“Esta é a base sólida em que repousa o trabalho do cristão. Deus trabalha constantemente com ele. Isto o impulsiona a trabalhar também constantemente com Deus. Deus vive nele e com ele! Ele vive em Deus e com Deus” (Pe. José Kentenich) [1]
Roberta Queli de Santi / Joelma Melo – Para entender uma mulher, antes é necessário sonhá-la»: eis por que a mulher é «o grande dom de Deus», capaz de «trazer harmonia à criação». A ponto que, confidenciou o Papa Francisco com um toque de ternura poética, «gosto de pensar que Deus criou a mulher para que todos nós tivéssemos uma mãe». Foi um verdadeiro hino às mulheres o que o Pontífice propôs na missa. É a mulher, reconheceu Francisco, «que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela». E se «explorar as pessoas é um crime de lesa humanidade, explorar uma mulher é mais do que um delito e de um crime: significa destruir a harmonia que Deus quis dar ao mundo, é voltar para trás». [2]
Falar sobre a mulher no mercado de trabalho é um tema que pode seguir muitas vertentes e para melhor ambientar os leitores, informamos desde já que não é nosso objetivo tratar das desigualdades entre homens e mulheres. Não se trata de não ser este tema de grande importância, pois é muito relevante no contexto social e para melhoria de políticas públicas, mas o nosso olhar neste momento é para o ser feminino no ambiente do trabalho e o que Schoenstatt pode oferecer para a mulher neste ambiente.
Como influenciar o ambiente de trabalho?
É importante lembrar que a participação das mulheres no mercado de trabalho começa a ter um papel relevante na 2ª metade do século 18, com a Revolução Industrial e a necessidade de mão de obra para o fortalecimento da indústria. É evidente que a mulher participava do mercado de trabalho bem antes, mas, em termos percentuais, essa participação era quase inexpressiva. Na prática, também vemos isto ao ouvirmos os relatos de nossas avós, mães, tias, vizinhas mais idosas, sobre sua história de vida. Muitas podem exemplificar como foi expressivo a abertura do mercado de trabalho para as mulheres neste último século.
Neste campo, o que a mulher schoenstattiana tem de diferente? Como ela pode influenciar e transformar o ambiente de trabalho? Essas são perguntas que devemos nos fazer neste ano de 2020, quando celebramos os 100 anos da presença feminina no Movimento de Schoenstatt.
A enfermeira Gertraud, primeira mulher a ingressar no Movimento de Schoenstatt
Olhando para a origem, para as primeiras mulheres em Schoenstatt, lembramos da Condessa Gertraud von Bullion, mulher à frente de seu tempo. De personalidade firme e caráter forte, mas ao mesmo tempo meiga e preocupada com o desenvolvimento pessoal e espiritual de cada pessoa que a Mãe de Deus colocava em seu caminho. Ao lermos sua biografia, vemos o quanto a mulher pode influenciar o mundo do trabalho através do seu ser e agir.
“Os seus pacientes afeiçoavam-se a ela com respeito e grata admiração. Havia grande respeito por ela, e ela, em caso de necessidade, sabia impor-se, sem que a sua maternidade sofresse por causa disso… Muitos pacientes continuaram mais tarde a corresponder-se com a enfermeira Gertraud. Estas cartas são documentos de enternecedora gratidão.” [3]
A nobreza do ser feminino
A mulher schoenstattiana que busca viver com fidelidade sua Aliança de Amor e trilha os caminhos da pedagogia de Schoenstatt, transmitida pelo Pe. José Kentenich, resplandece em seu ambiente de trabalho a nobreza do ser feminino, da responsabilidade maternal impressa por Deus na alma de cada mulher. Para o Pe. José Kentenich, era essencial que a mulher fosse educada para ser plena de Deus, para que chegasse à compreensão de si mesma, de seu ideal de vida e missão. Para ele, o ideal de mulher desfigurado ou estraçalhado ocasiona confusão e destruição, porém “o ideal da mulher divinizada, constantemente conservado e vivido, é de maior valor, importância e fecundidade para uma nação do que sair vitoriosa de uma guerra mundial.” [4]
Seja em qual atividade for…
São inúmeras as atividades exercidas pelas mulheres schoenstattianas no ambiente de trabalho. Professoras, enfermeiras, médicas, policiais, dentistas, cuidadoras, executivas… O que elas têm em comum? Levam para seu ambiente de trabalho a consciência de seu ideal pessoal e do que o bom Deus e a Mãe Três Vezes Admirável esperam dela naquele ambiente. São capazes de, com liberdade interior, pensar, falar e agir com base nos ensinamentos de Cristo e de sua Igreja. Buscam gerar em cada ambiente uma cultura de aliança, valorizando cada pessoa e tratando a todos com o respeito e dignidade de Filhos de Deus. Seu atuar, fundamentado na Aliança de Amor e nas exigências deste compromisso, a levam a elevar ao máximo as exigências em relação a si mesma, a cumprir fielmente seu dever, sendo exemplo para seus colegas.
