A filialidade como fundamento da paternidade
Caio Camargo – “Vivemos em um tempo sem pai!”* Esta frase, dita por nosso Pai e Fundador há quase 70 anos, está, ainda, permeada de atualidade. O sentido da paternidade crista católica está justamente em tornar-se um transparente de Deus e da autoridade divina para o filho. Talvez, a maior consequência dessa carência paterna seja o crescente afastamento de Deus e uma humanidade vazia de sentido e da autoridade paterna.
Deus, como pai amoroso que é, concedeu ao homem a graça de ser pai e também de ser filho. A partir disto é possível, nesta caminhada terrena, viver uma primeira experiência do amor de Deus por nós, que é infinitamente grande, bondoso, misericordioso, providente, tal qual são os pais para os filhos.
É próprio de um pai ter um coração permeado do ímpeto de proteger seu filho, ser seu guia, transmitir segurança, firmeza, direção, sentido e intensidade para seu caminhar.
Tudo isso foi o próprio bom Deus que semeou no coração do homem. Assim, o homem torna-se um instrumento e colaborador de Deus para uma nova vida. E, como filho, diante do pai, é possível experimentar uma amostra, ainda que pequena, do que é o amor de Deus Pai por nós.
Tanto mais é o amor de Deus por nós
Um pai deve ser o exemplo, a energia e apontar a medida das coisas para seu filho. O pai tem naturalmente suas preocupações com o sustento, com o crescimento e com o futuro do filho. O pai sempre quer deixar um legado, uma herança, uma mensagem para seus filhos. O pai quer sempre ver o filho grande, forte e feliz.
Toda essa força e profundidade está na paternidade no plano terreno. Tanto mais é o amor de Deus pai por nós que é por excelência a máxima paternidade elevada à perfeição.
É verdade que em muitas circunstâncias de nossa história podem ter manchado ou denegrido a imagem de um pai. Ou ainda, a experiência vivida do ser pai ou do ser filho necessitem ser curadas e superadas. Neste sentido, a espiritualidade oferece ferramentas concretas para nos aproximarmos de Deus como um pai e também buscarmos, no Espírito Santo, a cura de tais marcas em nossa vida.
É preciso ter os olhos fixos na realidade que: Deus nos quis, nos desejou e nos fez mesmo antes deste mundo. Por isso, a nossa história de vida, com todos os acontecimentos que tiveram, sejam bons ou ruins, é uma história sagrada para a qual fomos chamados.
Este chamado é algo muito forte e poderoso em nossa alma. Este chamado não é feito de qualquer forma, mas pelo nosso nome. Nisso também está o grande anseio e missão de um pai. Dar um nome ao filho, revesti-lo de dignidade e nobreza, apresentar-lhe sua origem, suas raízes e conduzi-lo a honrar sua história sagrada como atitudes de um filho de Deus.
* Pe. José Kentenich, Família Serviço à Vida, p.29, vol.1 2ª edição. Palestra: A inquietação pela perda do pai exige um repensar, 18/01/1953.