Uma mulher forte e decidida a fazer da Aliança de Amor seu caminho de santidade
Valda Perez – “As primeiras testemunhas da Ressurreição são as mulheres. E isto é bonito” [1] Em Schoenstatt também temos uma bonita história da presença feminina.
Estamos celebrando, em 2020, cem anos das mulheres no Movimento Apostólico de Schoenstatt. E, se pensamos na Coluna Feminina de Schoenstatt, logo nos vem à mente o nome de Gertraud von Bullion. Ela tornou-se a semente da Coluna Feminina e co-fundadora da Comunidade da União Apostólica Feminina de Schoenstatt, uma Comunidade de leigas consagradas que vivem no meio do mundo e se une as demais Comunidades e Ramos que pertencem ao Movimento Apostólico de Schoenstatt e à Igreja.
Esta jovem chamada Gertraud viveu apenas 38 anos, nasceu no dia 11 de setembro de 1891. Era uma condessa de personalidade simples, nobre, bondosa, mas de temperamento forte e determinado, sendo que sempre lutou pelo que acreditava ser a vontade de Deus para sua vida e para aqueles que Deus colocou em seu caminho.
Conheceu Schoenstatt e seus objetivos por meio de um jovem soldado durante a guerra. Logo nos primeiros contatos com Schoenstatt, descobriu a sua missão e isso impulsionava o seu coração a algo novo. No início teve que insistir muito e bater várias vezes na porta de Schoenstatt, até que esta se abriu.
Sobre isso, o Pe. José Kentenich, fundador do Movimento, nos conta:
“Agora vejamos somente alguns tópicos da história primitiva do Movimento Feminino. Começa com o teólogo Salzhuber. Quem leu com atenção a biografia da Condessa Gertraud sabe que foi ele quem a conduziu para Schoenstatt. Gertraud gostaria de receber direção espiritual e escreveu-me uma carta muito longa. Encontrava-me ainda na situação para a qual me propusera firmemente: só me ocuparei com a orientação de mulheres quando completar 35 anos [2]. Tive uma iniciativa acertada… Pensei que o Provincial poderia assumir a direção espiritual. Dirigi-me ao Pe. Kolb. Ele consentiu e assumiu a direção espiritual de Gertraud. Este foi o primeiro momento da história do Movimento Feminino…” (palestra em 1940, sobre o início da história das mulheres em Schoenstatt) [3].
Esta atitude de prudência do Pe. Kentenich nos mostra como sempre foi atencioso e respeitoso na condução de sua Obra. Ele sempre deu especial importância ao cultivo da autonomia interior e da consciência de responsabilidade, visando sempre que sua comunidade estivesse unida, não tanto pelo vínculo obrigatório dos votos, mas muito mais pelo espírito de amor.
No décimo aniversário da primeira consagração na União, do dia 8 de dezembro de 1920, o Pe. José Kentenich disse: “Esta quase infinita fecundidade do ramo feminino de Schoenstatt deve-se em primeiro lugar àquelas que, pela sua modesta grandeza feminina, literalmente se consumiram. Estou a pensar sobretudo em Gertraud von Bullion…Cheio de respeito me curvo perante a sua grandeza”.
Gertraud realmente era uma mulher, como disse o Pe. Kentenich, de muita grandeza. Grandeza no falar, no agir, no vestir, no lidar com as pessoas… Ela tinha uma maternidade que envolvia a todos. Em Gertraud também se destacavam a disposição para a luta corajosa e seu ser feminino delicado e nobre. Sua paixão sempre foi a União Apostólica e considerava como sua tarefa unir, animar, e repartir com todos o seu vibrante zelo apostólico. Suas metas sempre foram elevadas e até hoje ela nos encanta com suas atitudes, como, por exemplo, sua fé, alegria, serviçalidade, seu desprendimento, generosidade, confiança, disponibilidade e também era autêntica, livre e magnânima… quem nos dera sermos assim nos dias atuais!
Ela era uma pessoa que não apresentava medo e não se intimidava com nada, o que ela tinha era respeito por tudo e por todos e ia sempre em busca dos seus ideais. E a submissão era algo que passava longe dela.
Gertraud, com o radicalismo que lhe era peculiar, lutou para que as mulheres participassem de Schoenstatt obtendo primeiro o acesso à Liga e logo em seguida ingressando na União.
Logo no primeiro encontro para mulheres, em agosto de 1921, sabemos que foi visível, neste encontro, sua alegria por ter encontrado finalmente outras mulheres que, com ela, quisessem trilhar o caminho da espiritualidade de Schoenstatt. Com sua liderança nata, neste encontro assumiu a direção, dirigiu as orações e ensaiou os cânticos, sempre com muita liberdade e autonomia.
Como instrumento da Mãe Três Vezes Admirável sempre empregou toda a sua força na renovação religiosa-moral do mundo, tendo em vista a transformação mariana do mundo em Cristo, segundo os objetivos de Schoenstatt, por meio da vivência de seu ideal pessoal: “Senhora, Mãe. Todo o meu amor para o teu Jesus, toda a minha força para as almas como teu instrumento!”
Gertraud, animada pelo amor à Mãe de Deus, deixou-se conduzir pela fé prática na Divina Providência sendo um exemplo atual para santidade na vida diária. Com sua autonomia e pelo seu ardente amor à liberdade e na magnânima entrega filial a Deus Pai, vemos que se enquadra e é um exemplo de mulher para a Igreja hoje.
O jornal “Semanário Dominical Católico da Diocese de Augsburg”, no dia 23 de julho de 1933, editou um artigo sob o título: Os novos santos vivem entre nós. Neste artigo lemos:
“Serviam”, eu quero servir, este foi o lema de uma condessa com fama de santidade, que viveu aqui entre nós, em Augsburg. Sua vida foi singela e silenciosa, porém, fecunda e cheia de méritos.” [4]
Referências
[1] Papa Francisco, Audiência Geral na Praça de São Pedro, quarta-feira, 3 de abril de 2013
[2] Segundo as regras da comunidade dos Pallottinos, os sacerdotes somente poderiam dedicar-se ao acompanhamento pastoral de mulheres após eles completarem 35 anos de idade. O Pe. Kentenich conhecia e respeitava essa regra, justamente por isso o Movimento de Schoenstatt começou apenas com homens e, somente mais tarde, as mulheres foram ingressando aos poucos. É também por esse motivo que o Pe. Kentenich direciona as mulheres interessadas a ingressar no Movimento, como é o caso de Gertraud, a serem acompanhadas pelo superior dos pallottinos, o Pe. Kolb, no início da Coluna Feminina de Schoenstatt.
[3] Gertraud von Bullion – Publicação União Apostólica Feminina de Schoenstatt – Tradução Pe. Gilberto Cavani
[4] Gertraud von Bullion – De suas cartas e escritos – 1ª Parte