Coluna Feminina: Reflexões sobre o papel e atuação das mulheres na Igreja
Ir. M. Fátima Dotto – Ao iniciar a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, João Paulo II expressa que “a dignidade da mulher e sua vocação – objeto constante de reflexão humana e cristã – têm assumido, em anos recentes, um relevo todo especial” [1].
Tal afirmação remete ao apreço singular que a Igreja dedica à mulher, vendo-a como ser querido por Deus e dotado de uma missão toda especial para a humanidade e a Igreja.
A mensagem final do Concilio Vaticano II, ressalta ainda, de modo mais evidente, o sentido eclesial da mulher: “Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que humanidade conhece uma mudança tão profunda, as mulheres iluminadas do espírito do Evangelho, tanto podem ajudar para que a humanidade não decaia” [2].
Diferentes papeis, igual dignidade
A Igreja é fiel ao plano de Deus e age ciente da igual dignidade do homem e da mulher. Ela tem diante de si a palavra do Criador: “E os criou homem e mulher, criou à sua imagem e semelhança”. (cf. Ge.1, 27)
A Igreja tem presente a originalidade pessoal do homem e da mulher e abraça a verdade sobre a dignidade e vocação de cada um. As diferenças no ser não causam diferenças no valor. Desde o início da humanidade a figura da mulher exerce um papel decisivo na história. A primeira mulher, Eva, levou a humanidade à perdição, mas após o pecado Deus realiza seu plano de salvação e escolhe outra mulher para resgatar a dignidade e ser o protótipo do ser humano assim como Deus pensou e criou. “No início da Nova aliança, que deve ser eterna e irrevogável, está a mulher, a Virgem de Nazaré” [3]. Ela é o caminho pelo qual Cristo, o Redentor do homem, vem ao mundo. Em Jesus Cristo fomos salvos e a questão do valor entre homem e mulher foi superado. São Paulo afirma: “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28).
Maria é figura da Igreja
A Igreja ilumina a missão da mulher na pessoa de Maria. A missão de Maria, como Mãe de Cristo, se transforma em missão para a Igreja e é em Maria que a mulher encontra o ideal de sua tarefa eclesial. O documento conciliar Lumen Gentium diz que “Maria é figura da Igreja”. Nela encerra-se o mistério da Igreja, o próprio Cristo e todos os que ele redimiu com seu sangue e morte na cruz. Maria, Virgem e Mãe é imagem da Igreja que acolhe maternalmente todos os filhos e tem a incumbência de guardar e transmitir a fé em Cristo de modo íntegro e puro. Em Maria, a mulher encontra a realização plena do ser feminino. O Papa Bento XVI apresenta na carta Encíclica Deus Caritas est, a beleza da atitude feminina de Maria: “Maria é grande, precisamente porque não quer fazer-se grande a si mesma, mas engrandecer a Deus. Ela é humilde: não deseja ser mais nada senão a serva do Senhor. (cf Lc, 1,38, 48). Sabe que contribui para a salvação do mundo, não realizando uma sua obra, mas apenas colocando-se totalmente à disposição das iniciativas de Deus. É uma mulher de esperança: só porque crê nas promessas de Deus e espera a salvação de Israel é que o anjo pode vir ter com ela e chamá-la para o serviço decisivo de tais promessas. É uma mulher de fé: “Feliz de ti, que acreditaste”, diz-lhe Isabel (cf Lc 1, 45) O Magnificat – um retrato, por assim dizer, da sua alma – é inteiramente tecido com fios da Sagrada Escritura, com fios tirados da Palavra de Deus. …Enfim, Maria é uma mulher que ama. E como poderia ser de outro modo? Enquanto crente que na fé pensa com os pensamentos de Deus e quer com a vontade de Deus, ela não pode ser senão uma mulher que ama” [4].
Portanto, Maria é figura e modelo para toda a mulher, seja jovem ou não. Quem segue seus passos encontra a felicidade e a realização mais plena do seu ser. A nobre vocação da mulher na Igreja é uma presença terna e acolhedora, própria da alma feminina, que serve e realiza sua missão na doação e fidelidade. Ela torna mais belo e vivencial o caráter maternal da Igreja, como Mãe e Mestra. Testemunha desta nobre vocação é a incansável dedicação de tantas mulheres nas diversas pastorais, na liturgia, nas obras sociais, nas missões e tantos outros setores onde se pode constatar: o que seria de tantas comunidades, do nosso povo, sem a presença e atuação de mulheres consagradas ao serviço do Senhor e da humanidade. A beleza da vocação da mulher como “alma” e portadora de vida, não é uma resposta à quem pensa que a mulher precisa receber a ordenação sacerdotal para sentir-se realizada na sua missão eclesial? Ou a quem diz que a mulher está excluída do serviço na Igreja? Trata-se de uma missão própria, não de direitos, mas do carisma de colaborar na Igreja de forma feminina. Cabe à mulher ocupar o seu lugar, que é único, e ser para o mundo sinal da bondade e da ternura de Deus.
A humanidade necessita da presença feminina para ser mais feliz e viver com maior intensidade a união com Deus. Com o Papa Francisco afirmamos que “sem a mulher não há harmonia no mundo” [5].
* Contribuição do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, Província Tabor, Santa Maria/RS
Referências
[1] João Paulo II, Carta apostólica Mulieris Dignitatem, Introdução
[2] Mensagem do Concílio às mulheres (8 de dezembro de 1965) AAS 38 (1966) 13-14
[3] João Paulo II, Carta apostólica Mulieris Dignitatem, 11
[4] Bento XVI, Carta encíclica Deus Caritas est, 41
[5] Papa Francisco, Meditações matutinas na Santa Missa celebrada na capela da Casa Santa Marta. Quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017