“Bem-aventuradas as famílias que têm os avós próximos! O avô é pai duas vezes e a avó é mãe duas vezes” [1]
Ir. M. Flávia Victor Dias – Hoje é muito comum visitarmos uma casa e encontrarmos um ou dois pares de olhos vividos e amadurecidos, que fazem parte desta família. Se fizéssemos uma pesquisa para saber como é conviver com um idoso no lar, com certeza as respostas seriam muitas e diversas, mas, como disse o Papa Emérito Bento XVI: “A qualidade de uma sociedade (a qualidade da minha casa), gostaria de dizer de uma civilização, se julga também pelo modo como os idosos são tratados e pelo lugar reservado a eles no viver comum”. [2]
Os idosos são tesouros vivos, portadores de grandes riquezas e experiências, bem como depositários de um amor puro e verdadeiro, porque muito viveram, sabem como que é o autêntico amor de um Pai ou de uma mãe para com os seus filhos e netos. Muitas vezes seus limites humanos e físicos, provocados pela idade que avança, nos impedem de enxergar esta beleza e aproveitar desta experiência de vida. Hoje, somos chamados a refletir que “os idosos são homens e mulheres, pais e mães que foram antes de nós, nessa mesma estrada, na nossa mesma casa, na nossa cotidiana batalha por uma vida digna. São homens e mulheres de quem nós recebemos muito. O idoso somos nós: em breve, em muito tempo, inevitavelmente, mesmo se nós não pensamos nisso. E se nós aprendemos a tratar bem os idosos, assim nos tratarão” [3].
Você já ouviu essa história?
Uma vez, quando criança, a avó nos contava uma história de um avô idoso que, ao comer, se sujava porque não podia levar bem a colher com a sopa à boca. E o filho, o pai da família, decidiu tirá-lo da mesa comum e fez uma mesinha na cozinha, onde não podia ser visto, para que comesse sozinho, pois assim não daria uma má impressão quando chegassem os amigos para almoçar ou jantar. Poucos dias depois, chegou em casa e encontrou o seu filho menor que brincava com uma madeira, um martelo e pregos fazendo alguma coisa ali. O pai então disse ao filho: “O que você está fazendo?” – “Faço uma mesa, papai”. – “Uma mesa, para quê?” – “Para você ter uma quando se tornar idoso, assim você pode comer nela” [4].
Nesta época marcada pela pandemia, o idoso sente-se mais isolado, porque não pode sair de casa, seus contatos físicos diminuíram e tantas notícias tristes entram constantemente em seus lares pelos meios de comunicação; eles escutam sobre o fim da vida de tantas pessoas e até mesmo de pessoas do convívio próximo a eles. Tudo isso pode aterrorizá-los pela incerteza do futuro e pela solidão. Neste momento, o papel da família torna-se fundamental. É no lar, com seus entes queridos, que o idoso pode sentir-se acolhido por meio de uma palavra de carinho e ter a certeza que não atrapalha. É na família que ele pode ter momentos de lazer – e isso não quer dizer que ele quer pular e gritar, às vezes ele precisa apenas ser ouvido. Neste mesmo ambiente ele compreenderá, por meio de uma fala direcionada a ele, devagar e bem gesticulada, o que realmente está acontecendo e porque ele não pode sair de casa. Mas o idoso só compreenderá tudo isso quando ele se sentir amado e aceito na sua realidade e fragilidade.
E se fizéssemos os idosos sorrirem, sempre que for possível?
Nosso Fundador, o Pe. José Kentenich, quando estava preso no campo de Concentração de Dachau, mesmo vivendo em uma situação difícil, tentou proporcionar um ambiente alegre e feliz: “Havia um sacerdote idoso, meio surdo que, às vezes, se sentia muito só. Padre Kentenich tinha pena dele e procurava fazê-lo rir alegremente. Por exemplo, imaginou para ele o plano de um futuro e novo tipo de confessionário de concreto e com isolamento de som que seria especialmente construído para ele após a sua libertação. Quando o via sério e triste, brincava com ele a respeito de seu futuro confessionário. A resposta era um grato sorriso que se abria no rosto do citado sacerdote” [5].
Hoje “confio à proteção de Sant’Ana e São Joaquim todos os avós do mundo, dirigindo-lhes uma bênção especial. A Virgem Maria que, segundo uma bela iconografia, aprendeu a ler as Sagradas Escrituras sobre os joelhos da mãe Ana, os ajude a alimentar sempre a fé a esperança nas fontes da Palavra de Deus” [6]
Referências:
[1] Papa Francisco, discurso durante o encontro com os idosos e avós. Praça de São Pedro, 28/09/2014
[2] Papa Emérito Bento XVI, discurso na visita à Casa-Família da comunidade de Santo Egídio em Roma, 12/11/2012
[3] Papa Francisco, catequese, 4/03/2015
[4] Papa Francisco, catequese, em 4/03/2015
[5] Ir. M. Annette Nailis. Padre Kentenich como nós o conhecemos
[6] Papa Bento XVI, Angelus, Les Combes (Vale de Aosta), 26/07/2009