Como foi? Como se deu? Por que elas não estavam presentes na fundação?
Ir. M. Nilza Pereira da Silva – Você consegue imaginar a Obra de Schoenstatt sem a presença das mulheres? Tente imaginar como seria: sem as famílias, sem as mães, sem a Jufem e a Lafs, sem as Irmãs de Maria, as Senhoras de Schoenstatt e as unionistas. Pois é, até 1920 era assim: Schoenstatt era um Movimento só masculino. Também não existiam os Ramos da Liga Apostólica, apenas a União Masculina.
Para entender bem essa história é preciso localizar-se na época! A fundação do Movimento Apostólico de Schoenstatt foi em 18 de outubro de 1914, dentro do seminário e no meio da I Guerra Mundial. Apenas dois meses depois, alguns congregados já foram convocados como soldados, seguidos por vários outros. Foram 4 anos de guerra, sim QUATRO (1914-1918), e a Obra estava apenas nascendo! Se só de pensar nisso já é assustador, imagine viver essa realidade?!
Mas, nada de melancolia! O que havia mesmo entre os nossos primeiros schoenstattianos era muito entusiasmo! “A congregação tinha a sua própria vida e os rapazes estavam ansiosos por avançar” [1], escreve o Pe. Niehaus. Lembremo-nos de que, durante a Guerra, havia um intenso serviço de Marketing e os alemães eram entusiasmados para pegar nas armas e defender a pátria. Os congregados iam para os campos de batalha também incendiados de amor à Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt e conquistavam muitos para ajudá-los na renovação do mundo por meio das contribuições ao Capital de Graças.
Cantando num coral
Quem pensa que na guerra só havia trincheiras e bombas está muito enganado! Os soldados tinham muitas outras atividades. Por exemplo, havia a capelania católica, com padres em vários fronts, responsáveis pelas missas e sacramentos aos soldados e vítimas das batalhas. Tinha até um coral. Sabem quem era a regente do coral? A jovem enfermeira voluntária Gertraud von Bullion. O congregado schoenstattiano Franz Xaver Salzhuber cantava no coral dela e… Bingo! Isso mesmo! Em 1917, ele se tornou amigo da enfermeira e a conquistou para os ideais de Schoenstatt.
O que? Em 1917? Mas em 2020 vamos celebrar o centenário da presença das mulheres em Schoenstatt! Como se explica isso?
Precisamos desvendar um pouco mais sobre a história. Assim como a jovem Gertraud, 26 anos, também outras mulheres foram conquistadas para os ideais de Schoenstatt. Elas faziam parte da Organização Externa – um grupo de peregrinos bem fiéis, mas que não pertenciam a algum ramo do Movimento. Quando a Guerra terminou, Gertraud foi até Schoenstatt e pediu para fazer oficialmente parte do Movimento. Mas… teve que esperar até 1920.
A história está interessante até aqui, mas, antes de continuar, vamos falar um pouco sobre a mulher na história do mundo, nesse mesmo período.
A força feminina na reconstrução!
Quando terminou a I Guerra Mundial, a Alemanha foi derrotada, a sociedade tornara-se apática, desiludida, sem esperança, sem perspectiva. Era muita pobreza, muita família desintegrada, sem escolas, universidades, sem bibliotecas e igrejas: tudo tinha que ser reconstruído. E sabe por quem? Em grande parte, pelas mulheres, porque o número de homens mortos na guerra era muito grande e outro imenso número de homens tornara-se enfermos ou inválidos. Se essa situação, de um lado, desanimava, de outro, despertava para o heroísmo – e disso Schoenstatt entendia bem!
Nas nações europeias, enquanto as mulheres se empenham pela reconstrução de seus países, elas conquistam também muito de seus direitos na sociedade, como, por exemplo, o direito ao voto nas eleições políticas, e surge a cultura de uma nova beleza feminina, como existe até hoje, na escolha das vestes, na maquiagem etc.
A Igreja acompanha tudo isso, pois, como escreve o Papa Francisco: “Uma Igreja viva pode reagir prestando atenção às legítimas reivindicações das mulheres, que pedem maior justiça e igualdade; pode repassar a história e reconhecer uma longa trama de autoritarismo por parte dos homens, de sujeição, de várias formas de escravidão, abusos e violência machista. Com este olhar, poderá fazer suas aquelas reclamações de direitos e dará, convictamente, a sua contribuição para uma maior reciprocidade entre homens e mulheres, embora não concorde com tudo o que propõem alguns grupos feministas” [2]
A Mãe de Deus ajuda na reconstrução!
