Sobre canonizar nosso Fundador em nossa própria vida
Ana Beatriz Biagioli Manoel Suzan – Quero começar refletindo sobre como nossa vida é movimento, pois quando deixar de ser, já não é mais vida.
O planeta Terra não é estático no universo, assim como acontece com todos os corpos celestes. Ele realiza uma série de movimentos envolvendo a órbita em torno de si mesmo, ao redor do sol, em conjunto com a Via Láctea e com o próprio universo.
As plantas não são estáticas, elas não se locomovem, mas se movimentam em direção à luz, geralmente pela ação da gravidade suas raízes crescem em direção ao centro da Terra e o caule no sentido contrário.
Até mesmo animais que não se locomovem, realizam movimentos.
E o corpo humano? Foi feito para o movimento, não fomos criados para ficarmos parados, existe todo um movimento interno que nos mantem vivos e ainda sim precisamos nos movimentar para não “enferrujarmos”.
A palavra movimento vem do Latim movere, “colocar em marcha, mover, fazer deslocar-se”. Adquiriu uma conotação de “grupo que visa a determinadas alterações sociais ou políticas ou religiosas” na primeira metade do século XIX.
E, como um Movimento Apostólico, não podemos permanecer estáticos, ou seja, precisamos nos movimentar, pois somos movidos por uma missão, somos movidos por um Ideal, a exemplo dos apóstolos que foram chamados por Jesus para segui-Lo.
A Mãe de Deus nos escolheu para sermos seus instrumentos na missão confiada ao nosso Pai e Fundador. Por meio do nosso carisma, pois no Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt selamos uma Aliança de Amor com Ela, como forma original de viver o batismo e contribuir para a renovação da sociedade. E assim sermos capazes de cumprir nossa missão colaborando com a Igreja para a formação de personalidades livres, capazes de gestar uma nova ordem social, alicerçada no amor.
A Aliança de Amor se projeta na vida diária e no apostolado. Somos um Movimento Apostólico, lembra? Não somos um movimento devocional ou piedoso – não desmerecendo os movimentos devocionais e piedosos, o que quero dizer é que nosso carisma nos impulsiona a movimentarmos, pois Schoenstatt é filho da Fé Prática na Divina Providência.
Não é o senso comum de Divina Providência, mas sim um Deus presente, vivo que nos mostra a sua vontade, onde tenho que atuar, guiando-nos pela Lei da Porta Aberta, somos orientados por Deus e então abrimos a porta.
Cada um chegou a Schoenstatt por um caminho, a Mãe chamou cada um individualmente, alguns desde que nasceram, outros na infância, outros na juventude, outros na vida adulta e outros na velhice, cada um para um determinado ramo, pois tem espaço para todo mundo.
Para sermos schoenstattianos verdadeiros, a primeira porta que precisamos abrir é a porta que nos leva para dentro de nós mesmos. Ou seja, o movimento começa dentro de nós, de dentro para fora, por meio do nosso autoconhecimento, da nossa autoeducação, isso gera um movimento em nosso interior, permitindo-nos sentir uma paz “inquieta” –não é mágica, é um processo que leva tempo, não para, é orgânico.
Porém para ser orgânico é necessário respeitar os processos, não estamos numa estufa sendo cultivados fora de época. Cada um tem o seu tempo de crescimento e amadurecimento, que precisa ser estimulado, mas também respeitado. Temos um solo fértil, a Aliança de Amor faz com que nós possamos crescer, desenvolver e amadurecer. Regamos esse solo com as contribuições ao Capital de Graças, oferecendo tudo o que somos e temos, permitindo que o homem novo floresça.
Nosso amor à Mãe é uma aliança dinâmica, pessoal, interpessoal (eu e Ela), o nada sem Vós e nada sem nós garante esse dinamismo. E juntos traçamos um caminho e juntos vamos descobrindo o que o Bom Deus quer e espera de mim nesse caminho, confiando e sentindo sua presença, seu cuidado, sua força, para que brotem em mim, as virtudes que necessito para realizar o Seu plano em minha vida. Colocando meus dons à serviço de minha comunidade, do Movimento e da Igreja.
