Charlotte Holubars, uma Senhora de Schoenstatt que entregou sua vida no campo de concentração
Sra. Ana Christina Melquiades – O conselho local do município de Heusweiler, na Alemanha, escolheu recentemente o nome de Charlotte Holubars para uma de suas ruas. O “caminho Charlotte Holubars faz memória a uma professora que foi vítima da ditadura nazista”, diz o subtítulo do jornal Saarbruecker Zeitung.
Mas, quem é esta mulher?
Charlotte, mais conhecida como “Lotte”, fez parte da União Feminina e posteriormente se tornou uma das co-fundadoras do Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt, junto com outras Senhoras e o Pe. José Kentenich. Professora e schoenstattiana, Lotte foi morta no campo de concentração de Ravensbrück e é citada como um dos nomes no livro da “Martirologia Alemã”, pesquisado e compilado pela Arquidiocese de Colônia, a pedido de São João Paulo II (acesse aqui).
Vocação missionária
“Quero servir a Mãe de Deus como instrumento. Quero cuidar, proteger Jesus em mim e nos demais.
Quero ser uma verdadeira portadora de Cristo, que leve Cristo aos demais. E eu mesma quero personificar o estilo Mariano de mulher e ensiná-lo aos demais” (Lotte Holubars, pensamentos sobre seu ideal pessoal).
Lotte Holubars nasceu em 12 de outubro de 1883 em Stiegau, na Silésia/Polônia. Quando criança, perdeu sua mãe e era muito próxima de seu pai. Lotte estudou para ser professora e após a graduação conseguiu um emprego na área. Como professora novata, sempre chamou muita atenção por sua maneira de falar e por sua elegância, sua forma jovial e alegre de conduzir as aulas. Seu amor pelos alunos e a compreensão que demonstrava fizeram com que ela rapidamente conquistasse o carinho e a confiança deles.
Seu desejo, cultivado há muito tempo, era entrar numa comunidade missionária e ir em missão. Mas era necessário, para isso, que um médico emitisse um certificado de saúde. No entanto, a médica consultada não pôde emitir tal certificado, pois seu estado de saúde não permitia o trabalho na missão. Este foi um golpe duro para Lotte, porém, anos mais tarde ela pode reconhecer nisso a condução da Divina Providência que a queria em outros caminhos.
Um encontro determinante
Em uma de suas viagens a Frankenstein, encontrou-se com o Pe. José Kentenich na casa dos Padres Palotinos e pôde conversar com ele. Durante esta conversa, ela percebeu como Deus havia tocado os desejos mais íntimos de seu coração e como Ele queria apontar-lhe um novo modo de vida através de Schoenstatt.
Nas semanas seguintes, Lotte viajou para Schoenstatt e participou de uma jornada para a União Apostólica, ministrada pelo Pe. Kentenich. Desta forma ela foi introduzida à espiritualidade de Schoenstatt e também foi recebida na União Feminina. O Pe. Kentenich tornou-se seu diretor espiritual. Com outras irmãs da União, formou o primeiro curso, o curso MTA, e em 1929 fez sua consagração perpétua.
Lotte esteve ativamente envolvida no desenvolvimento da União Feminina em direção à formação do Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt, já que a aspiração à “ordem no meio mundo” – assim foi formulada no início – correspondia ao seu ser mais profundo. Em outubro de 1938, por sugestão do nosso Pai, foram redigidas as primeiras Constituições do Instituto e Lotte colabora ativamente nesta tarefa.
Atividades apostólicas
Sua atividade apostólica cresce cada dia mais, há vida em seu apartamento. À tarde chegam grupos de jovens, aos quais ela conduz à juventude de Schoenstatt e com os quais viaja uma vez a Schoenstatt. O campo apostólico em que trabalhava não se limitava à escola, mas as crianças e suas mães podiam ir até ela a qualquer momento, com todas as suas necessidades, tanto materiais, como familiares e espirituais.
Em 1935 ela juntou-se à Federação das Mulheres do Nacional-socialismo, onde foi líder de treinamento. Porém, logo percebeu que o Nacional-socialismo, com sua postura antirreligiosa, não correspondia ao objetivo de seus esforços, por isso deixou a Federação e um grande número de mulheres locais seguiram seu exemplo.
