Sejamos, em nosso tempo, o prado de sol no brilho do Tabor
Karen Bueno – Você provavelmente já notou que todos os anos, durante a Quaresma, um domingo é dedicado à leitura sobre a transfiguração de Jesus. É como se os evangelistas nos pegassem pelas mãos, nos levassem lado a lado até o Tabor, junto com Jesus e os discípulos, para que pudéssemos reviver esse momento tão especial. É uma oportunidade muito bonita para a vida dos cristãos, já no nosso caso, como schoenstattianos, vai além: é uma necessidade!
Ler de novo essa passagem bíblica e redescobrir o mistério do Tabor, que ilumina nosso carisma, faz compreender a missão com mais profundidade e viver o ideal com ousadia e coragem.
O evangelho do Tabor é rico em simbolismos e há alguns motivos especiais que o tornam uma leitura obrigatória na Quaresma. Vejamos dois deles…
A vivência do Tabor prepara para a cruz
Você já se perguntou como Jesus, sendo humano, foi capaz de suportar tanta dor e injustiça? Em nossa simplicidade e pequenez, não conseguimos entender tudo de maneira completa, mas sabemos que alguns episódios foram decisivos para o “sim” da cruz. A experiência do Tabor foi um desses momentos fundamentais, onde está o núcleo da força de Jesus.
No alto do monte, Cristo vivenciou a transfiguração como uma antecipação da Páscoa. Lá ele ouviu a frase que desde sempre o fez entregar tudo pela missão: “Este é o meu Filho amado” (Mc 9, 7). É uma frase curta apenas, de poucas letrinhas, mas que tem uma dimensão arrasadora, capaz de transformar a história – a minha e a sua história, a história do mundo todo.
Ser um filho amado: essa vivência fez Jesus enfrentar qualquer desafio, dar tudo de si. E pode nos levar a fazer o mesmo. “Só compreenderemos a vida de Jesus quando soubermos que para ele o mais importante era o amor filial”, diz o Pe. José Kentenich. E acrescenta: “Se eu tiver um grande amor, sei que existe em mim uma alegre prontidão em fazer tudo o que Deus quer, como Ele quiser e também a alegre prontidão em sofrer o que Deus quiser. Percebem como isso é extraordinariamente simples?”[1]
A transfiguração completa passa pela cruz
A transfiguração e a ressurreição são duas coisas interligadas. Falar que Jesus se transfigurou é o mesmo que dizer que ele viveu uma antecipação da Páscoa – ou seja, no Tabor, Cristo ainda não tinha morrido, era humano como todos nós, mas seu corpo já reluzia os traços da ressurreição eterna.
A transfiguração completa e definitiva, este estado perfeito de graça, só foi possível para Jesus por meio do sofrimento e do abandono total em Deus. “Este estado de transfiguração, que aqui se manifesta passageiramente, tornou-se seu estado permanente após a ressurreição. Mas Jesus precisou primeiro merecer, por sua paixão, a irrupção do divino em sua natureza humana. Não precisava o Senhor sofrer tudo isto, para assim entrar na sua glória?” [2]
Em nossa Quaresma de cada ano, revivemos a passagem bíblica do Tabor para lembrar tudo isso: somos filhos amados e a consciência desse amor nos torna capazes de entregar tudo pela missão. Pela cruz e sofrimento podemos nos assemelhar a Cristo como personalidades transfiguradas, ou, como também gostamos de dizer, como homens novos.
Família Tabor, transfigura hoje a realidade
O Santuário de Schoenstatt é nosso Tabor, onde a Mãe de Deus nos ajuda a nos sentirmos como um filho amado – e descobrir que somos de verdade. Cada um que chega no Santuário, vive a experiência da transfiguração e dá vida às páginas do evangelho. No princípio estavam Pedro, Tiago e João no alto do monte Tabor, mas hoje essa lista de nomes é muito maior. Pense bem, seu nome está na lista daqueles que desejam transfigurar a realidade hoje?
“Que felicidade seria se também nós pudéssemos dizer: ‘nosso rosto resplandece como o sol, nossas vestes são brancas como a neve!’ Que felicidade seria se pudéssemos irradiar algo destas glórias do Tabor!” [3]
Referências
[1] KENTENICH, Pe. José Kentenich. Abrigado em Deus Pai. Conferência para as Irmãs de Maria de Schoenstatt, 6 de novembro de 1935
[2] KENTENICH, Pe. José. Tabor nossa missão, coleção Brasil Tabor, vol 1. 2 de setembro de 1947. Santa Maria/RS, segunda conferência
[3] KENTENICH, Pe. José. Tabor nossa missão, coleção Brasil Tabor, vol 1. 1º de setembro de 1947, Santa Maria/RS, de manhã