“E a sala da festa ficou cheia de convidados” (Mt 22, 10)
Pe. Carlos Padilla Esteban – Hoje Jesus me recorda que a festa é para todos. Quando alguns rejeitam seu convite, ele manda os criados buscarem todas as pessoas que encontrarem pelos caminhos. Convida aqueles que ninguém convida: “A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes” (Mt 22, 8-9).
Eu gosto que seja assim. O coração de Jesus é um coração generoso no qual cabem todos. No meu não é assim com frequência. Não sou tão generoso como Jesus. Não tenho espaço disponível para os que não pensam como eu. Não deixo entrar quem não possa me convidar para a sua festa mais tarde. Creio que às vezes uso as pessoas para meus interesses. Quando elas não são tão úteis, eu as ignoro. Não é assim? Tenho medo que isso aconteça comigo. Gostaria de ser mais hospitaleiro, mais acolhedor, ter um coração sem barreiras e não acolher somente àqueles que me querem bem.
Outro dia li: «Quando nossas almas estão inquietas, quando somos levados por milhares de estímulos diferentes e muitas vezes conflituosos, e nos sentimos presos por absoluta necessidade psicológica entre as pessoas, ideias e preocupações do mundo, como podemos criar um espaço onde alguém, diferente de nós, possa entrar livremente sem se sentir um intruso?».[1]
Em meu coração não cabem todos porque ele está cheio de coisas do mundo. E eu construo barreiras e muros para que nem todos possam entrar. Não tenho desejo de construir pontes. Talvez por isso, às vezes, não cabe nem mesmo a Deus e aquilo que o faz feliz. Mas eu quero ter um coração grande. Sem portas fechadas. Quero convidar muitos para caminharem comigo pelo jardim da minha alma. Outro dia eu lia: “Trata-se da capacidade de ver, frente a frente, as dimensões de uma fraternidade desfeita. E nela descobrir as sementes do Reino. Trata-se de trazer esperança. De iluminar (a si mesmo e aos outros) nos lugares de sombra. Com uma luz diferente. Com esse amor infinito que nos faz tão humanos e nos aproxima de Deus». [2]
A alegria compartilhada se multiplica
Esse novo olhar sobre os demais traz luz na escuridão. Esse olhar muda a minha forma de acolher quem está longe de mim. Todos podem participar da minha festa. Minha festa não necessita de ingressos exclusivos. Mas muitas vezes não é assim. Custa-me compartilhar minha alegria. Eu a guardo para mim mesmo. Não convido quem não merece. Não convido aqueles que não podem me devolver o mesmo que eu ofereço. Eu me sinto tão egoísta. Não saio pelas estradas buscando a todos, como Jesus faz hoje. Ele sai. Sua festa é para todos. Ele não quer ficar sozinho em sua festa. Para mim parece importar menos ter de ficar sozinho em minha festa. Sofro a solidão. Isso dói. Mas custa para mim compartilhar minhas alegrias e minhas tristezas. Uma alegria não compartilhada é uma alegria menor.
Quero ter um coração em que qualquer pessoa possa se sentir “em casa” ao meu lado. Quero ser capaz de falar sobre qualquer coisa, com qualquer pessoa, sem preconceitos. Não quero ter preferência de pessoas. Nem ter temas tabus em minhas conversas. Não quero viver deixando uns de lado e acolhendo a outros. Eu não quero colocar barreiras. Muitas vezes eu as coloco. Faço distinções. Escolho – Este sim. Aquele não. Não me deixo convidar por qualquer pessoa. Não me agrada qualquer festa. E não convido a qualquer um para a minha festa. Porque me parece que não se encaixa. Ou acho que minha alegria não é a mesma que a sua. Ou talvez eu não queira compartilhar, me abrir e me torno egoísta.
Gostaria de ser mais generoso com o que me faz feliz. Encher as trevas daqueles que sofrem com a luz. Dar esperança em seu desânimo. Eu mesmo gostaria de ter uma festa em meu coração da qual todos pudessem participar. Mas às vezes sinto dor e meu coração está de luto. Sofro e faço com que os outros vejam minha dor e tristeza, para que sofram comigo. Esqueço que Cristo já venceu. Não tenho festa na minha alma. E, se estou feliz, não compartilho. Ou minha alegria dura pouco e logo se transforma em tristeza. Talvez eu não esteja aumentando o número de convidados ao casamento para não me sentir incomodado.
Quero iluminar o coração dos homens. Temo não fazê-lo. Quero espalhar sementes do reino com minhas palavras e meus gestos de abertura, de misericórdia. Sei que meu amor pode mudar o mundo.
O Pe. Kentenich disse: «O amor verdadeiro é como o sol, que abriga e dá calor. Estimula e incentiva todas as sementes que existem no ser humano para que se desenvolvam plenamente» [3]
Meu amor pode mudar tudo. Mudar o coração das pessoas. Elevá-las ao alto. Fazer germinar suas sementes. Mudar também meu coração. Porque o ódio me seca e o amor me torna fértil. Quero dizer com voz forte que todos cabem na minha alma, no reino que Jesus semeou em mim. Ele convida todos a compartilharem suas vidas. A compartilhar a minha vida. Jesus faz isso e eu quero ser assim também. Isso me custa às vezes. Quero que todos caibam na minha alma. No espaço sagrado da minha festa. No amor de Deus em mim.
Fonte: padrecarlospadilla.com
Trecho da Homilia para 28º Domingo do Tempo Comum, de 15 de outubro de 2017
Veja a reflexão completa, em espanhol, clicando aqui
[1] Nouwen, El Sanador herido
[2] José María Rodríguez Olaizola, Ignacio de Loyola, nunca solo
[3] Pe. Rafael Fernández. Un paso audaz: El tercer hito de la familia de Schoenstatt