João pertenceu à Coluna Masculina de Schoenstatt
Juliana Gelatti Lovato – Entre as muitas facetas da vida do Sr. João Luiz Pozzobon, como pai de família, missionário da Mãe Peregrina e diácono, uma nem sempre lembrada: o seu pertencimento à Coluna Masculina do Movimento Apostólico de Schoenstatt, especificamente à União dos Homens. Foi neste grupo que ele recebeu sua formação sobre a espiritualidade de Schoenstatt, sobre a pedagogia do Pe. José Kentenich e de como ser um instrumento dócil nas mãos de Maria.
O Sr. Ernst Brandstetter, do Instituto dos Irmãos de Maria de Schoenstatt, na convivência que teve com o Servo de Deus pôde testemunhar que, para João, viver como um instrumento era algo do cotidiano e, na sua simplicidade, ele soube viver de forma exemplar:
Nem sempre nos lembramos que o Sr. João participava da Coluna Masculina. Como era a participação dele nesta Coluna?
Vejo assim: o Sr. João Pozzobon era vinculado à nossa comunidade dos Irmãos de Maria, e nós a ele, desde o início. Em 1947, ano do lançamento da Pedra Fundamental do Santuário de Santa Maria/RS, iniciou na mesma cidade um grupo de Homens de Schoenstatt. Eles faziam regularmente suas reuniões, começando em 1947 até, aproximadamente, 1954. O Sr. João Pozzobon era integrante deste grupo. Segundo ele próprio me contou, o grupo se considerou “União de Homens” e teve como símbolo uma espada, aquela pequena espada de prata que ele carregava no seu casaco até o fim da vida. O fato de o grupo se considerar União explica a séria autoeducação que o Sr. João praticou. É importante dizer que ele não caiu pronto do céu. Fazia parte desse grupo, que recebeu formação e estudava Schoenstatt profundamente. E é significativo considerar que ele recebeu, através do grupo, uma formação schoenstattiana durante, aproximadamente, quatro anos antes de assumir, em 1950, a Campanha da Mãe Peregrina. Acredito que podemos dizer: sem este grupo não teríamos hoje uma “Forçada Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt”.
Qual foi o contato do Sr. João com os Irmãos de Maria?
Em 1952 vieram os primeiros Irmãos de Maria para Santa Maria; tinha um deles que aprendeu rapidamente a língua e já fazia reuniões para esses homens. A partir da chegada dos primeiros Irmãos, o Sr. João passou a fazer o seu relatório espiritual com os Irmãos de Maria, entregava para eles o seu exame particular. Considerou os Irmãos de Maria seus conselheiros de espiritualidade, além do diretor espiritual, que era um sacerdote. Primeiro com Jorge Schroeder, depois com o Sr. Germano Arendes. Começou entregando uma fichinha pequena do seu horário espiritual e foi aumentando, até quase um metro, pois não enxergava bem e fazia letras de 5 cm. Até que não conseguiu mais e parou, por causa da visão.
Como foi o seu convívio com o Sr. João?
Comecei a conviver com ele a partir de 1966, quando vim para Santa Maria. Costumávamos assistir à missa todos os dias no Santuário, no mesmo banco, às 6h30min. E após a missa, voltávamos juntos para casa caminhando. Algumas vezes ele nos acompanhou até nossa casa e tomou café conosco; às vezes nós o acompanhamos até a casa dele para tomar o café da manhã. Nessas caminhadas ele contava sobre o dia anterior e o que tinha acontecido. E a expressão que ele usava frequentemente era “ontem a Mãe fez tal coisa…”, “a Mãe fez isso, fez aquilo”. Eu vim lá de Schoenstatt, estava no Movimento desde 1958, e não entendia essa expressão. Enquadrei isso como uma piedade particular dele. E ele sempre dizia “A Mãe fez”. Em 1967 ou 1968, pela primeira vez, no fim do ano, ele convidou o Movimento todo para contar “o que a Mãe fez”, no salão das Irmãs, embaixo da capela. Foi ao palco e foi contando. “Na data tal, a Mãe fez…”. Anos depois eu me dei conta que o Sr. João sentia-se, sabia-se, instrumento da Mãe de Deus. Por isso ele dizia “a Mãe fez” e não “eu fiz”. Faz relativamente pouco tempo que me dei conta: o Sr. João entendeu e viveu a espiritualidade típica do Movimento de Schoenstatt. O Pe. Kentenich uma vez disse: “se nos perguntam o que é Schoenstatt, em última análise, Schoenstatt é um instrumento, uma ferramenta nas mãos de Deus”. Ele [Pozzobon] entendeu e viveu isso. Eu diria que o Sr. João era um schoenstattiano de “raça pura”! Ele gostava muito daquele canto “Somos Vossos Instrumentos” – ele cantava com força.
