24 de dezembro de 1965 ficou conhecido como segundo milagre da Noite Santa
Ir. M. Fernanda L. Balan – Cresci e me formei como professora, no Colégio Mãe de Deus, em Londrina/PR, sempre em contínuo contato com as Irmãs de Maria de Schoenstatt.
Respondi “SIM” ao chamado de Deus, tornei-me Irmã de Maria porque a espiritualidade e a pedagogia de Schoenstatt me cativaram totalmente. Segui minha vocação com filial prontidão e doação sem reservas. Sabia que neste tempo, 1958, a Obra de Schoenstatt passava por momentos de duras provações, que o Fundador já sofria há sete anos um doloroso exílio, imposto pela Igreja.
De 1960 a 1969, morei na Casa Provincial em Santa Maria/RS e, unida com toda a Família internacional de Schoenstatt, pude aspirar e me empenhar na dura luta espiritual de libertar o Pai e Fundador e sua Obra daquele desterro. O exílio foi um pesado fardo, repleto de calúnias, incompreensões e falsas acusações, que culminavam em contínuos decretos de proibições e restrições absurdas. Isso durou até a véspera do Natal de 1965. Ao retornar a Schoenstatt, Pe. Kentenich, grato e feliz, celebrou na noite de Natal, com sua Família de Schoenstatt, o esperado II Milagre da Noite Santa, na missa da meia noite no Santuário Original.
Dificuldades são tarefas
Até então, eu pensava: como pode um Fundador tão carismático, agraciado ricamente por Deus com rara e multiforme sabedoria, um filho e instrumento dócil e exemplar de Maria, sempre atento e fiel aos sinais da Divina Providência, Pai espiritual de tantas pessoas de inúmeras nações e raças, viver e suportar a pressão de um exílio injusto, humilhante, sendo algemado e barrado no seu carisma?! Até quando, meu Deus?
Não bastavam as provações vividas em sua infância, nem a difícil solidão por que passou em sua juventude? Ou então, as ondas avassaladoras e turbulentas de duas guerras mundiais, que ceifaram também a vida de vários dos seus filhos espirituais e colaboradores fiéis?
Um tempo de aggiornamento
15 anos após a II Guerra Mundial, o mundo e a Igreja suspiravam por grandes mudanças … ansiava-se por renovação e maior vitalidade no âmbito eclesial.
O Papa João XXIII convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II (1960-1965), que deu diretrizes para um processo de aggiornamento (abertura) doutrinal e pastoral, que até hoje está em contínua realização na vida da Igreja.
Graças a este Concílio, pela vida que se concentrava de todos os recantos da terra em Roma, com as constantes sessões conciliares, algo novo vai acontecendo, novos trilhos são colocados na caminhada rumo ao novo milênio cristão que se aproximava.
Sem este Concílio, dificilmente Pe. Kentenich teria retornado, de seu exílio, a Schoenstatt!
Graças Céu e ao empenho diplomático de seus filhos, colaboradores, amigos e, de modo especial, pela aspiração heroica e orações de toda a Família de Schoenstatt, a situação em relação à Obra e seu Fundador, aos poucos, mudou.
Não me esqueço dessa canção
Diversos bispos, sacerdotes e cardeais de várias nações sabiam, lutavam e se empenhavam para o final deste injusto e pesado exílio. Nós, Irmãs de Maria, também fomos atingidas por decretos e proibições. Vivemos e sofremos um profundo entrelaçamento de vida, de destino, sofrimentos e de missão com nosso Pai e Fundador. Nós, jovens Irmãs da Província Tabor, partilhamos e trilhamos esta via sacra, assim como todas as Irmãs, em profunda sintonia com o Fundador, na esperança de que Deus se justificaria a si mesmo, que Maria se manifestaria como a Vencedora desta trama, cujos emaranhamentos seriam desfeitos por ela, a Desatadora de nós, a Mãe e Rainha da Filialidade Heroica.
Ainda ouço, no auditório da Casa Provincial em Santa Maria, o retumbante hino: “Ó vinde todos, a Deus Trino exaltar, com a Mãe Admirável, seu amor glorificar! Aleluia”! Era o dia 18 de outubro de 1964, jubileu de 50 anos da Fundação de Schoenstatt. A Igreja reconheceu a originalidade do carisma do Pe. José Kentenich. Monsenhor Guilherme Wissing, então administrador apostólico da Obra de Schoenstatt, anunciou a todos a autonomia e sua separação da sociedade dos padres palotinos. Um novo arrebol despontava para a Obra da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt. Ouvia-se nos bastidores da história que, em breve, também soaria o Aleluia da vitória, quanto a grave situação que acometeu a pessoa do Fundador de Schoenstatt.
Nossos corações vibravam! A esperança se fortalecia! Uma onda de alegria perpassava os corações dos schoenstattianos, cresciam as expectativas de uma nova fase.
Maria, a Mãe e Rainha Três Vezes Admirável, a grande Missionária, Ela fará milagres!
E o milagre aconteceu, de forma tão simples e também misteriosa, na simplicidade de um chamado telefônico, na dissolução de dúvidas e das complicações que se condensaram em torno do fato inesperado! Ele foi chamado e está em Roma, já cercado pelo círculo mais estreito dos dirigentes e responsáveis, seus filhos e seguidores, até que se dissolvessem todas as complicações e as algemas caíssem para sempre!
22.12.1965 – O Papa Paulo VI acolhe, em audiência particular, o venerando Fundador. Ereto e com uma atitude digna e nobre, ele está na frente de sua Santidade. Traz em suas mãos um estojo, com uma dádiva para o Santo Padre. O Concílio Vaticano II havia findado. Símbolo disto seria a edificação de uma Igreja dedicada a Maria, com o título de Mater Ecclesiae, como expressão de agradecimento e confiança. O estojo contém um cálice que, certamente simbolizava as gotinhas do sangue de milhares de corações, mas especialmente o dele, tão incompreendido e rejeitado. “Non sine sanguine” – não sem o sangue do coração!
Como filha da geração do exílio do Pai e Fundador, ouço ainda, pelo gravador, o solene Aleluia de Haendel, que na tarde de 24 de dezembro de 1965, em Schoenstatt, ecoou vibrante no auditório da Escola de Maria, próxima do Santuário Original! Ali pronunciou, após 14 anos de exílio, a saudação à sua Família de Schoenstatt, a seus filhos espirituais, seguidores e colaboradores.
A Mãe e Rainha de Schoenstatt se comprovou como a Vencedora.
Ele retornou à sagrada Terra de Schoenstatt, o Tabor das glórias de Maria. A terra, o lar de amor, da pureza, da alegria, da liberdade, da verdade e da justiça; a terra onde Deus desposa os fracos e pequenos e os conduz à vitoriosidade!
Por isso, na história de Schoenstatt e bem no fundo do meu coração, está gravada para sempre a oração de profunda gratidão filial: “Bendito sejas sempre, ó Deus Trindade, por tudo que nos deste em tua bondade”!
À meia noite de 24.12.1965, Pe. Kentenich celebrou, com representantes da Família Internacional de Schoenstatt, a solene Missa de Natal, na pequena Capelinha, no Santuário Original de Schoenstatt.
“Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”!
Foi assim que aconteceu o II. Milagre da Noite Santa no reino de Schoenstatt!