Os vínculos sadios como resposta às polarizações
Cada pessoa precisa de expressões concretas de amor, de ter alguém ao seu lado, que o olhe com ternura e o ajude em coisas cotidianas. Numa audiência, o Papa Francisco fala que os aparelhos ajudam na comunicação, mas, a ternura é exclusiva de corações humanos: “Eles podem fazer muitas coisas, mas não podem fazer uma coisa: dar ternura. A ternura é o sinal da presença de Jesus, é aproximar-se do próximo… para ajudar, sacrificar-se pelo outro.” [1]
É urgente promovermos uma Cultura de Aliança, de acolhida ao outro, pertencemos todos uns aos outros como humanidade. Se não cuidarmos uns dos outros, não haverá amanhã. “Não há alienação pior do que experimentar que não se tem raízes, não se pertence a ninguém… um povo dará frutos e será capaz de gerar o amanhã apenas na medida em que dá vida a relações de pertença entre os seus membros” [2], afirma o Papa.
Vinculações pessoais reais, ainda que por meios virtuais
Quando se trata do uso da internet, relacionamentos e vínculos pessoais são temas que sempre estão em alta, tanto nas conversas pessoais como nos estudos científicos. Percebe-se que a sensação de ser oculto nas interações pela internet faz com que muitas pessoas se tornem agressivas.
Os algoritmos das redes sociais possibilitam o isolamento em bolhas, nas quais só temos contato com pessoas que pensam como nós e excluímos totalmente os que têm opiniões diferentes.
O extremismo gera violências
O pensamento extremista é sempre estreito e manipulador, não cria vínculos sadios. Em um mundo com possibilidade quase infinita de obter informações e de cada um expressar suas ideias, é um paradoxo tanta estreiteza de pensamento no campo político (e em tantos outros), em achar que não existe outra possibilidade de posicionamento a não ser estar na extrema direita ou na extrema esquerda. Quanta intolerância, divisões, relacionamentos agressivos, sem respeito fraterno ou para com autoridades, sem abertura para acolher o que outros pensam, por achar que só a minha visão política é perfeita e não há algo de bom no que fazem os que não pertencem à minha bolha.
Em sua carta Fratelii Tutti, o Papa Francisco diz: “Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de atormentar, exagerar e polarizar… nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte”
O sociólogo Zygmunt Bauman diz que, na sociedade líquida, o mal também se torna líquido e as pessoas agem de modo agressivo, como se fosse normal negar ao diferente o direito de existir [3]. Dessa forma, todos os que “pertencem a outro grupo” são tratados como inferiores e inimigos.
Usemos os meios para gerar unidade
“A internet não é responsável por essa onda contemporânea de populismo ou de governos ultraconservadores”[4], diz Pierre Levy, o filósofo da Cibercultura. Ele lembra que as mídias são neutras e podem ser usadas para a unidade e a paz. Mas, assim como o nazismo usou a rádio para manipular opiniões e implantar a extrema ditadura, também hoje pessoas extremistas usam a internet para impor suas ideologias de direita ou de esquerda – e tem muita gente achando que essas são as duas únicas possibilidades de governar, preparando um futuro muito trágico, se não houver personalidades livres, capazes de parar essa corrente.
O Papa Francisco enfatiza que o relacionamento virtual complementa, mas não substitui os encontros pessoais. Ele escreve: “Como seria bom se, enquanto descobrimos novos planetas longínquos, também descobríssemos as necessidades do irmão e da irmã que orbitam ao nosso redor!” [5]
O amor transfigura a realidade
Nossa Aliança de Amor com a Mãe de Deus se comprova, amadurece e aprofunda nas provas diárias de amor ao próximo, também quando esse próximo pensa o contrário do que eu penso. Quantos irmãos nossos precisam de cuidados. Muitas vezes o discurso violento e o extremismo na opinião são expressões de medo e busca de defesa de quem está inseguro e com medo. O ferido à beira do caminho, como Jesus narra na parábola do bom samaritano, pode se encontrar dentro de nossa casa ou no grupo do aplicativo e a prática das pequenas virtudes são os cuidados que podemos oferecer-lhes diariamente.
Reflitamos sobre o que diz nosso Pai e Fundador: “O ponto de vista pelo qual seremos julgados é o amor ao próximo… No rosto dos que me rodeiam vejo os traços de Deus Pai, os traços de Cristo e da Mãe de Deus. Aqui se abre todo um mundo que devemos conquistar novamente… é preciso esforçar-se para formar família em toda parte, a fim de que o homem tenha novamente capacidade de vínculos.”[6]
Ser FAMÍLIA Tabor é nossa identidade e nossa missão!
*Este texto é um recorte e uma síntese da palestra do Congresso de Outubro do Regional Sudeste de 2020
Referências:
[1] http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2020/documents/papa-francesco_20200930_udienza-generale.html
[1] http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2018/september/documents/papa-francesco_20180925_autorita-tallinn-estonia.html
[3] In: “Mal líquido – Vivendo num mundo sem alternativas”, Ed. Zahar
[4] https://www.fronteiras.com/videos/internet-e-responsabilidade-politica
[5] https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-10/papa-francisco-conversao-ecologica-ponti-academia-ciencias.html
[6] Pe. Kentenich em: “Que se faça o homem novo”