Nas suas conferências o Papa João Paulo II oferece respostas a muitas perguntas que fazemos. Nas palavras que proferiu aos movimentos, reunidos no Vaticano em 27 e 30 de maio de 1998, podemos esclarecer diversas dúvidas sobre a existência dos movimentos na Igreja.
Seguem alguns esclarecimentos feitos pelo Santo Padre.
OBS: Para que o leitor possa conferir que não mudamos o sentido da mensagem, ao final está o link pelo qual se pode ler essas palavras, em seu contexto original.
O Santo Padre apóia a existência dos Movimentos:
“Desde o início do meu Pontificado, atribui especial importância ao caminho dos Movimentos Eclesiais e tive ocasião de apreciar os frutos da sua difundida e crescente presença no decurso das visitas pastorais às paróquias e nas viagens apostólicas. Constatei com prazer a sua disponibilidade para pôr as próprias energias ao serviço da Sé de Pedro e das Igrejas locais. Pude indicá-los como novidade que ainda espera ser adequadamente acolhida e valorizada”. (Santo Padre, Papa João Paulo II na MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS, 2. 27 de Maio de 1998.)
“Que se entende por ‘Movimentos’?
O termo é com freqüência referido a realidades diversas entre si, às vezes, até por configuração canônica. Se, por um lado, ela não pode certamente exaurir nem fixar a riqueza das formas suscitadas pela criatividade vivificante do Espírito de Cristo, por outro, porém, está a indicar uma concreta realidade eclesial de participação, em que prevalece o laical, um itinerário de fé e de testemunho cristão que assenta o próprio método pedagógico, sobre um carisma preciso dado à pessoa do fundador, em circunstâncias e modos determinados.” (Idem, 4)
Como o Santo Padre vê os Movimentos na Igreja?
“Eles representam um dos frutos mais significativos daquela primavera da Igreja já prenunciada pelo Concílio Vaticano II, mas infelizmente não raro obstaculizada pelo difundido processo de secularização. (…) Embora na diversidade das formas, os Movimentos caracterizam-se pela comum consciência da “novidade” que a graça batismal traz à vida, pelo singular anelo de aprofundar o mistério da comunhão com Cristo e com os irmãos, pela firme fidelidade ao patrimônio da fé transmitido pelo fluxo vivo da Tradição. Isto dá origem a um renovado impulso missionário que leva a encontrar os homens e as mulheres da nossa época, nas situações concretas em que vivem e a pousar um olhar repleto de amor sobre a dignidade, as necessidades e o destino de cada um.” (Idem, 2)
Que contribuição os Movimentos oferecem para a Igreja?
“Os carismas reconhecidos pela Igreja representam vias para aprofundar o conhecimento de Cristo e para se dar com mais generosidade a Ele, enraizando-se contemporaneamente, sempre mais, na comunhão com o inteiro povo cristão. Eles merecem, por isso, atenção da parte de cada membro da Comunidade eclesial, a começar pelos Pastores, aos quais é confiado o cuidado das Igrejas particulares, em comunhão com o Vigário de Cristo. Os Movimentos podem assim oferecer um contributo precioso à dinâmica vital da única Igreja, fundada sobre Pedro, nas diversas situações locais, sobretudo naquelas regiões onde a “implantatio Ecclesiae” ainda está no início ou submetida a não poucas dificuldades.
Muitas vezes tive ocasião de ressaltar como na Igreja não existe contraste ou contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os Movimentos são uma expressão significativa. Ambas são co-essenciais à constituição divina da Igreja fundada por Jesus, porque concorrem juntas para tornar presentes o mistério de Cristo e a sua obra salvífica no mundo. Juntas, além disso, têm em vista renovar, segundo os seus modos próprios, a autoconsciência da Igreja, que se pode dizer, num certo sentido, ela mesma “Movimento” enquanto acontecimento, no tempo e no espaço, da missão do Filho, por obra do Pai no poder do Espírito Santo.” (Idem, 4-5)
A Igreja precisa dos Movimentos?
“Os aspectos institucional e carismático são como que co-essenciais à constituição da Igreja e concorrem, ainda que de modo diverso, para a sua vida, a sua renovação e a santificação do Povo de Deus. E desta providencial redescoberta da dimensão carismática da Igreja foi que, antes e depois do Concílio, se consolidou uma singular linha de desenvolvimento dos movimentos eclesiais e das novas comunidades.” (Santo Padre, Papa João Paulo II MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS, 4. 30 de Maio de 1998)
Muitos movimentos diferentes não poderiam gerar divisão dentro da Igreja?
“Vós representais mais de 50 Movimentos e novas formas de vida comunitária, que são expressão de uma multiforme variedade de carismas, métodos educativos, modalidades e finalidades apostólicas. Uma multiplicidade vivida na unidade da fé, da esperança e da caridade, em obediência a Cristo e aos Pastores da Igreja. A vossa própria existência é um hino à unidade, na pluriformidade querida pelo Espírito, e dela dá testemunho. Com efeito, no mistério de comunhão do Corpo de Cristo, a unidade jamais é homogeneidade monótona, negação da diversidade, assim como a pluriformidade jamais se deve tornar particularismo ou dispersão. Eis por que cada uma das vossas realidades merece ser valorizada pelo peculiar contributo que oferece à vida da Igreja.
