Para manter um ambiente mais agradável e magnânimo no lar
Simone Ribeiro Cabral Fuzaro – Agora que já ultrapassamos os 40 dias de isolamento social, em muitas casas estão presentes o estresse, o desânimo, a irritação. Já estamos vivendo um longo período num clima de preocupação com a saúde, de ansiedade e de espaço compartilhado sempre com os mesmos: nossa família mais próxima.
É importante que estejamos especialmente atentos à nossa comunicação com os demais, afinal, comunicação é fundamental ao convívio saudável. Comunicamos com os olhares, gestos, sorrisos, palavras, atos, silêncios e, quando tensos, o que comunicamos pode ser muito “prejudicial” ao bom convívio familiar.
Existem algumas orientações que podem nos ajudar neste momento: em primeiro lugar, é importante lembrar que todos estamos numa situação difícil e, por isso, mais sujeitos à irritabilidade aumentada, especialmente as crianças; que nenhum de nós controla os sentimentos provocados por essa situação e seus desdobramentos, mas que identificá-los e compreendê-los é muito importante; que a família é o nosso bem mais precioso e, por isso, não podemos deixar que o “vírus da discórdia” entre em nossos lares.
A fim de manter um ambiente bom, com uma comunicação construtiva e saudável, eis algumas dicas:
1. Ter clareza do objetivo. O que queremos comunicar e para quê.
2. Identificar o que é essencial e o que não vale a pena tratar. Se o objetivo for construir relações sólidas, harmônicas e felizes, precisamos identificar o que vai contribuir com isso e o que simplesmente vai ter o papel de reclamação, podendo magoar e prejudicar a relação. Faz parte do crescimento pessoal e da maturidade aprender a relevar o que não é essencial. O convívio familiar é uma excelente oportunidade de amadurecimento pessoal em todas as idades.
3. Escolher o momento adequado. Falar impulsivamente, no calor de sentimentos negativos, raramente surte bons efeitos. Neste momento, o melhor a fazer é calar, esperar o tempo necessário para recobrar a serenidade e, aí sim, identificar o que vale a pena dizer e como dizer para alcançar o objetivo. Essa prudência nos ajudará a evitar palavras duras, que possam criar barreiras difíceis de transpor
4. Expressar sentimentos, evitar acusações. Gera conexão dizer, por exemplo: “Eu me sinto triste quando isso acontece”. Ao contrário, falas acusatórias constroem muros e iniciam o movimento de busca de culpados, o que nunca traz benefícios às relações.
5. Cuidar dos gestos, atitudes e expressões faciais. A fala é normalmente responsável somente por 30% daquilo que comunicamos, sendo que os outros 70% acontecem por força do conjunto de expressões que manifestamos com nosso rosto, corpo, entonação e silêncio. Uma frase conhecida do filósofo Ralph Waldo Emerson diz: “O que você faz fala tão alto que não consigo escutar o que você diz”. E não é mesmo verdade que muitos mal-entendidos surgem pela incoerência entre o conteúdo dito e o modo de se expressar? Às vezes por uma argumentação irônica, um sorriso, um olhar de desabono.
6. Certificar-se de que a mensagem foi compreendida. Especialmente em relação aos filhos, é importante verificar se entenderam o que pretendíamos dizer, pedindo que nos digam o que entenderam, se forem crianças, e que expressem como estão se sentindo, se forem maiores.
7. Tratar os assuntos com bom humor. Todos temos nossas dificuldades e limitações; tratar, portanto, com bom humor nossos deslizes e os dos demais pode ser uma excelente saída para manter o ambiente mais amável.
8. Pedir desculpas. Somos humanos e estamos numa situação absolutamente inusitada: eventualmente podemos ser agressivos ou inadequados. O melhor a fazer quando isso acontece é, com humildade, pedir desculpas e recomeçar. No relacionamento familiar, é muito importante a luta por oferecer o melhor de nós e que grande exemplo e entrega é reconhecer nossos erros e nos desculpar por eles.
A família é composta de seres únicos, irrepetíveis, com diferentes temperamentos e modos de ser, e, por isso, o conhecimento mútuo é uma grande riqueza e um enorme desafio. Estabelecer uma boa comunicação requer dedicação, mas traz benefícios que valem a pena em qualquer circunstância!
Fonte: texto divulgado no jornal O São Paulo, edição 3297, de 13 a 19 de maio de 2020. O jornal é um semanário da Arquidiocese de São Paulo