Conflitos sempre existirão, mas ele têm um lado bom
Sidônio e Claudia Lopes – Mais um ano se passou … E abril chegou novamente.
– “Ah, se eu soubesse que aquela seria a última vez que ouviria sua voz! Querido papai, me perdoe pelas vezes que, impacientemente, não fui capaz de apreciar atentamente suas riquezas e não compreendi quando me corrigia. Como gostaria de tornar a ouvi-lo em seus conselhos e em suas histórias, embora tantas vezes repetidas. Confesso que minhas preocupações e opiniões me detinham e impediam de perceber toda a sua beleza.
Me perdoe, mamãe! Como sinto saudades da sua alegria, dedicação e também das vezes em que ficava brava com meus irmãos e comigo”.
É evidente que os conflitos se originam da diversidade de pontos de vista, da pluralidade de ideias e interesses, necessidades e expectativas, etc., mas a descrição deste breve relato acima, de um filho, quer nos mostrar que uma das principais origens dos conflitos familiares pode estar, muitas vezes, em nós mesmos. Isso quando não apreciamos as riquezas que cada acontecimento na família nos oferece, seja numa discussão ou reconciliação, no silêncio ou diálogo, na decepção ou satisfação, numa briga ou harmonia, etc. Notem que os conflitos também são partes de uma beleza para a qual fechamos os olhos, ou muitas vezes nos passam despercebidos.
Fomos criados à imagem e semelhança do amor: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: “Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos…” (Gn 1, 27-28). A benção dada por Deus constituiu a mais íntima comunidade de vida e de amor. E, nesta aliança com Deus, a família recebeu a missão de guardar, revelar e comunicar o amor. Assim, tudo o que acontece numa família, segundo o plano de Deus, é, em última análise, reflexo vivo e participação real do amor de Deus pela humanidade e do amor de Cristo pela Igreja, inclusive os conflitos com o devido respeito.
Esta aliança entre Deus e a humanidade é uma realidade. Viveríamos numa autoilusão se não a levássemos a sério. Em toda a história houve profetas que traduziam os caminhos dessa aliança. Um texto de mais ou menos 1200 a.C, no livro do Êxodo (20, 12), diz: “Honra teu pai e tua mãe … e terás vida longa”. Em mais ou menos 1000 a.C, em Provérbios (6, 20), outra reflexão aponta: “Guarda os mandamentos do teu pai e não rejeites as instruções de tua mãe”. Cerca de 609 a.C, em Jeremias (3, 4), está escrito: “Pai meu, tu és amigo da minha juventude”.
Na plenitude dos tempos, o apóstolo Paulo fez o desenho ideal de uma família. Cerca de 70 d.C, numa carta aos Efésios (5, 22), escreve: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor”; Efésios (5, 25): “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”; Efésios (6, 1): “Filhos, obedecei aos vossos pais”; Efésios (6, 4) – “Pais, não irriteis vossos filhos, mas: educai-os na disciplina; educai-os na doutrina do Senhor”.
O ideal das famílias de hoje: ser reflexo da família de Nazaré
A Família de Nazaré tem inspirado muitos profetas, mostrando as características de uma família mais próxima ao plano do Criador. O Pe. José Kentenich nos pergunta: “Como se caracteriza uma Família de Nazaré?”
E nos dá uma resposta clara e prática:
“Três momentos sintetizam o ideal da família e servem de orientação:
– o pai é a cabeça, a mãe é o coração e no centro está o filho;
– todo o conjunto é mantido unido pelo laço do amor”
(Família Serviço à Vida – Vol I, pág 100)
Os conflitos sempre existiram e serão uma realidade presente em todas as relações familiares, mas o que realmente importa é a forma como os tratamos – e superá-los.
Muitos ainda consideram os conflitos familiares como prejudiciais ao bom relacionamento na família, pois geralmente os associam à agressividade e sentimentos negativos. Ao mesmo tempo, outras pessoas consideram que sua ausência é sinônimo de bom ambiente e boas relações, sinal de paz. Sabemos que ambos os pensamentos não são adequados para um bom tratamento dos conflitos.
O diálogo em família, com os filhos e cônjuge, é ponto de partida para entrar com delicadeza no mistério de cada alma. Ora todos juntos, ora em particular com cada membro familiar, o diálogo deve ser aproximador: pedindo sempre antes de cada situação, que sejamos instrumentos de Deus naquele momento. Esses conflitos familiares são exercícios para o perdão e para a misericórdia com o outro; a partir disso estaremos mais aptos em nossos outros relacionamentos, inclusive em nossas comunidades.
É interessante notar que, dentre os desejos existentes no coração humano, um dos maiores anseios é conquistar um lugar acolhedor. Assim, o ambiente numa família torna-se acolhedor quando toda a tristeza e alegria se complementam, compondo as partes que se unem em simples laços de amor. Nossos lares são acolhedores?
Vários anos se passaram e, com eles, muitos meses de abril. E agora o filho é pai.
–”Querido papai, agora consigo ouvi-lo. Compreendi que ao seu modo me comunicou o amor. Sei que meus filhos ainda não me compreendem quando os corrijo, quando lhes dou serviço ou quando os chamo para rezar, mas tenho convicção de que o caminho é mantê-los unidos por simples laços de amor.
Querida mamãe, é pela senhora que hoje eu abraço e beijo seus netos, mas também ficando bravo aproveito cada instante junto deles, comunicando amor, ao meu modo. Mas sinto muitas saudades. E muita falta”.
* Contribuição da União Apostólica de Famílias de Schoenstatt