Cada Movimento difere do outro, mas todos estão unidos na mesma comunhão e para a mesma missão. Alguns carismas suscitados pelo Espírito irrompem como vento impetuoso, que arrebata e atrai as pessoas para novos caminhos de empenho missionário,ao serviço radical do Evangelho, proclamando sem temor as verdades da fé, acolhendo, como dom, o fluxo vivo da tradição e suscitando em cada um o ardente desejo da santidade.” (Santo Padre, Papa João Paulo II MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS, 3. 27 de Maio de 1998. )
Nem sempre os Movimentos são entendidos e aceitos:
“O seu nascimento e a sua difusão trouxeram à vida da Igreja uma novidade inesperada e, por vezes, até explosiva. Isto não deixou de suscitar interrogativos, dificuldades e tensões; às vezes comportou, por um lado, presunções e intemperanças e, por outro, não poucos preconceitos e reservas. Foi um período de prova para a sua fidelidade, uma ocasião importante para verificar a genuinidade dos seus carismas. Hoje, diante de vós, abre-se uma etapa nova, a da maturidade eclesial. Isto não quer dizer que todos os problemas tenham sido resolvidos. É, antes, um desafio, uma via a percorrer. A Igreja espera de vós frutos «maduros» de comunhão e de empenho.” (Santo Padre, Papa João Paulo II MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS ECLESIAIS, 6. 30 de Maio de 1998)
Como o Santo Padre analisa a vinculação dos membros do Movimento ao carisma de seu Fundador?
“Acolhei com gratidão e obediência os carismas que o Espírito não cessa de dispensar! Não esqueçais que cada carisma é dado para o bem comum, isto é, em benefício de toda a Igreja! Pela sua natureza, os carismas são comunicativos e fazem nascer aquela «afinidade espiritual entre as pessoas» (cf. Christifideles laici, 24) e aquela amizade em Cristo que dá origem aos «Movimentos». A passagem do carisma originário ao Movimento acontece pela misteriosa atração exercida pelo Fundador sobre quantos se deixam envolver na sua experiência espiritual. Desse modo, os movimentos reconhecidos oficialmente pelas autoridades eclesiásticas propõem-se, como formas de auto-realização e reflexos da única Igreja.” (Idem, 5-6)
Como conservar e garantir a autenticidade do carisma?
“Nos Movimentos e nas novas comunidades aprendestes que a fé não é questão abstrata, nem vago sentimento religioso, mas vida nova em Cristo, suscitada pelo Espírito Santo. Os verdadeiros carismas não podem senão tender para o encontro com Cristo nos Sacramentos. As verdades eclesiais a que aderis ajudaram-vos a redescobrir a vocação batismal, a valorizar os dons do Espírito recebidos na Confirmação, a confiar-vos à misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação e a reconhecer na Eucaristia a fonte e o ápice da inteira vida cristã. E de igual modo, graças a essa forte experiência eclesial, surgiram esplêndidas famílias cristãs abertas à vida, verdadeiras «igrejas domésticas», desabrocharam muitas vocações ao sacerdócio ministerial e à vida religiosa, assim como novas formas de vida laical inspiradas nos conselhos evangélicos.” (Idem, 7)
Como saber se estamos colocando nosso carisma realmente a serviço da Igreja?
“É fundamental, a respeito disso, que cada movimento se submeta ao discernimento da Autoridade eclesiástica competente. Por esta razão, nenhum carisma dispensa da referência e da submissão aos Pastores da Igreja. Com palavras claras o Concílio escreve: «O juízo acerca da sua autenticidade e reto uso pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito, mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1 Ts 5, 12.19-21)» (Lumen gentium, 12). Esta é a necessária garantia de que a estrada que percorreis é justa!” (Idem, 8)
Conselhos do Santo Padre:
“Na confusão que reina no mundo de hoje é fácil errar, ceder às ilusões. Na formação cristã cuidada pelos movimentos jamais falte o elemento desta confiante obediência aos Bispos, sucessores dos Apóstolos, em comunhão com o Sucessor de Pedro! Conheceis os critérios de eclesialidade das agregações laicais, presentes na Exortação Apostólica Christifideles laici (cf. n. 30). Peço-vos que lhes deis adesão, sempre com generosidade e humildade, inserindo as vossas experiências nas Igrejas locais e nas paróquias, sempre permanecendo em comunhão com os Pastores e atentos às suas indicações.” (Idem)
Mensagem Final:
“Estou convosco! Tornai-vos corajosos mensageiros do Evangelho, testemunhas de Jesus Cristo ressuscitado, Redentor e Salvador do homem. Fortalecei o vosso amor e a vossa fidelidade à Igreja. Cristo repete a cada um de vós: «Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a todas as criaturas» (Mc 16, 15). Ele conta com cada um de vós, a Igreja conta convosco. «Eis — assegura o Senhor — eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo» (Mt 28, 20).
À Maria, primeira discípula de Cristo, Esposa do Espírito Santo e Mãe da Igreja, que acompanhou os Apóstolos no primeiro Pentecostes, dirigimos o nosso olhar, para que nos ajude a aprender do seu Fiat a docilidade à voz do Espírito.” (Idem, 9)
Agradecemos ao Santo Padre, por deixar-se guiar pelo Espírito Santo e pedimos à Mãe e Rainha de Schoenstatt que sempre o acompanhe!
Para ler os textos na íntegra clique nos links abaixo:
- Palavras aos movimentos em 27 de maio de 1998
- Palavras aos movimentos em 30 de maio de 1998
- Palavras aos movimentos em 30 de maio de 1998
Publicação neste site em 2014