Entrega por inteiro
18 de Outubro de 1939 foi um dia muito importante para Lotte. A Família de Schoenstatt neste dia dava um passo essencial em sua espiritualidade: selava a Carta Branca, expressão de uma entrega maior a Deus e aos seus desígnios. A vida desde a Carta Branca ajudou Lotte a olhar e aceitar os difíceis acontecimentos que estavam por vir. Depois que o Pe. Kentenich foi levado prisioneiro para o campo de concentração de Dachau, Lotte disse em uma conversa: “Deus deve tirar de nós tudo o que precisa, para salvar ao Pai”. Ainda não suspeitava o quanto Deus levou a sério este oferecimento!
Em outubro de 1942, Lotte visita suas crianças em Saarland. Logo após seu retorno a Schoenstatt, a Gestapo chegou e levou-a até Coblença para um interrogatório e para um registro domiciliar na cadeia do Carmelo. Agora começam os dias difíceis de interrogatório. Após algumas horas, Lotte retorna à sua cela completamente rendida. Ela pega o terço e reza: “Que por nós suou sangue”. Jesus também foi feito prisioneiro, injustamente acusado, cuspido, escarnecido, condenado à morte. Como ela ansiava por tornar-se como Cristo! Agora é oferecida a ele a possibilidade a preço de muito sofrimento. Ela não recusa – ela se esforça diariamente pela entrega perfeita ao Crucificado. Ela está convencida de que a Mãe Dolorosa também a acompanhará no seu caminho de cruz, em sua via sacra, com amor e ajudando-a. Os interrogatórios estão finalmente encerrados. Lotte recebe sua sentença com calma e serenidade, é mantida como prisioneira.
Charllote renova repetidamente sua consagração a Maria e medita sobre a frase: “Mãe, desejo com alegria abraçar o desprezo como uma participação no sofrimento de Cristo”. Seu comportamento logo chamou a atenção das autoridades prisionais que, após algum tempo, a levaram para a cela das mulheres prisioneiras que se destacavam por seu mau comportamento, esperando que Lotte tivesse uma boa influência sobre elas. Isso significava que o amor cristão estava sendo derramado através de seu instrumento sobre os marginalizados.
Após longos meses na prisão de Coblença, Lotte foi transportada para o campo de concentração de Ravensbrück. Ela permaneceu firme em sua oferta heroica, como expressa em sua consagração, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
“Se Deus quiser! Ele conduz tudo corretamente”
Depois de algum tempo Lotte ficou gravemente doente, ela estava sofrendo de câncer em sua última fase. Sentia sua força desvanecer. Um último e duro sacrifício ainda estava diante dela: nenhum sacerdote a acompanharia na sua última hora, não lhe seria dada a Unção dos Enfermos, seu corpo não seria colocado sobre a terra. Por detrás dos pinheiros fumeava o crematório. Também a isso deu seu fiat! O martírio de Lotte foi consumado no dia 8 de novembro de 1944.
O capelão da prisão dá seu testemunho sobre Charlotte: “Senhora Holubars é para mim aquela ‘mulier fortis’, assim como é descrita, nas suas características essenciais, na epístola da missa correspondente às ‘mulheres santas que não foram mártires’. Sua cela, na medida do possível, de acordo com as circunstâncias, chamou a atenção por sua limpeza e formosura… Não notei nela depressão alguma, não ouvi de seus lábios nenhuma queixa sobre sua desgraça e durante os longos meses não houve tempo em que ela tivesse perdido a compostura; eu a vi calma, serena, muitas vezes até com um sorriso. Quando lhe perguntei sobre o futuro, sua resposta imediata, calma e natural foi: ‘Se Deus quiser, Ele conduz tudo corretamente’. Através de muitas conversas que tive com ela pude perceber, sem que ela o mencionasse explicitamente, que toda a sua meditação e seu desejo era dirigido a Schoenstatt e à sua Obra; que todo o seu sacrifício e sua solidão eram levados como um sacrifício que ela oferecia ao Senhor por Schoenstatt, para que fosse mantido, e muito especialmente pelo “motor” espiritual da Obra, o Pe. Kentenich, para que pudesse regressar novamente a Schoenstatt desde o cativeiro. Estou convencido de que juntamente com as orações dos Padres e das Irmãs de Schoenstatt, justamente o sacrifício oferecido pela Senhora Holubars foi a súplica que contribuiu para a proteção visível do Pe. Kentenich, que esteve preso por tanto tempo em Dachau, e que o devolveu são e salvo à comunidade de Schoenstatt”.
Deus a chamou sua profecia sobre a libertação de Pe José Kentenich foi marcante sua vida pela obra completa de Schoenstatt ..Deus á escolheu.Amem