Tempo de compartilhar o peso da cruz de Cristo
Pe. Javier Arteaga – “Começamos o caminho rumo à Pascoa. Nosso peregrinar torna-se mais intenso contemplando, desde já, o Mistério que nos restaurou a Vida, o Mistério de nossa reconciliação com Deus, por meio de Cristo Jesus, que padeceu, morreu e ressuscitou por nossos pecados. Preparamo-nos caminhando, e todo caminhar implica uma partida, uma saída. Como a de Abraão, como as dos profetas, como de qualquer um daqueles que, um dia, lá na Galileia, se puseram em marcha para seguir Jesus” (Card. Jorge Bergoglio, Mensagem da Quaresma de 2007).
A Quaresma é o tempo privilegiado de peregrinação interior rumo Àquele que é a fonte da misericórdia. A peregrinação nos fala de um caminho que tem uma meta, não é um caminhar sem rumo – aqui se firma uma das formas que define o tempo do peregrino. O peregrino sabe para onde vai, vive a esperança da alegria do que dá sentido à sua vida e ao seu caminhar. Manter viva essa busca da vontade de Deus; o desejo de Deus é a fonte da santidade, é um sinal claro da presença do Espírito.
Não peregrinamos sozinhos
Para iniciar este caminho que a Quaresma nos propõe, devemos necessariamente falar de santidade, o seguimento de Cristo, como um chamado e exigência de nossa fé. A imagem do atleta do qual o apóstolo nos fala e a liturgia nos traz explica o significado e a necessidade dos exercícios da Quaresma, quando afirma: “Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançarem uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível” (cf. 1Cor 9, 24-29).
Nesta peregrinação quaresmal, que tem como centro e fortaleza o seguimento de Cristo, não peregrinamos sozinhos; caminhamos com nossos irmãos com os quais convivemos, a quem amamos, gostamos ou ignoramos; com aqueles que com os quais compartilhamos nosso dia a dia. É importante refletir como são nossos vínculos pessoais, quais as relações que geramos, se nosso viver é uma “indicação rumo ao céu”. A respeito, o evangelista São João é muito claro quando afirma: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso, porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (cf. 1Jo 4,20).
Nossa fé não pode se firmar em um diálogo intimista com Deus, mas deve ser um testemunho de um encontro vivo com o Deus da misericórdia manifestado em Jesus Cristo; encontro que gere vínculos fecundos no amor pelos nossos irmãos. Que bom que nos perguntemos, nesta Quaresma, se estamos dispostos a reconhecer nossas fragilidades e pecados, e ter consciência daquelas atitudes que devemos mudar em nossa vida. Não existe “peregrinação interior” sem um ato de humildade e arrependimento que nos permita reconhecer nossas fraquezas para nos dispormos a mudar. Nossa meta quaresmal é o encontro com Cristo, nosso Senhor, nossa Páscoa e nossa Vida.
Um caminho de renovação pessoal e comunitário
No ano de 2014 também peregrinamos como Família de Schoenstatt rumo a 18 de outubro e hoje continuamos caminhando e construindo o novo século. Esse peregrinar é um caminho de renovação pessoal e comunitário; por isso, no marco da Quaresma, é bom que peçamos perdão:
– pelas vezes que não fomos fiéis à Aliança de Amor selada com Maria,
– por nos esquecermos facilmente da palavra empenhada na Aliança,
– por não visitar Maria no Santuário e não ajudá-la em sua missão,
– pelas faltas contra a unidade da Família e contra a fraternidade,
– pelas faltas de generosidade e solidariedade,
– pelas ambições egoístas e jogos de poder,
– por ter distorcido a verdade e a justiça,
– pela mundanidade de nossa fé e de nosso amor.
Jejuamos a partir da solidariedade concreta como manifestação visível da caridade de Cristo em nossa vida.
A Igreja nos propõe este tempo de peregrinação quaresmal para intensificarmos nossa oração, ter gestos de misericórdia e jejuar.
“Jejuamos a partir da solidariedade concreta como manifestação visível da caridade de Cristo em nossa vida. Assim, nosso jejum adquire sentido, gesto profético e ação eficaz… Jejuar é amar” (Card. Bergoglio, Mensagem da Quaresma 2011).
Como ele mesmo disse, em outra Quaresma:
– jejum de palavras que prejudicam – falar mais palavras bondosas
– jejum do egoísmo – ter mais compaixão dos mais necessitados
– jejum de julgar o próximo – descobrir o Cristo que vive neles
– jejum de rupturas – construir vínculos
– jejum de vingança – buscar a reconciliação e o bem
– jejum do pessimismo – colocar mais confiança em Deus
– jejum de palavras vazias – escutar mais a Deus e aos irmãos.
Queridos irmãos na Aliança, que esta Quaresma seja uma boa ocasião para renovarmos a Aliança de Amor com Cristo e Maria e, assim, continuar peregrinando e construindo juntos, no lugar onde estamos, uma Cultura de Aliança.