Vamos conhecer mais sobre este sacramento
Juliana Gelatti Lovato – A Confissão, também chamada de sacramento da Penitência ou da Reconciliação, nem sempre ocupa o lugar que deveria na nossa rotina de vida cristã. Muitas vezes é considerada como aquele momento de “terapia”, no qual tiramos um peso da nossa consciência. Mas esta visão tira de foco seu real significado: reparar as ofensas que praticamos contra Deus, buscando seu perdão e purificando nossa alma.
É um degrau necessário na nossa caminhada à santidade, um sacramento que, além de perdoar os pecados passados, confere uma grande força para resistir às tentações futuras e para corrigir nossas imperfeições. Quando estamos em pecado afastamo-nos de Deus e somente pela Confissão conseguimos reatar este relacionamento. Nossas orações passam a ter mais efeito, sobretudo no nosso espírito, e nossa Aliança de Amor fica fortalecida.
Estamos em plena Quaresma, ainda que em um período conturbado para a sociedade, e este é o momento favorável para a conversão, para retomar a caminhada de fé. O pároco da paróquia Santa Catarina, em Santa Maria/RS, Pe. Luciano Eduardo da Silva, explica como fazer uma boa confissão.
Um dos mandamentos da Igreja é confessar-se ao menos uma vez por ano e, outro, comungar ao menos na Páscoa. Isso tornaria a Quaresma o tempo mais propício para retomar o hábito da confissão? De que outras formas podemos aprofundar a vivência deste tempo litúrgico?
A Páscoa é um tempo em que somos obrigados a fazer a comunhão e a confissão. Portanto, a Quaresma seria o tempo mais propício, efetivamente, para a confissão, visto que a Quaresma tem como tema principal a conversão. E, quando nós falamos em conversão, falamos de uma revisão da nossa vida. E a revisão da nossa vida é a base do exame de consciência. Portanto, a Quaresma seria realmente o tempo mais propício para nós nos confessarmos. Se não for possível confessar durante a Quaresma, temos até 8 dias após a Páscoa para fazer a nossa confissão. Mas, lembrando que é primeiro necessário confessar-se para depois comungar e realizar a nossa Páscoa.
(Foto: cathopic.com)
Como podemos fazer uma boa confissão?
Para fazer uma boa confissão é necessário fazer um bom exame de consciência. E, para fazer um bom exame de consciência, é necessário, antes de tudo, rezar. Colocar-se na presença de Deus, passar algum tempo em silêncio e, em seguida, começar a olhar para nossa vida, ver como estamos vivendo. O exame de consciência se torna mais fácil quando temos o hábito de fazer isso diariamente, à noite, antes de dormir, para pedir perdão a Deus. É importante que nós saibamos primeiramente quais são os pecados mais graves, os pecados veniais, que geralmente são acusados pela nossa própria consciência.
O Catecismo da Igreja Católica nos dá diversos indícios a respeito desses tipos de pecados na parte onde fala sobre a confissão. Então, o exame de consciência é o que há de essencial para a realização de uma boa confissão (sugestões para um bom exame de consciência). Em seguida, rezar a Deus antes de confessar, para que ele nos dê a graça do arrependimento. O arrependimento também é necessário. Não basta contar os nossos pecados, é necessário também arrepender-se de todo o coração e ter o desejo sincero de não mais pecar. Esse desejo vem da nossa vontade. Mesmo que a gente sinta que a nossa atração pelo pecado continua, mas com a nossa vontade, fazemos o propósito de não mais pecar e de se emendar a partir da nossa confissão.
Muitos de nós temos a consciência ou muito escrupulosa, ou insensível. Como ter certeza de que estamos diferenciando corretamente os nossos pecados?
Tanto o escrúpulo quanto a consciência insensível são frutos do orgulho. Porque no escrúpulo, eu me preocupo mais com a minha imagem do que em ter um arrependimento verdadeiro por ter ofendido a Deus. Então, é um amor próprio exagerado. E na consciência insensível, eu me considero muito bom, muito santo, e acho que não tenho pecado nenhum. Então, nos dois casos, trata-se de um ato de orgulho. Para que nós possamos distinguir a nossa verdadeira atitude de arrependimento do escrúpulo ou da consciência insensível, é necessário primeiramente um ato de humildade diante de Deus. Reconhecendo que nós somos pecadores e que nós ofendemos a ele. O principal na confissão é essa consciência de que eu ofendi a Deus, que é o maior de todos os bens e que merece todo o meu amor.
Em seguida, é importante ouvir a voz da nossa consciência. A nossa consciência nos acusa naquilo que realmente nós fizemos e ofendemos a Deus, e não naquilo que simplesmente maculou a nossa própria imagem diante dos nossos olhos. Então é importante esse ato de humildade, essa escuta da consciência. E depois, também, é importante um certo estudo, seja do Catecismo, seja através do conselho de algum sacerdote, que possa nos indicar o que é parte de escrúpulo e o que é realmente pecado, que nós devemos confessar. Eu creio que dessas formas, nós podemos encontrar a maneira correta de confessar, evitando todo escrúpulo e evitando também o esquecimento dos pecados, que é fruto de uma consciência insensível.
(Foto: Marcia Kazumi)
Infelizmente há lugares em que atualmente não está sendo possível confessar-se e mesmo ir à missa. O que o senhor orientaria para essas pessoas?
O Papa Francisco recordou, logo no início da pandemia, no ano passado, uma orientação para situações especiais, presente no Catecismo da Igreja Católica. Lá diz que as pessoas que não podem se confessar – atualmente isso ocorre por causa da pandemia – podem fazer um exame de consciência e ter um propósito, um arrependimento perfeito, detestando o pecado e querendo, fazendo um ato de desejo de realmente confessar-se quando for possível (saiba mais aqui). E para as pessoas que não podem ir à missa, o Santo Padre reconheceu também que a participação da missa através dos meios de comunicação seria igualmente válida através de uma confissão espiritual. Então, neste caso da pandemia, nós temos essas duas soluções.
Mas, em outros casos, ou seja, quando eu posso encontrar padres para me confessar em outros lugares, mesmo que sejam lugares distantes, é importante que a gente possa fazer um esforço de ir em busca da confissão, porque isso também será um sacrifício de expiação dos nossos pecados. Ir em busca da confissão em lugares que a gente sabe que o padre pode nos atender. Como é necessário confessar-se somente uma vez por ano, por mandamento da Igreja, então não será muito difícil ir atrás de um padre que esteja disponível para confessar. Quanto à missa, a mesma coisa. Podemos assistir à Eucaristia através dos meios de comunicação, mas, se há lugares em que a Santa Missa está sendo celebrada, podemos fazer um esforço, nem que seja mensal, para irmos e assistir, participar da Santa Missa pessoalmente.