Mesmos sem conhecer a origem, muitas pessoas seguem essa recomendação antiga da Igreja
Ir. M. Laura Silva – Muitos hão de estranhar a pergunta do título, pois, aparentemente, caiu em completo desuso a proibição de se comer carne na sexta-feira. No entanto, pela legislação atual da Igreja, essa determinação ainda é válida e está em pleno vigor.
Muita gente pergunta por que não se orienta comer carne na sexta-feira e, mesmo sem saber o motivo, segue o hábito de abstinência aprendido na infância. A Igreja Católica recomenda essa privação como forma de lembrar o sacrifício que Jesus fez ao morrer na Cruz.
Abster-se de carne e jejuar na sexta-feira é uma prática tradicional da Igreja e tem argumentos fortes a seu favor. O primeiro deles é que todos os cristãos precisam levar uma vida de ascese (renúncia a algum prazer para alcançar a perfeição espiritual). Esta é uma regra básica da espiritualidade cristã.
O Código de Direito Canônico recomenda que a abstinência de carne deve ser feita em todas as sextas feiras do ano (e não apenas na Sexta-feira Santa) e que também deve ser acompanhada pelo jejum.
Cân. 1250 — Os dias e tempos de penitência na Igreja universal são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.
Cân. 1251 — Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cân. 1252 — Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência
Cân. 1253 — A Conferência episcopal pode determinar mais pormenorizadamente a observância do jejum e da abstinência, e bem assim substituir outras
formas de penitência, sobretudo obras de caridade e exercícios de piedade, no todo ou em parte, pela abstinência ou jejum.
Afinal, por que não pode comer carne na Sexta-feira Santa?
A Igreja não fala mais sobre “obrigação ou proibição”, apenas faz uma “recomendação” de fazer o jejum e não comer carne na sexta-feira ou de escolher outro sacrifício para mostrar a Jesus sua gratidão pelo grande sacrifício que Ele fez para nos salvar.
O motivo é que para os enfermos, o jejum pode não ser possível, ou pensemos também num trabalhador braçal que teria sua saúde prejudicada. A Igreja, como defensora da vida, prima pelo bem da pessoa. O quarto mandamento da Igreja Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja, nesse caso continua sendo cumprido também por aquele que, na impossibilidade de abster-se de carne ou privar-se do alimento, faz outro sacrifício, pois segue o que manda a Mãe Igreja.
Por meio de tal prática é que se pode alcançar, como fruto, a virtude da temperança, definida pelo Catecismo da Igreja Católica como sendo a “virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados”. Ela assegura o “domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade” (1809).
E o jejum…
Historicamente, fazer da sexta-feira um dia penitencial é algo que tem suas raízes na época apostólica. Os Santos Padres também incentivaram esse hábito que acabou se consolidando. Na Idade Média foi instituído como lei aquilo que era somente um costume. E, assim, até o ano de 1983, quando houve a promulgação do novo Código de Direito Canônico, a penitência era obrigatória para todos os cristãos a partir da idade da razão (sete anos). No cânon 1251, lemos que é obrigatório fazer “abstinência de carne ou de outro alimento […] em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com uma solenidade religiosa”. Seguindo o cânon 1253, a CNBB afirma que o fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou ainda trocar a carne por um outro alimento.
O jejum nos ajuda a aprender a renunciar a alguma coisa, nos faz capazes de dizer não a nós mesmos. A renúncia do alimento cria condições para vivermos os valores sobrenaturais.
O jejum não pode ser algo triste, enfadonho, mas uma atividade feliz que nos liberta.
Os Padres da Igreja, como são chamados os influentes teólogos, professores e mestres cristãos da Igreja primitiva, davam grande valor ao jejum. São Pedro Crisólogo diz: “O jejum é paz do corpo, força do espírito e vigor da alma – é o leme da vida humana que governa todo o navio do nosso corpo”.
O jejum purifica, torna a mente mais clara e coloca-nos em contato com a nossa fragilidade humana, leva-nos a pensar que nosso corpo “é pó e em pó se há de tornar”.
O objetivo do jejum é de favorecer a oração e o encontro com Deus, de nos disciplinar e nos abrir à Graça.
Essa atividade não é algo que sobrou de uma prática religiosa dos séculos passados, mas é indispensável ao homem de hoje, aos cristãos do nosso tempo.
Atualmente, a exigência da lei é para aqueles que já completaram 14 anos de idade (não mais a partir dos sete anos, como era no início), até os 60 anos, conforme o cânon 1252 do mesmo Código.
Abster-se de carne e jejuar na sexta-feira é uma ocasião de testemunho e de catequese para outros, tal prazer pode ser uma forma de incutir no próximo o desejo de conhecer o Cristo, por quem se faz sacrifícios.
Por fim, é importante recordar que o costume de se abster de carne na sexta-feira sempre esteve ligado à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. O jejum, portanto, é um meio de nos conscientizar do grande amor de entrega D’Aquele que deu sua vida por nós. Como não recordar na sexta-feira o grande amor que salvou a humanidade?
* Artigo publicado originalmente na Revista Tabor
Só esclarecendo que a abstinência, são em todas as sextas feiras do ano e na quarta-feira de cinzas e o jejum é lei apenas na quarta-feira de cinza e sexta-feira da paixão,lembrando que é um dos 5 mandamentos da Igreja não uma recomendação,portanto um grave pecado contra o 4°mandamento.
Exatamente!! Recebi a mesma orientação que o José está passando no comentário acima!!!!!