Deus é Pai, Deus é Bom: Novena pedindo a intercessão da Venerável Ir. M. Emilie Engel
SEXTO DIA
Bondosa compreensão
O escritor russo Fiódor Dostojewski, condenado à morte devido à sua posição política, conta que já havia subido ao palanque para ser fuzilado. Apenas um instante e o mais terrível teria acontecido. Porém, inesperadamente, no último minuto, chega o indulto pelo qual ele recebe o perdão da pena de morte.
Descido da forca, Dostojewski recebia novamente a vida. Porém, agora tinha outra visão de todas as coisas; diante da morte reconhecera o nada e a insignificância das coisas terrenas; cheio de felicidade por ter recebido o perdão, uma coisa se tornava clara e de valor decisivo para ele: a compreensão misericordiosa. E assim, até sua morte – 30 anos mais tarde – ele considerava como missão: anunciar ao mundo que cada pessoa é digna de nosso amor e de nossa misericórdia…
Quem sempre se encontra em faltas graves, assemelha-se a um condenado à morte. Se ele mesmo bebeu a taça do veneno do pecado, ditou sua condenação à morte. No entanto, não deve perder-se para sempre. A misericórdia de Deus, a todo o momento, está disposta a preservá-lo da morte eterna. Deus é Pai e, como tal, está feliz quando pode perdoar e ajudar os homens que, arrependidos e humildes, como uma criança singela, pedem sua graça. Mesmo que este filho se assemelhe ao filho pródigo, que se desviou nos prazeres pecaminosos do mundo, a casa paterna de Deus estará sempre aberta para recebê-lo. Quando sentir amargamente a fome em sua alma e confessar: “Pai, eu pequei…”, se derramará toda a misericórdia amorosa do Pai celestial sobre o filho que encontrou novamente a volta ao lar, à casa paterna. Receberá novamente a graça da filiação como sua “melhor” veste. Pertencerá novamente à grande família da Igreja, poderá participar no banquete sagrado da Eucaristia e estar eternamente junto ao Pai na bem-aventurança do céu.
Quem experimentou sua própria debilidade e culpa e, ao mesmo tempo, a misericórdia de Deus que perdoa, sente-se impulsionado, como Dostojewski, à bondade e à benevolência no relacionamento com o próximo. Este conhece igualmente a miséria da própria natureza e a misericórdia do Pai. Por isso tem profunda compreensão com as faltas e fraquezas dos outros. O que ele mesmo experimentou lhe dá clareza sobre a boa vontade do outro e o transforma no amigo bondoso, interessado em ajudar.
Irmã Emílie possuía numa medida extraordinária esta bondade compreensiva para com tudo e com todos. Valorizava todos, não condenava ninguém, não falava desnecessariamente das faltas e fraquezas do próximo e não se escandalizava com suas limitações humanas. Seu pedido ao Pai: “Faze que o meu querer seja benevolente”, brotava do mais profundo de seu coração e era tão sincero como seu propósito: “Não quero guardar rancor de ninguém, porque peço para mim o amor que perdoa, em tão grande medida”. Sim, Irmã Emílie estava consciente de suas fraquezas, na mais autêntica humildade. Ela se denominava como a “filha aleijada”, como “nada e pecado”. Esta consciência de sua miséria, no entanto, não a oprimia. Abrigou inteiramente a sua incapacidade no seio da misericórdia divina. As pessoas que lhe eram confiadas aprendiam com ela: “Somos filhos da Misericórdia divina, se reconhercemos e confessarmos singelamente nossa debilidade e nos abandonarmos nos braços da misericórdia de Deus”. “Com seu amor paternal Deus nos sustém sobre o abismo de nosso nada”. Quanto mais frágil o instrumento, tanto maior a bondade e misericórdia de Deus.
Compenetrada da compaixão de Deus em sua própria vida, escreveu alguns dias antes de sua morte: “Quero cantar por toda a eternidade o hino de louvor às misericórdias do Pai e da Mãe celestial. Quero ser um holocausto de louvor da misericórdia de Deus”.
Será que Irmã Emílie não desejaria cantar este hino de louvor em nosso tempo? Todos nós carregamos o peso de nossas faltas e culpas. Não conseguimos vencer nossas limitações. Não estará nisto, muitas vezes, a nossa falta de fé na misericórdia de nosso Pai celestial que nos ama, não só apesar, mas justamente por causa de nossas fraquezas, de nossas faltas? Depende muito se conseguimos convencer-nos em todas as situações: “O Pai celestial ama seu filho, não tanto porque foi ou é bom, mas porque Ele é bom!” E ainda: “Sua misericórdia se estende de geração em geração” (Magnificat). Pois, somente as pessoas que não foram quebrantadas por suas próprias debilidades e fraquezas, mas cresceram por elas, com a graça de Deus e a confiança em sua bondade que perdoa, encontraram o segredo de sua própria santidade e do domínio da vida.
Recordemo-nos da misericórdia que nós mesmos, imerecidamente, tantas vezes recebemos. Este olhar para nós mesmos é e sempre será a melhor condição para relacionar-nos com os outros de maneira bondosa e compreensiva. Façamos como nosso Pai celestial: ele e o único que conhece os motivos das quedas de nosso próximo e, apesar de todas as faltas, o ama com imenso amor e quer ajudá-lo, mas não só isso, ele quer ajudá-lo também por intermédio de nós!
Propósito:
Pensemos hoje muitas vezes na imensidão da nossa miséria e na grandeza da misericórdia divina. Isso facilitará a não criticar os outros, a não falar mal de ninguém e nos ajudará a exercitar-nos, como Irmã Emílie, na prática da bondosa compreensão.
“Bondosa compreensão é amor maduro, é o precioso fruto do reconhecimento humilde que sem a Misericórdia divina o homem estaria perdido”. L.F.
ORAÇÃO PARA CADA DIA DA NOVENA
Deus, nosso Pai, confiando filialmente em tua sábia e bondosa Providência, Irmã Emílie trilhou o caminho de sua vida. Mesmo no sofrimento e na insegurança ela pronunciou o “Sim Pai” aos teus desejos e à tua vontade. Desta forma, ela encontrou profundo abrigo em teu coração paternal, em meio a todos os temores e aflições. Nela manifestaste poderosamente teu amor e tua misericórdia.
Eu te peço a canonização de Irmã Emílie para a tua glória, para a honra da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt e para a bênção da humanidade. Por sua intercessão, atende os meus pedidos, assim como corresponde a tua bondosa Providência. Amém.