A imagem de São José pode ajudar aqueles homens que precisam de um exemplo, para mostrar-lhes o caminho a seguir na vida.
Pe. Marcelo Aravena – Se é verdade que a tradição católica e a arte religiosa nos mostraram um José muitas vezes idoso, sonolento, incapaz de grandes façanhas e sempre em segundo plano, não é menos verdade que as informações bíblicas, em todos os Evangelhos, nos mostram um José muito diferente. Ele se mostra decidido a agir após receber as “mensagens” de Deus em seus sonhos, um homem de fé firme, que não se poupa de esforços para proteger sua família. Ele também está fisicamente pronto para empreender a longa jornada de exílio, trabalhar para sua família e retornar a Nazaré. José nos convence por sua virilidade, fidelidade e resiliência. Ele parece ser muito claro sobre seu papel e responsabilidade como homem, esposo, pai e trabalhador.
Alguns aspectos a destacar
Quero destacar três aspectos da pessoa de José usando, em parte, o conteúdo da Carta Patris Corde – o Coração de Pai – do Papa Francisco (08/12/2020). São os elementos que me parecem ser o olhar mais relevante para o homem de hoje em nossa sociedade. Haveria muitos mais, mas só vou escolher três.
Pai na ternura
“Dia após dia, José via Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52). Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava- se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4). Jesus viu a ternura de Deus em José: «Como um pai se compadece dos filhos, assim o Senhor se compadece dos que O temem» (Sal 103, 13)”.
Creio que este breve parágrafo da carta de Francisco, que fala de ternura, nos mostra esse valor tão humano e urgente para saber como se relacionar com os outros. Humildade, gentileza, bondade, respeito, afeto, mansidão são virtudes que complementam o homem em seus vínculos. Esses, sem dúvida, favorecem a personalidade dos homens, transformando-os em veículos de amor e cordialidade, às vezes tão carentes em nossa sociedade, especialmente em nossas famílias e ambientes de trabalho.
A ternura não é um sinal de fraqueza, pelo contrário, ela mostra segurança e autoconfiança que leva a dar-se aos outros sem segundas intenções. Em outros lugares, o Papa Francisco enfatiza a urgência de construir uma cultura de ternura para favorecer o encontro com os outros e assim desmantelar a anticultura da frieza, da instrumentalização do outro e do egoísmo. O mundo de hoje precisa de homens “ternos”. Ou seja, homens que são fortes em seus afetos: estáveis, firmes, confiáveis e permanentes.
Gostaria também de acrescentar que a ternura abre o caminho para a compaixão e o perdão. O homem moderno precisa pedir perdão e saber como perdoar aos outros. Se este não for o caso, não há reconciliação ou salvação. Neste contexto, basta recordar o Salmo 24/25 que fala da ternura de Deus como o caminho da misericórdia, da justiça e do perdão.
Pai no acolhimento
“José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. «A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus ajudou-o a escolher iluminando o seu discernimento»”.
Este aspecto me parece ser especialmente relevante, porque assume duas realidades muito desafiadoras para vida do homem. Por um lado, aceitar a vontade de Deus em sua vida e, por outro, assumir sua história pessoal como ela vem. Queremos aceitar o divino e o humano presente em nossa biografia. José o faz com humildade, obediência e respeito de modelo por sua realidade. Ele aceita e assume com nobreza o seu destino, os acontecimentos de sua vida. Não faz sentido se rebelar, ficar com raiva ou perder o controle porque as coisas não acontecem como se desejaria. Isso não ajuda, não ajuda a avançar através das vicissitudes da vida. José aceita o plano de Deus e tudo o que ele implica. Isto significa maturidade e responsabilidade, calma sem rigidez. Significa ter uma personalidade reconciliada, tão necessária no homem de hoje.
Pai trabalhador
“Um aspeto que caracteriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho”
O trabalho é um tema básico ao longo da vida de um homem. Ter um emprego é algo que dignifica, dá sentido e nos permite conquistar objetivos temporários. Infelizmente, o trabalho tornou-se algo urgente e o desemprego está em níveis insuportáveis. O trabalho, do ponto de vista da economia da salvação, é a participação no próprio trabalho de salvação, afirma o Papa Francisco nesta Carta Patris Corde, é uma oportunidade para apressar a vinda do Reino, colocando todos os nossos talentos e potencialidades a serviço da sociedade. Um belo pensamento, mas sofremos quando vemos que isso não acontece em todos os lugares.
As crises no mundo se refletem em toda a sua crueldade quando não há trabalho e, portanto, não há pão na mesa das pessoas. Não há alegria, mas angústia. A pessoa, qualquer que seja sua tarefa, está colaborando com Deus na perfeição da criação. Assim, o homem de hoje descobre e realiza sua vocação de construtor de um novo mundo. Esta realidade se tornou muito mais premente neste tempo de pandemia. Precisamos do trabalho para viver com dignidade e para ser mais uma pessoa que cresce em humanidade.
Que São ajude a formar homens novos
Peçamos a São José sua intercessão, como um homem sábio e de fé vital, para que possa intervir na vida dos homens: pais, filhos e esposos, para educá-los e modelá-los segundo seu exemplo. Para que eles não tenham confusão ou dúvidas sobre seu papel na sociedade e no mundo de hoje.
Quero terminar acrescentando uma oração a São José. Não é a tradicional, mas a que o Papa Francisco reza diariamente, especialmente neste momento de crise em que precisamos de um poderoso intercessor:
«Glorioso Patriarca São José, cujo poder consegue tornar possíveis as coisas impossíveis, vinde em minha ajuda nestes momentos de angústia e dificuldade. Tomai sob a vossa proteção as situações tão graves e difíceis que vos confio, para que obtenham uma solução feliz. Meu amado Pai, toda a minha confiança está colocada em Vós. Que não se diga que eu vos invoquei em vão, e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande como o vosso poder. Amém»
Leia a primeira parte deste artigo aqui: