recitou as preces de congregado e assistiu espiritualmente à Missa, fazendo a respectiva comunhão espiritual. Era domingo”. [2]
Como nossos heróis e nosso Fundador, aproveitemos este tempo para crescer na santidade! É a grande chance que temos! Mesmo que o que fazemos não seja notado nem valorizado, fiquemos firmes na subida para o alto.
[1] KENTENICH, José. Cristo, minha vida. Textos escolhidos sobre Cristo, 1997.
[2] OLIVO, Cesca. Herói de duas espadas.
Celebramos corpos de Cristo enfeitando o nosso coração por que ele é meu senhor e meu deus é o senhor da nossa vida de tudo que somos é temos