O amor à Igreja na vida do dia a dia
A Ir. M. Petra Schnuerer, numa conversa com a Família de Schoenstatt brasileira, comentou que nosso Pai e Fundador, Pe. José Kentenich, “solucionava os problemas da Igreja no pequeno espaço de sua vida diária”. Ou seja, que ele vivia, na rotina do dia a dia, aquilo que acreditava ser a resposta para as grandes questões da Igreja. “Um dia perguntei como ele podia manter a alma tranquila e alegre em meio a tantas limitações. Sua resposta foi: A Deus agrada agora que nós vivamos uma grande vida num quadro muito pequeno, quer dizer, que resolvamos os grandes problemas da Igreja por meio do pouco que ainda nos é permitido fazer. Um verdadeiro filho pode tudo, com alegria e liberdade interior. Um filho sempre busca fazer o que mais agrada ao Pai, mesmo que possa fazer muito pouco” [1].
Esse caminho, apontado pelo Pe. José Kentenich, pode ser aplicado também à nossa vida diária, como nos mostra o Pe. Antônio Bracht nesta reflexão:
As grandes tecnologias, as tecnologias mais novas, são sempre testadas no dia a dia das pessoas. Pois, se não servem para o dia a dia, para que servem? Aí é que se decide se uma coisa é boa ou não é. Então, para resolver grandes questões, a gente precisa desse espaço da vida diária para testar se as coisas se aplicam ou não.
E precisamos viver as respostas e não filosofar, não ficar preso no mundo das ideias, mas partir para a aplicação prática no dia a dia. Também não esperar que outros vivam: nós é que temos de viver. O método da solução de problemas muitas vezes é o método da tentativa. Isso quer dizer que a gente precisa tentar, precisamos ter a ousadia dos pequenos passos para viver soluções e não para ficar esperando que alguém solucione as coisas, ou ficar filosofando sobre as várias possibilidades. Então, esse é um segundo sentido dessa frase: viver soluções dos problema no espaço de uma vida diária.
Um terceiro aspecto que eu vejo é a autenticidade. No dia a dia é que se vê quem “é aquilo que aparenta” ou quem “aparenta mais do que é”. As pessoas que vivem uma vida real ou pessoas que vivem uma vida inflacionada. Pessoas que atuam e sua atuação incide na realidade, mudam as coisas, e pessoas que atuam, mas é pura performance, pois elas atuam e giram no vazio, por fachada. Então, a autenticidade das nossas soluções, dos caminhos, das opções, se mede também no dia a dia.
Um outro aspecto que se poderia entender é o foco em uma coisa. Nós temos muitas possibilidades e sempre existe um monte de problemas, mas hoje eu tenho a opção concreta de viver uma resposta, de procurar uma solução, de entregar, de contribuir com uma coisa. Nisso está o foco. O dia da vida diária tem foco, porque mede um espaço pequeno, é um espaço que a gente pode vê-lo por inteiro – eu não posso enxergar, de uma vez, todo um ano da minha vida, mas eu posso enxergar, de uma vez, todo um dia. Então, ter essa possibilidade de focar soluções que podem ser vividas hoje. Isso ajuda muito a que as soluções sejam eficazes.
Depois existe um aspecto mais de fundo que vai na linha daquilo que nós chamamos uma “visão orgânica” das coisas. O dia a dia é aquele espaço onde eu ligo as coisas com as ideias, onde eu ligo as pessoas com as pessoas, e as pessoas com as ideias. Então, esse ligar, conectar, fazer com que interajam, criar um organismo, uma comunidade, um espaço de cooperação, que dá a possibilidade de encontrar soluções para grandes problemas nesse espaço pequeno. Porque quando as pessoas se encontram, interagem, estabelecem relacionamentos com outras pessoas, com coisas e com ideias, acontece então um enriquecimento e a possibilidade de cada um participar, porque está nessa trama de relações, de vínculos. E quando acontecem essas relações, elas vão crescendo para se transformar em vínculos, o que permite que cada dia mais se viva no espaço da vida diária, as soluções para os problemas.
Vida sempre se decide em coisas pequenas, vida se caminha passo a passo. Vida cresce lentamente e cresce de dentro para fora.
[1] SCHNUERER, Ir. M. Petra. Um Encontro com o Pe. Kentenich. Edições Aliança