Essa consciência de instrumento tem impacto no trabalho apostólico, na sua opinião?
Acredito que isso explica a eficiência do trabalho dele, porque não era dele, mas era o trabalho dela. A eficiência que se notava era de uma pessoa que se entregou às mãos de Deus como instrumento. O Sr. João andava pelas estradas do interior, na Quarta Colônia, passava por esses bares, onde as pessoas fazem as compras e também servem cachaça e os homens ficam bebendo. Quando passava por um desses bares, ele parava, via os homens meio bêbados, entrava, colocava a peregrina no balcão e dizia “vamos rezar o terço”. Todos começavam meio mal, mas depois rezavam piedosamente. Para isso precisa de coragem, de uma convicção. Na concepção dele, não era ele que entrava no bar, mas Ela.
Bastou então sentir-se um instrumento, uma ferramenta da Mãe de Deus?
Sim. Instrumento é algo usado por um dentista, ou um instrumento musical. Em alemão dizemos ferramenta. Por exemplo, o livro “Santidade de Todos os Dias” é Werktag – dia do trabalho – Santidade. A santidade da ferramenta no dia a dia, seria uma tradução de Werzeugsfrömmigkeit. O Sr. João Pozzobon, era um mestre dessa espiritualidade: quando a gente se entrega nas mãos de Deus como uma ferramenta, assim como o fundador concebe, eis o resultado. Ele mesmo falava, quando o assunto era sobre os problemas do mundo: “um homem só, bem decidido, muda os destinos do mundo”.
Teve o período que o Santuário foi fechado, na época do exílio, mas ele permaneceu fiel. Como se sucedeu isso?
Quando o bispo de Santa Maria proibiu as atividades públicas do Movimento, o grupo de homens se desfez. Todos do grupo, fora o Sr. João, foram embora, por não compreenderem como permanecer em um Movimento cujo fundador estava exilado. Só Pozzobon seguiu seu trabalho. O bispo justamente proibia o apostolado do Movimento. Ele continuou em concordância com o bispo. Todos os anos, foi à casa do bispo para contar “o que a Mãe fez”. Em uma das visitas, em uma conversa séria, o bispo disse: “Pode trabalhar, mas troca esta imagem. É a Mãe de Deus, é a mesma”. E ele respondeu: “Se é a mesma, eu sigo com esta”. E o bispo disse: “Contigo não adianta argumentar, segue em frente”. A sua obediência era uma coisa admirável. Quando chegava a uma outra paróquia, visitava primeiro o vigário. Se ele não quisesse o trabalho, ele ia embora.
Qual a ligação do Sr. João com o Centro Tabor e o Santuário Tabor Puer et Pater, em Itaara/RS?
Nós [os Irmãos de Maria] compramos essas terras sem a ideia de ter o que temos hoje. Quando entrei pela primeira vez, tinha uma casinha do dono, um agricultor. O que encontrei? A Mãe Peregrina. Em 1982, construímos uma ermida, e disso o Sr. João ficou sabendo. Quando foi inaugurada, ele veio junto. A parte central da ermida foi abençoada no Santuário em Santa Maria e subimos com mais ou menos 250 pessoas para Itaara. O Sr. João veio junto caminhando, com a Mãe Peregrina. Quando estava entre os jovens, virava um jovem também. Após a Missa, estava sentado, tomando um lanche, ele me disse, quando me aproximei: “Irmão, mas que coisa bonita!” E a caminhada se tornou uma tradição. Em seguida começou o movimento todo de se construir o Santuário. Eu fiquei freando esta ideia, mas outros queriam, e fui me consultar com o Sr. João. Um dia saímos do Santuário após a Missa, e falei: aquela turma quer construir um Santuário. O que o senhor pensa?” Disse: “Ah, quanto mais santuários, tanto melhor!” Para mim isso deu uma certa segurança e entramos com o pedido de construção ao bispo, Dom Ivo Lorscheiter. Depois de seis meses, de repente recebo uma correspondência do bispado, autorizando a construção. Eu tinha o documento em mãos e, ao final da próxima missa que assistimos juntos, contei a ele. Ficou resplandecente, alegre e disse, “vamos lá”. Foi a última missa a que assistimos juntos, pois no dia seguinte, foi chamado por Deus. Desta forma ele está vinculado aqui, ao nosso Santuário. Caminhava junto conosco, apoiava a construção do Santuário.