Conhecedora de tudo o que viria, já em 1917 Maria aparece em Fátima, e quer ajudar seus filhos na reconstrução do mundo. Ela indica que o caminho para isso é a oração do terço, em família, a oração e o sacrifício oferecidos a Deus. Quem ela escolhe para levar sua mensagem ao mundo? Uma mulher adolescente. Isso mesmo, estamos falando da pequena Lúcia – pois seus primos Francisco e Jacinta faleceram logo (na foto, Lúcia está de pé, com sua prima Santa Jacinta Marto). Em 1920, com apenas 13 anos, ela luta para que as mensagens de Fátima alcancem o mundo todo.
⇒ Preste atenção: Não estamos diminuindo o valor e a atuação masculina. Cada um tem seu papel na história. Mas, estamos vendo a participação da mulher e o contexto em que surgem os ramos femininos na Obra de Schoenstatt.
Para ajudar a construir uma nova sociedade, Maria quer mais, ela quer educar mulheres que sejam suas imagens vivas, por isso, voltemos para a história de Schoenstatt. Abrem-se as cortinas e continua o próximo episódio.
As mulheres entram para o Movimento Apostólico de Schoenstatt
Sabe por que Gertraud e outras mulheres tiveram que esperar de 1918 até 1920? O motivo é o seguinte: pelas regras dos palotinos, naquele período, assim como em toda a Igreja, um padre só podia dedicar-se à pastoral feminina a partir dos seus 35 anos de idade. Então, o Pai e Fundador, que ainda não tinha essa idade, obediente como sempre foi, encaminhava as moças que queriam participar do Movimento de Schoenstatt para a orientação de seu superior, o Pe. Michael Kolb. Enquanto isso, ele preparava a Obra para a inclusão das mulheres.
Palavras do Pai: “Em 1917, uma senhora já havia se interessado, a condessa Gertraud de Bullion. Ela era conhecida do Frater Salzhuber e me pediu para aceitar a sua orientação pessoal. Eu, porém, tinha o firme propósito de não me dedicar à orientação pastoral de mulheres, antes de completar 35 anos de idade. Por isso, eu a encaminhei para outra pessoa…Eu sempre procurava tatear os planos de Deus” [3]
Lembra-se que em 1919 aconteceu a fundação da União Apostólica, com o Congresso de Hoerde? Pois é, menos de três meses depois, em 6 de novembro de 1919, o Pe. Kentenich escreve ao dirigente da União (lembrando que eram apenas homens) que ele queria algo mais amplo do que a União [4]. A mulheres captam e realizam esse desejo de nosso Pai, formando o primeiro grupo da Liga Apostólica de Schoenstatt.
Dois meses antes de completar seus 35 anos, em 20 agosto de 1920, ele acolhe as primeiras mulheres no Movimento, formando, assim, a Liga Apostólica Feminina de Schoenstatt. Elas não ficam atrás dos ramos masculinos na aspiração e, em 8 de dezembro do mesmo ano, Gertraud faz sua consagração, como Unionista, consolidando a presença feminina na Obra de Schoenstatt. Um ano depois já havia 11 grupos de mulheres, em várias cidades. Em 1926, funda-se o Instituto das Irmãs de Maria, em 1931 a Juventude Feminina entra na história e os ramos femininos não param de crescer em números.
Deus precisa da mulher para a renovação do mundo, por meio de Schoenstatt. Homem e mulher, cada um segundo a essência do seu ser, precisam atuar juntos, nem acima e nem abaixo um do outro. Nada colabora tanto para o crescimento do outro como o fato de cada um ser o que de fato se é, respeitando e valorizando as diferenças. Sem diferenças, não há complementariedade.
Em que consiste realmente a essência do ser feminino? Como ser bem sucedida profissionalmente, sem deixar de lado a ternura, a pureza e autenticidade feminina? O que define uma mulher autenticamente schoenstattiana?
Fonte: Planner da Juventude Feminina de Schoenstatt
Referências:
[1] Pe. Niehaus, Herois de Fogo, p. 144 (ed Portugal)
[2] Cristo Vive, 42
[3] https://www.s-ms.org/pt-br/2018/06/15/vos-sois-a-minha-carta-03/
[4] Engelbert Monnerjahn, Pe. José Kentenich, Uma Vida pela Igreja, p. 64
Belíssimo artigo Ir. Nilza….