É cada vez mais perceptível o grande potencial da mulher no mundo do trabalho. Segundo o estudo “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo – Tendências para mulher em 2017” [5], elaborado pela Organização Mundial do Trabalho – OIT, o aumento da presença feminina no mercado de trabalho poderia injetar R$ 382 bilhões na economia brasileira. Para que isso aconteça, é necessário reduzir, até 2025, a desigualdade na taxa de presença feminina em 25%. “Uma das principais conclusões do estudo é que a redução dessas lacunas no mercado de trabalho geraria importantes benefícios econômicos na forma de crescimento do PIB e melhoraria o bem-estar individual em múltiplas dimensões.”
Em uma pesquisa do IBGE em 2017 apontou que as mulheres ocupavam apenas 10,5% das cadeiras na Câmara Legislativa e 16% no Senado Federal. Em um ranking da Inter Parliamentary Unio [6], com informações de 190 países, o Brasil ocupa o 157º lugar de cadeiras ocupadas por mulheres em câmeras ou parlamento.
As pesquisas mencionadas acima revelam que a mulher schoenstattiana tem à sua frente a grandiosa missão de penetrar no mundo do trabalho e atuar nele em todos os seu âmbitos, transformando profundamente o futuro da sociedade. Será que já nos perguntamos onde está a mulher schoenstattiana na política, na justiça, na polícia, nos centros de pesquisa, nas redes sociais, no Youtube, no Instagram? Faltam exemplos femininos a serem seguidos e a sociedade necessita de personalidades firmes, livres e apostólicas, capazes de formar o homem novo na nova sociedade.
Que sejamos “fonte de graças” e “escola de santidade”
Também a mulher schoenstattiana deve estar “empenhada em todos os âmbitos da vida social, econômica, cultural, artística e política e contribuir para uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, para uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do «mistério», à edificação de estruturas econômicas e políticas mais ricas de humanidade…».” [7]
Buscar ocupar seu espaço no ambiente de trabalho não é uma batalha fácil para a mulher schoenstattiana. É necessário enfrentar as realidades que envolvem competições, fofocas, depreciação da figura feminina, além das diferenças salariais, o desânimo, a dupla jornada de trabalho. Neste sentido, as lutas frequentes são vencidas com o empenho prático pelo reconhecimento da dignidade da mulher e com uma profunda vinculação ao mundo sobrenatural. Estar vinculada a Deus e a Mãe de Deus, sentir-se abrigada no Santuário, exaurindo dali as forças e graças necessárias e buscando no Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, a orientação para conseguir fazer resplandecer em seu ser a personalidade nova, querida por Deus, a Pequena Maria, que continua a atuar no mundo, são as armas que a mulher recebe quando diz o seu SIM à Aliança de Amor. Com estes instrumentos ela se torna vencedora em todas as batalhas, pois jamais vai perecer quem fiel à Aliança permanecer!
O que nosso Pai e Fundador espera de cada profissional schoenstattiana? Que sejamos, com humildade, “fonte de graças” e “escola de santidade” cada uma com seu dom e missão [8]. Ele ainda nos leva a um questionamento… “Onde estão as dificuldades? Vamos rezar: Faze que eu não me desencoraje, mas tenha confiança!” Pe. J.k.
* Contribuição da União Apostólica Feminina de Schoenstatt
Referências:
[1] KENTENICH, Pe. José. Santidade de Todos os Dias. Natureza do trabalho em união com Deus.
[2] http://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2017/documents/papa-francesco-cotidie_20170209_mulher-harmonia-mundo.html
[3] LAUER, Nikolaus. Gertraud von Bullion: Servian resposta de amor. Paulus, 2009, pg 72.
[4] KENTENICH, José. A riqueza de ser puro. 3ed. 2001, p. 20.
[5] International Labour Oranization. World Employment and Social Outlook: Trends for women 2017. Disponível em: http://www.ilo.org/global/research/global-reports/weso/trends-for-women2017/WCMS_557245/lang–pt/index.htm
[6] Women in national parliaments. 2019. Disponível em: http://archive.ipu.org/wmn-e/classif.htm
[7] João Paulo II. Carta às Mulheres, 1995, n. 2. Disponível em: http://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1995/documents/hf_jp-ii_let_29061995_women.html
[8] Ir. M. Neiva Pavlak, schoenstatt.org.br/2019/11/23/ser-mulher-em-schoenstatt-dom-e-missao