Como conseguimos cultivar essa dinâmica, ainda mais? Nos vinculando a cada dia, a cada momento à Mãe de Deus, ao Santuário e ao nosso Pai e Fundador.
É vital nos vincularmos à Mãe e ao Santuário, talvez seja até mais fácil, pois, como brasileiros, temos muita facilidade para a devoção, sendo a porta de entrada para a vinculação, mas não é suficiente para sermos schoenstattianos. É vital também nos vincularmos ao nosso Pai e Fundador.
Será que, ao olharem para nós, somos reconhecidos como seus filhos? Trazemos em nós suas características? Ou será que somos uma colcha de retalhos? Dizemos “vamos contigo Pai”, mas muitas vezes buscamos fora e não valorizamos o tesouro que temos.
São João Paulo II, em 2005, disse, de maneira imperativa, para a Família de Schoenstatt em uma audiência: “Canonizai vós mesmos o vosso Fundador!”.
Depende de nós nos movimentarmos, sair da nossa zona de conforto e ir ao encontro desse Pai, que nos deixou um legado atemporal e de valor infinito.
Não é fácil, porque não é uma receita de bolo ou matemático conhecer e entender seus ensinamentos e pensamentos, não existe um check-list a ser cumprido. Precisamos deixar de lado o pensamento minimalista que não enxerga a vida em seu contexto completo; o pensamento monolítico que vê a vida através de uma lente pré-determinada, que encontra um modelo e se apega a ele e o pensamento mecanicista que separa a vida e suas ideias.
Como disse o Pe. Jonathan Niehaus em 2008, nossa origem foi um processo de vida, surgiu de um movimento de vida, seu pensamento é altamente criativo, pois lê a vida, sempre tem coisas novas para observar e refletir.
Temos que ver as coisas a partir de uma nova perspectiva e cultivar:
- o pensar orgânico, que relaciona, está perto da vida e que vê o todo;
- o amar orgânico, amando e amadurecendo no amor, conhecendo todas as formas de amor e desenvolver em mim todos os tipos de amor, pois me realizo como imagem de Deus na medida que dou amor e que recebo amor.
- o viver orgânico, unindo atitude e forma, espírito e vida, expressando e assegurando todas as formas de amor, através dos organismos natural e sobrenatural das vinculações.
Para sermos filhos de Schoenstatt, cada um individualmente, cada ramo que forma a árvore que é o Movimento Apostólico de Schoenstatt, precisa cultivar o pensar, amar e viver orgânicos, enxergar os distintos dons que cada Ramo oferece à Obra. Não existem “os melhores”, todos somos importantes e necessários, pois temos que ser o que o Pai sonhou para nós.
E juntos, um com o outro, um no outro e um para o outro cumprirmos a missão deixada por Ele. Primeiro, canonizando nosso Pai em nosso ser, imprimindo em nós o selo de verdadeiros filhos de Schoenstatt.
Referências Bibliográficas:
Fernandez, Rafael. Curso Fe Práctica. 2017. Disponível em: http://www.schvivo.com/curso-fe-practica-9-videos/prontus_tv/2017-03-23/213621.html
Fernandez, Rafael. El 31 de mayo hoy. 2018. Disponível em: http://www.redschoenstatt.org/prontus_tv/site/tax/port/all/taxport_30___1.html
Kasner, P. F. Sob a Proteção de Maria – Pesquisas e documentos do início da história de Schoesntatt. Santa Maria – Sociedade Mãe e Rainha, 2012.
Movimento Apostólico de Schoenstatt – Brasil Tabor. Disponível em: https://www.schoenstatt.org.br/home/quem_somos/carisma-e-missao/. Acesso em 04 de julho de 2020.
Niehays, J. Pe. Uma pequena apresentação do pensamento do Pe Kentenich, 2008.
Pena, R. Movimentos da Terra. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/movimentos-terra.htm. Acesso em 04 de julho de 2020.
Santos, V. dos. Movimento das plantas. Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/ciencias/movimentos-das-plantas.htm. Acesso em 04 de julho de 2020.