70 anos de falecimento do co-fundador da Obra de Famílias de Schoenstatt
Marcelo e Stefani Frölich – Neste dia 27 de outubro de 2020 completam-se 70 anos da morte de Friedrich Kühr. O Dr. Kühr, para nós schoenstattianos, remete a um acontecimento marcante na história de Schoenstatt, particularmente à fundação da Obra das Famílias, da qual foi cofundador, em 16 de julho de 1942, no Campo de Concentração de Dachau, na Alemanha. Mas, poderíamos nos perguntar, considerando o momento histórico pelo qual estamos passando, marcado por crises em diversas esferas da sociedade, o que podemos aprender com o Dr. Kühr nestes tempos atuais? No entanto, esta pergunta recebe novos contornos se observarmos que, no dia 8 de novembro, estaremos oficialmente abrindo a preparação para a celebração do centenário de matrimônio de Dr. Kühr e Dona Helene, que ocorrerá em 2022, momento para o qual a Família de Schoenstatt se preparará em nível internacional. Portanto, a pergunta que lançamos passa a considerar o que podemos aprender com a Família Kühr nestes tempos atuais?
Para que possamos responder a essa pergunta, consideremos alguns episódios de suas vidas que exigiram decisões e atitudes tanto de Dr. Kühr, quanto de Dona Helene.
Dr. Kühr foi um renomado conferencista político, que reconheceu a necessidade de entregar-se intensamente à busca de soluções para os desafios sociais da época. Portanto, não queria ficar à margem, pelo contrário, foi ativo no centro da Igreja e da sociedade. Essa atitude de Fritz Kühr é um impulso para nós, em tempos que desacreditam a política e os agentes políticos, dada a repercussão de inúmeros casos de escândalos morais e éticos que configuram a política mundial. Sua forma de se inserir neste cenário é acompanhada por um pedido muito especial que lemos na oração de Dr. Kühr: “Dá-me, para a atitude filial na fé: tempo e Paz; […] para a atitude viril no agir, humildade e confiança”. Sua dedicação como conferencista no âmbito político o colocou em perigo durante o período nazista, mesmo assim, não deixou de fazer suas viagens na Alemanha e a outros países, pois entendia a importância que sua atuação tinha e a repercussão de suas ideias contribuam para a organização social da época.
Um outro aspecto da vida de Dr. Kühr e de Dona Helene que nos faz pensar acerca das relações matrimoniais e a capacidade que os casais têm para superar as dificuldades impostas pelas circunstâncias da vida, foi a forma com que ambos conseguiram superar o distanciamento físico de anos, decorrentes da prisão de Fritz Kühr no Campo de Concentração de Dachau e da vinda de Helene para o Brasil. Neste aspecto, se destacam não somente o distanciamento físico, mas as adversidades enfrentadas pelo casal, cada um nos seus contextos, tanto do sofrimento e da exposição permanente ao perigo e ao risco de morte no campo de concentração, bem como o desafio de Helene em comandar os trabalhos em uma nova fazenda em um país estranho, distante de sua terra natal, sem conhecer o idioma, tendo que iniciar novas relações sociais, com pessoas desconhecidas. É impressionante perceber como a forma como cada um se entregou e confiou na providência divina nesses novos contextos adversos e de distanciamento físico.
Na Alemanha, Fritz Kühr conheceu o Pe. Kentenich e ambos passaram a se encontrar sistematicamente. Desses encontros, Pe, Kentenich convida o Dr. Kühr para aceitar ser o cofundador da Obra das Famílias, isso mesmo, em pleno Campo de Concentração. Dr. Kühr descobriu com o Pe. Kentenich que a renovação da sociedade, de uma nova ordem social passa pela família. Qual a nossa capacidade de perceber, de ser sensível à vontade de Deus em nossas vidas nos momentos de maiores angústias e sofrimentos?
Já no Brasil, Helene entregou-se intensamente à tarefa de liderar os trabalhos na fazenda. Mesmo que seu marido estivesse tão distante fisicamente, teve disposição e sensibilidade para, em meio aos trabalhos árduos, acolher as crianças da fazenda, amando-as e ensinando-as. Não podemos esquecer que Helene preparou-se na Alemanha, na sua juventude, para a docência. Mesmo que não tivesse exercido a profissão de professora, foi sensível às circunstâncias para acolher as necessidades das crianças aqui em terras brasileiras. Estes tempos no Brasil também resultaram em lindos poemas escritos por Helene e que abordavam os diferentes temas enfrentados por ela no dia a dia, mas especialmente o seu amor por Fritz Kühr. Como enfrentamos as dificuldades e os desafios da nossa vida matrimonial? Quais são metaforicamente nossos distanciamentos? Qual é o nosso “campo de concentração”? Nossa “fazenda em Rolândia”? Como lidamos com isso?
A Família Kühr nos inspira a superar qualquer adversidade por amor, na confiança divina. Uma outra parte da oração de Fritz Kühr assim se compõe: “Ó Deus, eu me entrego totalmente, Criador e Senhor, Pai cheio de amor e bondade, sabedoria e onipotência. Cumpre Tua vontade em mim e por mim. Que eu seja Teu instrumento, disposto, humilde e, se quiseres, cego”. E Helene Kühr, entre tantas outras contribuições literárias, assim escreve: “Mãe de Deus, rosa de ternura/Ensina-nos a rezar,/Para que depois de nosso caminho da vida/Nos apresentemos felizes diante do Eterno. Mãe de Deus, ó branca flor/Ensina-nos a sofrer./Nenhum deserto árido e quente/Nos separe de Deus. Mãe de Deus, vendaval fogoso,/Ensina-nos a calar,/Para que depois das tempestades da vida/Em alegre dança,/Felizes nos inclinemos diante dele/E sejamos, então, para sempre/Como filhos e filhas amados de Deus.