Vamos dar uma pausa de alguns minutos?
Karen Bueno – Quando acontecem jogos de futebol durante o verão, ou nas regiões mais quentes do Brasil, o árbitro tem a possibilidade de incluir a chamada “parada técnica” durante a partida. É um pequeno intervalo para reidratação e para reestabelecer as energias. Se não houver essa pausa, o jogo continua normalmente, porém, a qualidade técnica dos times tende a cair. Partindo do campo esportivo e entrando no “campo da santidade da vida diária”, podemos ver nessa “parada técnica” um conselho importante para nossa própria vida.
O ato de parar em algum momento, durante o dia, é o que o Pe. José Kentenich chama de “pausa criadora”. Ele explica sobre essa pausa mostrando o exemplo de um relógio: “Observemos o pêndulo de um relógio. Move-se dia e noite, mas não o faz ininterruptamente, mesmo que assim pareça. Antes que o pêndulo inicie uma nova oscilação, ele faz uma pequena pausa, ainda que isso não passe de uma fração de segundo” [1].
Por que o Pe. Kentenich faz esse comentário?
Ele compara a imagem do pêndulo com a nossa vida interior: “Assim, também nossa alma necessita das pausas criadoras da oração, durante o dia. Nada nos deveria impedir de rezar, nem mesmo o excesso de trabalho em nossa profissão” [2].
O que é uma pausa criadora?
As “pausas criadoras” são aqueles momentos, durante o dia, em que nós nos “desligamos” por alguns minutos para recuperar as energias e, como indica o Pe. Kentenich, voltamos nosso olhar para Deus Pai.
Podemos pensar, como exemplo, naqueles 5 minutos de café, que quebram a rotina da manhã; ou a conversa com o colega ao lado; ou nas rápidas olhadas em vídeos e fotos dos filhos que alegram nosso dia; são várias formas de aliviar a tensão e recuperar as energias – e cada pessoa tem seu próprio jeito.
O ser humano não é uma máquina e necessita desses momentos de desconcentração para avançar. Parece contraditório? “Justamente na época agitada em que vivemos, esses momentos deveriam ser mais frequentes no decorrer do dia. […] Quem procede com prudência e discrição não precisará recear que seu trabalho sofra detrimento por esses breves olhares dirigidos a Deus” [3], escreve o Pe. Kentenich.
A nós, schoenstattianos, nosso Fundador indicou que as pausas criadoras são momentos que nos aproximam de Deus, são momentos para dialogar com ele. Então, é importante utilizar essa pausa também para lançar um olhar de amor ao Pai: junto com o cafezinho, o que acha de dizer alguma palavra sobre o seu dia para Deus?
Pausa criadora x procrastinação
Falando em pausas criadoras, é preciso diferenciar duas coisas: pausa e procrastinação. Enquanto que a pausa criadora é uma pequena parada para reabastecer as forças e recomeçar, a procrastinação é o ato de adiar as coisas importantes a se fazer, é “ficar enrolando” diante de um trabalho a ser feito. A pausa é necessária, já a procrastinação tende a ser um hábito ruim que precisa de reeducação.
O que diz a ciência
A pausa criadora, que o Pe. Kentenich indicava há tantos anos, foi estudada e aprofundada por alguns especialistas contemporâneos, como o sociólogo e filósofo italiano Domenico De Masi, que desenvolveu o conceito do “ócio criativo”. Ele fala das grandes e também das pequenas pausas durante o dia. O americano Travis Bradberry é coautor do livro “Emotional Intelligence 2.0” (Inteligência Emocional 2.0) e afirma que organizar o trabalho em grandes blocos de oito horas já não faz mais sentido: o certo, para ele, é fazer intervalos curtos de descanso a cada hora.
Bradberry baseia essa ideia em um estudo do Draugiem, um grupo de tecnologia da informação, que usou um programa de computador para medir quanto tempo os funcionários gastavam para cumprir diferentes atividades e medir o nível de produtividade [4]. Com esse estudo percebeu-se que as pausas podem mais ajudar que atrapalhar: são dois passos parados no tempo para avançar quatro lá na frente.
Como aproveitar bem esses intervalos?
Separe alguns minutos entre um bloco de trabalho e outro para tomar uma água e respirar ar puro, sair do computador ou do ambiente em que estiver; dê uma voltinha para descansar os olhos e a cabeça, enfim, pense em pequenas práticas prazerosas que podem ser feitas no dia a dia e que passam despercebidas na maioria das vezes.
Isso pode se tornar um presente não apenas para você, mas também para o Pai: “Dirige sempre o olhar para Deus, fala-lhe algumas palavras cordiais e oferece-lhe este ou aquele sacrifício, de maneira que, apesar do trabalho intenso, anda constantemente na presença de Deus. Aí está o segredo da fecundidade das pessoas santas” [5].
Referências
[1] KENTENICH, Pe. José; NAILIS, Annette. Santidade de Todos os Dias. 1ª parte, 3º capítulo: O valor da oração
[2] IDEM
[3] KENTENICH, Pe. José; NAILIS, Annette. Santidade de Todos os Dias. 2ª parte, 1º capítulo: O trabalho em união com Deus
[4] https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2016/03/01/descansar-15-minutos-por-hora-aumenta-produtividade-no-trabalho-diz-autor.htm
[5] KENTENICH, Pe. José; NAILIS, Annette. Santidade de Todos os Dias. 1ª parte: Os exercícios de oração